Pois bem... por que me tornei professor?
Resolvi me tornar professor por acreditar que política não se faz de 4 em 4 anos, nem de 2 em 2, apertando verde-confirma. Política se faz com as opções do dia-a-dia, no cotidiano, conhecendo a realidade e intervindo nela, abrindo mão do "o que quero pra mim" para lutar pelo "o que quero pra nós". Resolvi me tornar professor por posicionamento político. E não me tornei apenas professor de escola, me tornei professor de escola pública, professor de escola pública por posicionamento político! Professor de escola pública por acreditar que a mudança social que nossa sociedade precisa, uma mudança estrutural, acontecerá somente com a conscientização das camadas exploradas da população, a população pobre, que recheiam nossas escolas públicas tão precárias.
Optei pelo ensino público para poder proporcionar, ou pelo menos tentar, uma aula de Educação Física diferenciada, no que diz respeito a cultura corporal de movimento. Os "bons" profissionais são seduzidos pela melhor remuneração de escolas particulares, bem como por instituições de ensino superior, e acabam deixando os "outros" na rede pública, o que acarreta na privação da população pobre e explorada das aulas de qualidade.
Ser professor é acreditar na capacidade de seus alunos, é saber que na idade escolar está em construção os pilares de uma interação sujeito-sociedade, em uma instituição (a escola) fundamental na construção de nossa sociedade, tão contraditória e perversa. Ser professor, e educador, é saber em que tipo de mundo vivemos, que tipo de sociedade vivemos, distingui-la da sociedade que queremos e buscar transformá-la. Sem saber onde está e para onde queremos ir, a docência se torna ferramenta de manutenção do status-quo.
'Consciência de classe' é um termo chave para minha prática, e é ela quem norteia minha prática, por acreditar que posso fazer parte da conscientização enquanto classe, dos filhos dos trabalhadores. 'Consciência de classe' é o que distingue os educadores dos ideólogos, é o que difere os que querem mudança dos que querem mais do mesmo, ainda que os ideólogos não tenham consciência disso, tendo em vista a alienação docente. Optei por trabalhar em escolas públicas por acreditar que a mudança social que almejo não virá das elites, não virá dos colégios que parecem shoping-centers, não virá de pessoas que pagam mil reais na mensalidade do filho, não virá dos que passam férias na Disney e não virá da classe-média. A mudança social que precisamos virá apenas da classe trabalhadora, com a construção de uma consciência de classe trabalhadora, para que conquistemos uma sociedade igualitária, sem classes. E só a classe trabalhadora poderá conquista-la. Assim como José Paulo Netto, me considero um "filho adotivo" da classe trabalhadora, sendo que mesmo não sendo oriundo desta, tenho como foco o rompimento com os interesses mesquinhos e a visão de manter os privilégios que a classe média de maneira geral possui.
Embasado nesse contexto é que cai na escola, trabalhando na categoria com curso superior menor remunerada de todas. A categoria que cuida de 17, DEZESSETEEEE, crianças de 2 e 3 anos que não sabem nem limpar o nariz sozinhas e que quando luta por melhores condições de trabalho toma borrachadas da polícia, assim como qualquer trabalhador que lute.
E é assim, tendo em vista o mesmo referencial teórico, sempre me aprofundando, que pretendo continuar por anos e anos na escola pública, e que eu tenha clareza, assim como desejo para os outros, que se for para um dia virar "rola bola", começar a trabalhar simplesmente por dinheiro, que eu abandone a carreira e tente outra coisa. Se for pela grana, o big brother pode ser uma melhor opção.
E é assim, tendo em vista o mesmo referencial teórico, sempre me aprofundando, que pretendo continuar por anos e anos na escola pública, e que eu tenha clareza, assim como desejo para os outros, que se for para um dia virar "rola bola", começar a trabalhar simplesmente por dinheiro, que eu abandone a carreira e tente outra coisa. Se for pela grana, o big brother pode ser uma melhor opção.