sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Salah e o isaraelense

EI, PERA LÁ, MUITA CALMA, LADRÃO! Tem rolado uma informação/boato de que o atacante egípcio Salah deixaria de jogar no Liverpool se o time contratasse um jogador israelense que vem se destacando não sei aonde para jogar ao seu lado. Isso seria um apoio de Salah à causa Palestina. Vi algumas pessoas se posicionando a favor de Salah e acho que qualquer ponto de vista que problematize o Estado de Israel é bem vindo. No entanto, temos que diferenciar os israelenses do Estado de Israel. Não necessariamente o jogador israelense concorde com o Estado israelense, não necessariamente ele é um sionista. É bem provável que muitos ali concordem com o primeiro ministro Netanyahu e a corrida bélica promovida por lá, com as lições aprendidas com os nazistas e reproduzidas contra os palestinos, mas e os israelenses que se colocam contra isso? Vale dizer que lá existem também organizações comunistas. Assim como tem gente que detesta tudo e todos que venham do Estados Unidos, temos que ter em vista que no centro do capitalismo, no olho do furacão, há também trabalhadores, e alguns desses que se colocam em luta. Os trabalhadores estado-unidenses não são sinônimos do Tio Sam. Eu não sei quais os posicionamentos políticos do atleta israelense, mas é fundamental saber para se posicionar a favor ou contra Salah nessa história.

Armar ou desarmar?

Esse debate se coloca em diversos momentos de maneira dualista, tal como PT x PSDB, tal como Corinthians e Palmeiras. Ser contra a liberação das armas ou a favor da liberação? De um lado o debate liberal que visa apenas o direito do indivíduo em poder meter pipoco nos bandidos que querem roubar seu Uno velho, e por outro os pacifistas que delegam ao Estado burguês a segurança pública, como se a Polícia pudesse nos oferecer algum tipo de segurança. Nós, comunistas, não podemos cair nesse dualismo e precisamos ir além. Precisamos colocar esse debate dentro da ótica da luta de classes.
Antes de levantar qualquer argumento mais elaborado é necessário ter em mente que há um gigantesco lobby da indústria bélica acerca do tema. As ações da Taurus valorizaram 140% nesse ano eleitoral, acompanhando o crescimento de Bolsonaro. Intensificando o comércio de armas, como Bolsonaro pretende fazer, a indústria aumentará seus lucros as custas de muito suor dos trabalhadores. Isso é um ponto.
Um ponto fundamental é: se o debate da liberação das armas vem de encontro ao problema da violência será a presença ou ausência de armas que mudará esse cenário? A violência é oriunda da pauperização de nossa classe, do fetiche da mercadoria, da ausência de direitos básicos como lazer, saúde e educação. Todas essas ausências são problemas intrínsecos à sociedade capitalista e não acabarão enquanto a sociedade for baseada na exploração dos seres humanos por outros seres humanos. Não resolveremos a violência entre as pessoas de nossa própria classe enquanto houver patrões e pessoas que precisam se vender pra ter o que comer.
Um segundo ponto é a tendência desse debate cair no pacifismo. Pensar que violência não leva a nada pode ser muito interessante, para a classe dominante. Sabemos que as revoluções nunca aconteceram - e nem acontecerão - com cirandas ou abraçaços. É necessário pontuar que para a revolução dos trabalhadores acontecer nós teremos de mantê-la nem que seja a força. Nossos inimigos não aceitarão a perda do poder, não aceitarão a nossa revolta, e quando a polícia e seus trogloditas vierem nos reprimir nós teremos que garantir a nossa revolução. Não é não querer ser pacífico, é não poder. É saber que ser pacífico é ser submisso ao massacre que os patrões e seus governos farão contra nós por não aceitarem nosso avanço. Nosso avanço será a perda dos banquetes, a perda das viagens à praias paradisíacas, o fim de nosso trabalho análogo a escravidão, o fim das nossas mais de 40 horas de trabalho semanais, o fim do nosso suor e sangue financiando seus iates e mansões.
Por outro lado, começarmos a nos armar no momento atual, nos preparando para a insurreição é um delírio estilo Dom Quixote. Afirmar que precisaremos nos armar e que temos que ter isso em mente não significa que estamos em um processo revolucionário. Não devemos cair em um discurso de que já temos que nos armar pra ontem, não é isso. Antes é necessário no mínimo a termos fôlego para correr da polícia ou subir e descer meia dúzia de degraus sem ficar ofegante, corremos o risco até de uns malucos quererem pegar em armas pra defender o pelego do Lula. As armas serão necessárias, mas muita calma para não sexualizá-las.
Caindo na tentação das armas, conseguiríamos diferenciar nossa agitação dos liberais? Talvez estivéssemos dando mais forças para os membros de nossa classe que acham que bandido bom é bandido morto, que os nóias devem ser metralhados, entre outras aberrações. Fazer coro com esses é desconsiderar todo processo de empobrecimento já citado acima que os trabalhadores sofrem. Como carregar em nosso movimento o germe da luta armada sem nos juntarmos à estes?
Um outro aspecto é notarmos o discurso socialdemocrata que reivindica a democracia. Aquele valor universal que todos deveríamos ter, aquela que se tornou o horizonte de muito “socialistas”. Se a democracia é o eixo central de nossas lutas, não devemos nos esquecer que em 2005 houve um referendo sobre a questão do armamento e DEMOCRATICAMENTE a população brasileira votou pelo direito de se armar. Não seria Bolsonaro então um verdadeiro democrata?
Pra concluir essa rápida e inicial provocação... Precisamos ter em vista que "paz é coisa de rico". Nós não queremos o piegas "mais amor por favor". Junto com o amor tem que ter o ódio. Amor de classe e ódio de classe. Amor aos nossos camaradas, amor à uma sociedade igualitária e ódio aos exploradores. Ainda que o momento não seja revolucionário, não devemos cair na onda pacifista e nem na do armamento liberal. O Estado burguês nunca fez e nunca fará a nossa segurança. Nossa luta é contra os patrões e seus governos, não devemos nos contentar entre escolher um dentre esses dois lados que se parecem opostos, mas o são apenas na superfície.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Movimentos identitários

A grande diferença entre o movimento negro, movimento feminista e o lgbt+, é um tem relação direta com a luta de classes e os outros não. Um deles nasce no centro da luta dos trabalhadores e os outros com um pé lá e outro cá.
Falar de racismo no Brasil é falar de classes sociais. O primeiro modo de produção brasileiro foi escravagista. Toda uma economia baseada na força de trabalho escrava, pessoas que eram tratadas como propriedade privada, e esse modo de produção durou mais de 300 anos. O modo de produção brasileiro que substituiu o escravagista foi o capitalista, que apesar de superar algumas amarras do modo anterior é carregado de seus elementos. Um desses elementos, um dos principais, é o racismo. O racismo é estrutural no sistema capitalista porque na medida que os negros recebem menores salários, aumenta-se o lucro dos patrões destes. A esmagadora maioria da população negra brasileira é trabalhadora e não patronal. Então, falar de racismo é falar de luta de classes. E se não é, deveria ser.
Mas o movimento feminista difere nessa perspectiva do movimento negro. Falar de machismo não é necessariamente falar de luta de classes. Não apenas as trabalhadoras sofrem dede machismo, mas as burguesas também, não da mesma forma que as mulheres trabalhadores mas também sofrem. Quando a trabalhadora apanha do marido que virou uma garrafa de 51, ela engole o choro, vai buscar os filhos na escola e volta pro trabalho, tendo que seguir e fazer a janta. A burguesa quando apanha do marido vai pra terapia, tira uma semana no spa, e pede pra empregada buscar os burguesinhos na escola. As duas sofrem do machismo em diferentes contextos.
Ao ver a notícia de que centenas de mulheres foram estupradas por João de Deus, não nos importa muito a que classe essas mulheres pertencem para nos indignar. Nenhum ser humano merece passar por isso. Mas é inegável que as mulheres ricas responderão à isso de maneira diferente. Quando a Katia Abreu (guerreira contra o golpe) jogou vinho na cara do Serra confesso ter dado um sorriso de canto de boca. Foi bacana imaginar a cara do Vampiro cheia de sangue. Mas por outro lado seria um absurdo comemorar como o lacre de uma mulher emponderada. E foi um absurdo, pois comemoraram. Katia Abreu, latifundiária, burguesa, possui trabalhadores em condições análogas à escravidão em suas fazendas... é essa mulher que simboliza uma luta? Sim, de uma parte da luta do movimento feminista é, do feminismo que desconsidera a questão de classe.
Katia Abreu, Luiza Trajano, Thatcher, Le Penn, mulheres da família Civita, Frias, Setúbal, Votorantin, e todas as burguesas não merecem sofrer violência pelo simples fato de serem mulheres. Não merecem passar a vida na cozinha, cuidando sozinha dos filhos, serem agredidas, sofrerem estupro, ou qualquer misoginia ou serem estereotipadas. Aprender com o movimento feminista é fundamental para a classe trabalhadora que luta por um mundo sem explorados ou exploradores.
Se há mulheres em nossa classe a luta contra o machismo deve ser uma de nossas trincheiras. No entanto, enquanto o discurso hegemônico diz que as mulheres conquistaram o direito a trabalhar, há uma realidade de muitas que não condiz com esse discurso. Enquanto a algumas mulheres de fato não era permitido o trabalho, para a grande maioria o trabalho era uma necessidade de sobrevivência. Não apenas uma jornada de trabalho, mas várias. Trabalha-se em um trabalho regular, trabalha-se em bicos para complementar renda e trabalha-se em casa com serviços domésticos. Mas para o feminismo acadêmico, para a vertente palatável do movimento, só há o feminismo do não-trabalho. Será esse feminismo que libertará as mulheres da classe trabalhadora de seus algozes?
Evelyn Reed é enfática quanto à isso:
"Dezenas de mulheres participaram da manifestação de Washington, contra a guerra do Vietnã, em novembro de 1969, e depois em maio de 1970. Tinham mais coisas em comum com os militantes homens que marchavam ao seu lado, ou com a senhora Nixon, suas filhas e a esposa do procurador geral, que de suas janelas olhavam com desagrado aquela multidão e viam ali o espectro da uma nova revolução russa? Quem são os melhores aliados das mulheres no combate por sua libertação? As esposas dos banqueiros, dos generais, dos advogados abastados, dos grandes industriais, ou os trabalhadores negros e brancos que lutam por sua própria libertação? Não estarão homens e mulheres, nos dois lados da luta de classes? Se não é assim, a luta deve se voltar contra homens, mais do que contra o sistema capitalista."
Ultimamente a Rede Globo tem inserido constantemente em sua programação as pautas identitárias e as opressões. A noturna Fernanda Lima é a nova liderança junta a seus convidados e Fátima Bernardes faz a lacração matinal tendo Kéfera como a última diva. Nos intervalos, comerciais lacradores surgem há alguns anos buscando ampliar as vendas como se comprando certos produtos estivéssemos lutando contra as opressões, como se existissem empresas com """"responsabilidade social"""". Devemos ficar de olhos abertos aos cavalos de tróia que surgem por todos os lados, do lacre ao lucro em 2 minutos. Quando a família Marinho começa a intensificar um discurso contra as opressões é necessário sabermos o que está vindo por ai. Eles e seus sócios, os que moram em seus condomínios, que viajam junto à eles e são convidados de suas festas, que andam de iate e carro importado, não deixarão de explorar as mulheres trabalhadoras. Eles apenas cooptarão a narrativa de que o inimigo das mulheres são os homens. Que os inimigos dos negros são os brancos. Ainda que esses homens e brancos sejam um desempregado com uma família pra criar ou um morador de rua.
Se no capitalismo o machismo com certeza não acabará, quando nós o derrubarmos também não é a certeza de seu fim, mas sem dúvida se abrirá a possibilidade.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O torcedor de sofá e o militante de facebook.

Um torcedor que se limite a ver os jogos do sofá de casa via televisão, ainda que cante junto e tenha taquicardia ao ver os jogos, não deixa de ser um torcedor de sofá que em nada altera a realidade do jogo. Vive o esporte da maneira mais distante possível, no máximo zombando os colegas no dia seguinte.
Muito diferente dos torcedores que ainda não tenham a última e moderníssima camisa do time, outros frequentam o estádio, apoiam o time quando tem que apoiar, xingam quando tem que xingar, se envolvem com a organizada e influenciam à sua maneira o jogo.
Quando a esquerda -ou os progressistas, tanto faz- se limitam à colocar fotinhos de resistência no facebook, não fazem nada mais do que os torcedores de sofá. Estão apenas torcendo. Quando se organizam em partidos, sindicatos, oposições, grêmio estudantil, centro acadêmico, associação de bairro, etc., aí sim participam da luta, tornam-se sujeitos, e não mais espectadores.
O último período político que vivemos nos ensinou que lutar é igual a votar, e que basta deixarmos com as pessoas certas que elas farão por nós. Terceirizamos as nossas lutas e perdemos o controle, e é por isso que as eleições são a ilusão da classe trabalhadora. E é por isso que desembocamos no Bolsonarismo.

Dizer "eu avisei" quando a alternativa posta é a pelegada social-democrata, seja vermelha ou amarela, é tosco. Se estamos dizendo "eu avisei" é porque nos falta um "vem com nóis". Não temos alternativa consistente à onda direitosa que está posta. Precisamos de uma alternativa. Uma ALTERNATIVA SOCIALISTA.
Não sejamos torcedores de sofá, não sejamos espectadores da política reacionária que a direita e parcela da esquerda tentam nos empurrar goela abaixo.
Nem patrão, nem eleição, nossos direitos virão por nossas mãos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Maria Eunice Paiva

Sabem aquela música que todos vocês conhecem "O bêbado e o equilibrista"? Sabem aquela parte que diz "choram Marias e Clarices no solo do Brasil"?
Pois então, essa música fala sobre o momento de anistia, momento de volta de todos os exilados, de não volta dos executados. O trecho das Marias e Clarices diz respeito à Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, morto na ditadura pelos militares, e à Maria Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, outro morto pelos militares.
Hoje o AI-5 faz 50 anos. Com esse ato institucional os militares endureceram sua ditadura, apertaram o cerco. Passaram a matar mais, torturar mais.
Hoje Maria Eunice Paiva faleceu.
Sofria de Alzheimer. Talvez, por conta da doença, ela não estivesse compreendendo o que vem acontecendo no Brasil nos últimos tempos. Talvez ela não lembrasse mais todo sofrimento que passou. Mas nós lembraremos. Lembraremos de tudo que a ditadura militar fez à nossa classe e será nosso inimigo todos que exaltarem seus trogloditas, Ustras, Fleurys, Curiós, etc.
Descanse em paz, Maria Eunice.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Peão

Eu queria ser um peão
não de rodeio, mas de madeira e barbante
daqueles que são apanhados pela molecada
e descansam na estante

Daqueles que rodam no asfalto e nas calçadas
passam pelo entre-dedos
e pela mão de crianças
ainda não calejadas

quando mal sucedido o rodopio,
bastaria me enrolar
e me lançar novamente
fecharia os meus olhos
e descobriria como um peão se sente

Mas peão de brinquedo a vida não me quis
ainda que eu rode bastante
seja enrolado pelos outros
e sinta o calor do asfalto
o mundão doente não me deu a liberdade
talvez isso seja pensar muito alto

Mas peão eu já sou
só que a labuta não me deixa ser peão de brinquedo
só peão de suor
peão de fábrica
de ir trabalhar cedo

Quem me dera ser
uma simples madeirinha rodante
sem encarregado e sem patrão
sem trabalhar de segunda a sábado
à base de pingado
e nem ter meta de produção
como eu queria rodar e roda e rodar
e ser outro tipo de peão.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Cio da terra

Quem debulha o trigo?
Quem recolhe cada bago do trigo?
Quem forja no trigo o milagre do pão?
São os mesmos que se fartam de pão?

Quem decepa a cana?
Quem recolhe a garapa?
Quem rouba da cana a doçura do mel?
São eles que se lambuzam com esse mesmo mel?

sábado, 1 de dezembro de 2018

Cadeia alimentar

A zebra corre do leão
o orangotango do tigre
o rato do gato
a cobra do gavião
o salmão do urso
o papa-léguas do coiote
a mosca da aranha
a tartaruga do tubarão
o passarinho do caçador
e o trabalhador da polícia