quarta-feira, 29 de junho de 2022

Não podemos esquecer

 Não podemos esquecer que das quase 700 mil mortes por Covid no Brasil muitas seriam evitadas se o governo Bolsonaro tivesse estimulado a população a usar máscaras.

Não podemos esquecer que o governo além de atrapalhar a vacinação tentou levar dinheiro em cima da compra das vacinas.
Não podemos esquecer que dezenas de pessoas em Manaus morreram sufocadas por causa da falta de oxigênio nos hospitais, e que o governo federal foi informado do problema antes dele acontecer.
Não podemos esquecer que o governo federal não queria dar auxilio emergencial para os trabalhadores brasileiros.
Não podemos esquecer também que parte da esquerda brasileira não quis engrossar o "Fora Bolsonaro" porque queria ver ele sangrar para a próxima eleição.
Nossa tarefa imediata é tirar Bolsonaro da presidência, isso está claro. Mas não são apenas as mãos de Bolsonaro e seu curral que estão sujas de sangue.

sábado, 4 de junho de 2022

Vô Ciro e seus livros

 Meu avô materno faleceu em 2007. Foi a primeira pessoa próxima que perdi, com 16 anos. Eu não convivia muito com meu avô, ele morava em Santa Bárba d'Oeste e eu em São Paulo. Acho que o via uma vez a cada trimestre, mais ou menos por ai. Na casa dele não se conversava sobre política -censura imposta pelos adultos depois de uma briga na família muitos anos atrás entre esquerdistas e direitistas, as conversas giravam sempre em torno de futebol. Nos últimos dois anos de vida a coisa que aquele são paulino piracicabano mais falou foi sobre o gol de Mineiro contra o Liverpool, e meu irmão retrucava zombando sobre a qualidade de Edcarlos.

Meu avô tinha muito livros, muitos livros sobre futebol e sobre as duas grandes guerras. Semanas depois dele morrer minha família foi até a casa dele pegar as coisas do velho que os interessavam. Eu não fui. Tinha coisa mais importante para fazer do que pegar coisas dos outros, tinha jogo marcado do time que eu jogava na época, o Macabi. Meu irmão pegou muitos livros sobre futebol, eu não liguei, já que eu não tinha nenhum prazer em ler.
O tempo passou, a terra girou, comecei a ler e meu irmão deixou muitos livros do meu avô na casa dos meus pais. Nos últimos anos, a cada visita aos meus pais eu vou embora com um ou dois desses livros muquiados em minha mochila, livros de futebol. Geralmente são livros que uso como referências bibliográfica para postagens aqui na Futebolchevique.
De alguma forma sinto que converso com o velho Ciro sempre que leio seus livros. Acho que é o mais perto que um ateu pode chegar de um ente querido perdido.
Para os que curtem a página, agradeçam ao meu avô.

Aliança entre pretos e indígenas

 Muitas pessoas sabem que as diversas etnias indígenas dessa terra chamada Brasil foram escravizadas pelos portugueses. Mais pessoas ainda sabem que diversas etnias de africanos foram sequestradas de suas terras e trazidos pra cá para serem escravizados pelos mesmos invasores brancos.


Talvez o que muitos não saibam é que esses dois grandes grupos, que foram considerados sem alma pela Igreja Católica e dignos de serem escravizados, em diversos momentos e localidades lutaram juntos!

Quilombo dos Palmares, um dos maiores quilombos - se não o maior - da história do Brasil, tinha indígenas entre seus membros. Tal união se deu também em lutas na Bahia, como é relatado por Clóvis Moura: "em todas as lutas dos 'índios brabos' contra os bandeirantes havia negros fugidos aliados aos indígenas". O autor de Rebeliões da Senzala afirma que os índios Nogoió, que lutavam contra o domínio dos bandeirantes, eram orientados por escravos fugidos. Era rara a tribo indígena brasileira que escapou de ter contatos com os africanos.

Em um momento em que setores da esquerda tentam setorizar e fracionar as lutas, a história nos mostra que séculos atrás os trabalhadores em movimento já visavam a unidade.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Brasil e Bulgária no vôlei masculino

 No Mundial masculino de vôlei em 2010 a seleção brasileira perdeu de propósito para a Bulgária para não pegar seleções mais fortes na fase seguinte da competição. Apesar do Brasil terminar campeão, muitos críticos acharam a manobra antiética. Outros julgaram ser apenas um recurso a ser utilizado.

Bom, as eleições presidenciais desse ano são mais ou menos isso. Vamos escolher o inimigo que iremos enfrentar nos próximos anos ocupando a cadeira da presidência. Não me parece ser "uma escolha difícil" optar por um miliciano fascista que tem em suas costas o peso de mais de 600 mil mortes ou enfrentar um pelego que dá uma mão à deus e outra ao diabo.
Não estamos escolhendo o novo Messias. Não é um confronto entre aquele que vai dar direitos aos trabalhadores contra o que vai retirar direitos dos trabalhadores. É um confronto entre o que vai retirar menos direitos dos trabalhadores contra o que vai retirar mais direitos dos trabalhadores. Ou seja, independente daquele que for eleito teremos muita luta pela frente.
Não dá pra dizer que Lulalckmin é a mesma coisa que Bolsonaro, apesar de dar pra dizer que Lulalckmin tem elementos comuns com Bolsonaro. Muitos que frequentavam os corredores do planalto nos governos petistas continuaram frequentando os mesmos corredores no governo verde-amarelo. Os dois tem como principal sustentação de suas candidaturas e governos a mesma classe: a burguesia.
Antes que venham alguns emocionados dizer que eu estou fazendo o jogo da direita, eu estou abertamente dizendo que vou apertar 13 pra presidente em outubro. Com uma mão aperto 13 e com outra vou tapar o nariz para não sentir cheiro de merda.
Reivindicar Lulackmin de forma cega, sem críticas, é assinar um cheque em branco. Uma coisa é pedir voto no PT dizendo que vão melhorar a vida dos trabalhadores brasileiros, mistificando as conquistas do primeiro ciclo petista. Outra coisa bem diferente é chamar voto no PT dizendo ser melhor enfrentar o Pelego e o Ladrão de Merenda na presidência do que enfrentar o miliciano fascista. São duas formas de chamar votos com conteúdos totalmente diferentes. A primeira carrega o conteúdo da esquerda patronal, a segunda carrega um conteúdo de independência de classe.
Nada nos é dado, tudo é luta. Luta essa que faremos nos próximos anos independente de quem for o próximo presidente. Dos petistas não podemos dizer a mesma coisa já que eles só sairão às ruas caso o presidente não seja o deles.
Da nossa parte, é melhor perder para a Bulgária.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Gado vermelho

 É um fato que uma nova direita se impulsionou nos protestos de 2013, como MBL e Vem Pra Rua. É também um fato que esses setores foram um forte apoio para o crescimento do bolsonarismo e também para a eleição do presidente miliciano. Agora, dizer que a culpa do crescimento do bolsonarismo é de quem protestou contra o aumento da passagem do ônibus em 2013 ou contra os absurdos da Copa do Mundo em 2014 é de uma canalhice sem tamanho.

Segundo o raciocínio canalha deveríamos ter aceitado bovinamente o aumento do ônibus. Deveríamos ter aceitado a expulsão das famílias de suas casas para que os estádios da Copa tivessem estacionamento e aceitado também uma Lei Geral da Copa que protegia os monopólios e garantia os lucros dos empresários.
Pensando bem, chamar de canalhas é pouco. Nem todo gado é verde-amarelo.

Pingos nos is

 Alguns pingos nos is sobre o papel de Geraldo Alckmin na chapa LulAlckmin são importantes.

Geraldo não está na chapa porque virou socialista ou um "democrata". Geraldo também não está na chapa para conseguir voto do seu amigo trader que pensa que é acionista. O Picolé de Chuchu está na chapa simplesmente para mostra à classe dominante que o PT não guarda rancor sobre o golpe e que não há a menor possibilidade de fazer um ajuste de contas. É preciso mostrar para todos que 2016 é passado.
Geraldo Alckmin é a "Carta ao povo brasileiro" versão 2022. Não é sobre votos, a ideia não é conseguir votos de tucanos ou da direita civilizada. É sobre controle, é sobre compromisso com a burguesia e sua agenda neoliberal.
É sobre isso, e tá tudo bem.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Torcidas organizadas, para além da criminalização e da infantilização

 

Qualquer um que já tenha assistido jogos de futebol presencialmente sabe que a experiência é totalmente diferente quando estão presentes as torcidas organizadas, seja no futebol profissional ou no futebol amador. Com seus batuques, cantos, coreografias e artes visuais, a presença da torcida organizada interfere não somente nos espectadores das partidas, mas no brio dos que estão dentro das quatro linhas.

Se a presença de torcida praticamente transforma um esporte em outro, o que ficou explícito nas partidas televisionadas onde não houve a presença de público nos estádios devido a pandemia, a presença da torcida organizada também transforma o esporte. Futebol sem torcida é uma coisa, futebol com torcida é outra, e futebol com torcida organizada é uma terceira coisa diferente das duas.

Porém, nem só de méritos se faz a realidade das torcidas organizadas. Essas entidades, que a mídia burguesa adora criminalizar buscando atender aos seus interesses privados de classe, dão munição aos seus críticos mais vorazes.

É sabido que as organizadas são entidades plurais com diferenças significativas entre seus membros, com divergências políticas e diferentes condutas. Mas também é sabido que todas elas possuem o seu setor de “pista”, sua linha de frente, que são os que caem na briga com outras torcidas. Essas pessoas são maioria? São diretamente ligadas à direção da torcida organizada? São perguntas pertinentes mas que não alteram a constatação do fenômeno visto de forma geral.

Recentemente a Gaviões da Fiel publicou uma nota questionando a Federação Paulista de Futebol e a Polícia Militar por “marcar e autorizar a realização de dois jogos no mesmo dia, com horários próximos, de duas torcidas organizadas rivais da capital paulista”, já que estas utilizariam a mesma linha de metrô e afirmam que não se responsabilizariam pelos “possíveis confrontos”.

É inegável que a nota é um passo no sentido de impedir brigas, isso deve ser dito. Mas também é perceptível que a organizada busca se desresponsabilizar pelos conflitos que possam acontecer. Apenas a Federação e a Polícia terão responsabilidade caso ocorra qualquer briga? A nota transmite em suas entrelinhas uma concepção viril, até bélica, de torcida organizada. Como se houvesse nos sujeitos um instinto animal intransponível, seres humanos violentos por natureza. Torcedores de futebol não são crianças, embora exista adolescentes entre eles. São adultos que possuem responsabilidades pelos seus atos.

Sim, há um contexto de violência que deve ser considerado. A violência da torcida de futebol é produto de uma violência cotidiana produzida pela burguesia e por seu Estado burguês. Como pontua Milly Lacombe em sua coluna do dia 23/01/22, o transporte público precário é uma violência, a carestia também é uma violência, assim como o abuso sexual sofrido pelas torcedoras, e afirma que se você trata o torcedor como um bicho, ele vai se comportar como um bicho. O poeta alemão Brecht tem um poema bem elucidativo acerca da questão: “do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”.

Conhecer o contexto é fundamental para uma análise correta sobre a violência das torcidas organizadas, só que nos limitando ao contexto não damos conta da totalidade.

Um trabalhador fura uma greve na fábrica pois corre o risco de ser demitido. Compreendemos o contexto que leva o trabalhador a furar a greve e enfraquecer o movimento? Claro. O risco de ficar sem seu ganha pão e ter dificuldades em sustentar a família é iminente. Mas os trabalhadores que estão na greve lutando por melhores salários também correm o mesmo risco. Entender o que leva o fura-greve a fazer o que fez não impossibilita que julguemos errada sua ação. Não responsabilizarmos o trabalhador fura-greve por suas ações é infantilizá-lo, é dizer que ele não tinha outra opção. Até que ponto não estamos infantilizando as torcidas organizadas justificando suas ações pelo contexto em que vivemos?

Possuir uma concepção relativista da violência entre torcidas é desconsiderar que as pessoas que as integram são trabalhadores, sujeitos de uma história que não é dada.

O conflito que permeia nossa vida é a luta de classes. A luta entre os que produzem as riquezas mas que são privados de usufruir das coisas que produzem contra os que se apropriam da riqueza produzidas por outros. A luta contra a retirada de direitos, pela aposentadoria, por um serviço público de qualidade, por um salário digno, etc. A luta de classes é o motor da história, e não a luta entre torcidas. O objetivo histórico da classe trabalhadora não é a ditadura tricolor, alvinegra, ou alviverde, é a ditadura do proletariado.

Na classe trabalhadora há tricolores, corintianos, flamenguistas, palmeirenses, santistas, entre vários outros, e esses compõe a classe trabalhadora. A conquista do poder político deve ser obra da classe unida, já que torcedores de diferentes times não são inimigos. O inimigo é outro.

Como diz a Internacional: “paz entre nós, guerra aos senhores”, ou, parodiando o Manifesto do Partido Comunista: organizadas de todo o Brasil, uni-vos!