terça-feira, 26 de maio de 2020

Charles Muller - futebolchevique



Darmos todos os créditos a Charles Muller pela vinda do futebol pro Brasil é palatável para muitos. Desce na garganta como Danoninho na boca de criança. Mas esse é o tipo de narrativa combatida por Marx em "A ideologia Alemã".
"O sujeito de família rica que foi estudar fora e quando voltou trouxe o futebol para todos nós, o povo brasileiro". Longe de diminuir sua contribuição em nossas terras, a amplitude que o esporte teve na aristocracia brasileira, sobretudo a paulistana. Mas essa linha de raciocínio é como afirmar que a Primeira Guerra só aconteceu por causa da morte de Francisco Ferdinando, como eu aprendi na escola. Ou então que a Inconfidência Mineira aconteceu porque um abençoado dentista chamado Tiradentes resolveu nos libertar das malvadezas do reino.
Há relatos de que o futebol foi jogado no Brasil bem antes de Charles Muller retornar de seus estudos na Inglaterra. Se pensarmos que a Inglaterra, criadora do futebol moderno e principal potência econômica da época, mantinha relações comerciais com grande parte do mundo, não é loucura pensar que marinheiros ingleses e trabalhadores dos portos brasileiros tenham entrado e contato e batido uma bola. No entanto, a prática do esporte teria ficado restrita às regiões litorâneas, pois quando os ingleses iam embora, levavam consigo a bola.
Como diria Brecht:
"O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas"

Flamengo e a maior torcida- futebolchevique

Para os que pensam que o Flamengo possui a maior torcida do país graças a geração de Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Andrade e companhia, na década de 80, a realidade não é essa.
A torcida do Flamengo cresceu vertiginosamente na década de 30, com as transmissões da Rádio Nacional. Era por meio da Rádio Nacional que a propaganda política do governo de Getúlio Vargas chegava aos ouvidos da classe trabalhadora. Tanto o programa "A Hora do Brasil", como toda a programação era coordenada pelo DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda do governo varguista.
Vale lembrar que ninguém menos que Roberto Marinho, dono da Globo, era membro do conselho do DIP. A função do departamento era cuidar da censura da imprensa, rádios e espetáculos.
Junto da ideologia, através da Rádio Nacional chegava também as narrações de Ari Barroso do time do Flamengo e sua estrela, Leônidas da Silva.

Times menores - futebolchevique

Até a década de 80 os times "menores" tinham um espaço bem maior do que tem hoje no cenário nacional. Isso porque os jogadores não pertenciam a agentes, a patrocinadores, nem a eles mesmos.
Tal como o estádio, as bolas e o uniforme, o jogadores pertenciam aos clubes. Dessa maneira o futebol do interior e dos times com menos grana tinha mais força.
Quando os jogadores passaram a poder serem donos do próprio passe, os clubes menores perderam espaço, com as grandes promessas migrando para os grandes clubes.
Assim, contraditoriamente, quando menos direitos tinham os jogadores, mais democrático foi a competição entre os clubes.
Nada de absurdo aqui. Isso nada mais foi do que a necessidade de modernização do futebol aos parâmetros da exploração capitalista.
Se antes do passe livre podemos compará-los aos servos no feudalismo, que eram presos à terra, após o passe livre eles se tornaram trabalhadores modernos aos moldes capitalistas, livres para vender sua força de trabalho.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Elieser - Futebolchevique

Quando comecei minha militância organizada descobri um mundo. Nesse mundo descobri a possibilidade de um outro mundo. Uma das pessoas que muito me ensinaram sobre a possibilidade de um outro mundo, sem explorados e exploradores, era um senhor que era a cara de Eusébio, o pantera negra da seleção de Portugal.
Hoje o camarada Elieser nos deixou. Eu nunca soube se ele jogava como Eusébio ou se era perna de pau. Mas o que conheci desse camarada foi o compromisso com a luta dos trabalhadores, com um sindicalismo combativo e com o socialismo. E que me desculpe o futebol, nesse momento ele pouco importa.
Apesar de não ter presenciado o outro mundo que ele anunciava, tenho a certeza de que quando conquistarmos esse outro mundo, esse outro mundo terá um bocado de Elieser.
Camarada Elieser, PRESENTE!

Como será o futebol no socialismo - futebolchevique



Como será o futebol no socialismo? Se no socialismo os meios de produção estarão nas mãos dos trabalhadores, se a propriedade privada será abolida, como ficarão os clubes?
São respostas que eu não tenho e talvez ninguém tenha, mas podemos aqui fazer alguns rabiscos.
Ninguém ganhará milhões de reais para fazer uma ativida que todos fazem, chutar la pelota. Futebol será prazer.
O futebol será praticado por homens e mulheres que dividirão os times entre camisa e sem camisa, indiscriminadamente.
Será possível jogar futebol antes ou após a jornada de trabalho diária de 5 horas. O faxineiro e jogador de futebol também será membro do conselho que definirá os rumos econômicos de sua comunidade.
Os camarotes das pomposas arenas serão destinadas aos aniversariantes da semana. Esse será o critério e não mais o quanto se pode pagar.
O futebol não será mais meio de ascensão de vida, uma vez que não haverá mais pobreza.
Com o fim da propriedade privada, a FIFA e a CBF serão enterradas. Será o fim do futebol como negócio.
As torcidas organizadas não mais brigarão entre si, a não ser no volume de suas músicas nos estádios. O lema de todas passará a ser "paz entre nós, guerra aos senhores". Elas serão fundamentais na organização dos campeonatos.
O Direito ao futebol será como o direito a educação, moradia, alimentação e saúde. Será um direito real e não lenga lenga do Estado burguês.
Como vai ser nós não sabemos ao certo, mas como não será nós temos certeza.
Futebol e socialismo para todos!

Pequeno-burguês

Sabe qual a distância entre os trabalhadores mais pobres e a pequena-burguesia?
A crise. Essa é a distância entre um e outro. É só ligar a TV em qualquer jornal e ver pequenos burgueses apavorados por terem que fechar seus negócios. O medo que eles têm é o medo de perder seus privilégios, sua migalhas que eles têm a mais do que os trabalhadores que não tem nada a perder.
É na crise que a pequena burguesia descobre que está muito mais longe dos grandes empresários do que de seus funcionários, funcionários que até semanas atrás eles davam ordens.
É na crise que os pequenos empresários não conseguem pagar seus funcionários porque o governo não liberou dinheiro.
Enquanto isso, enquanto os pequenos se ferram, o grande empresariado usa a crise pra aumentar seus lucros.
Sejam bem vindos a luta de classes.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Ódio

A bandeira vermelha te irrita
mas os milhões de desempregados não

Nosso discurso te dá nojo
mas a fome e a miséria não

Você odeia a foice e o martelo
mas agradece a Deus por ter comida e uma colher pra comer
mesmo sem saber forjar uma colher ou plantar

Nossas palavras te causam ódio
saiba que é o mesmo ódio que temos das suas

Você branda contra o comunismo
mas você está certo
pois se vencermos
você perderá

E acredite
você vai perder

1 de maio

O primeiro de maio nos últimos anos foram considerados dias de festa. Sorteio de carros, motos, show do Zezé de Camargo entre outras tosquices. Mas nem sempre foi assim.
A data, há mais de cem anos, era uma data de luta, onde os trabalhadores do mundo todo reivindicavam a redução das horas de trabalho, que chegavam a 16h, 17h por dia. Além disso, pediam também o fim do trabalho infantil. Se hoje a maioria das crianças não trabalham e se a jornada de trabalho é de 8h, foi graças aos trabalhadores que enfrentaram os patrões e governos, com suor e sangue, para conquistar direitos.
Aqui no Brasil, o presidente Artur Bernardes, em 1925 tornou o primeiro de maio, até então dia de luta, em feriado nacional. Uma sacada de mestre. Ao invés de ser um dia de greve, dia de mobilização, a data se tornaria dia de descanso.
Em tempos de pandemia e isolamento, não é possível nem ir nos shows sertanejos com sorteio de carros e nem nas enormes manifestações exigindo direitos, coisas que nossa classe já fez em outros tempos.
Que aproveitemos essa data para pensarmos em nossas prioridades nos próximos anos. Sorteio de motos ou luta por direitos?

Analise de conjuntura - 1 de maio, 2020

Tem um jabuti na árvore. Ele está lá, no aconchego do galho. Acontece que jabuti não sobe em árvores. Alguém o colocou lá em cima. Bolsonaro é o jabuti na árvore.
Alguém colocou Bolsonaro na presidência, mas quem? Não foi o tiozinho reaça do boteco e nem a Dona Neide, vizinha da minha vó que curte o boçal.
Quem o colocou na presidência foi a burguesia organizada. A mesma burguesia que o aplaudiu na Fiesp e vaiou Ciro Gomes na pré campanha, quando ele foi lá abanar o rabinho para o empresariado. Quem botou o jabuti na árvore foram os grandes empresários.
Vale lembrar que esses empresários não foram enganados, não estava desavisados. Sabiam muito bem que apoiavam um machista, racista e homofóbico que elogiava torturadores e saudava a ditadura.
Tal como Bolsonaro, Rodrigo Maia e FHC são representantes dessa burguesia organizada. Ambos são protagonistas nos ataques à classe trabalhadora. Pra citar apenas uma, ambos promoveram reformas de previdência. Acontece que esses dois inimigos de nossa classe participarão da manifestação do primeiro de maio, dia do trabalhador. A CUT e centrais ligadas ao PSOL e PC do B também estarão lá, querendo intensificar a relação com representantes da burguesia. Ou seja, organizações de esquerda querendo a amizade de pessoas que colocaram Bolsonaro no poder.
Nada novo sob o sol da democracia burguesa, com as organizações dos trabalhadores buscando o apoio dos empresários.
A penúltima vez que isso aconteceu houve um golpe, lá em 64, quando o PCB achava que a burguesia nacional era sua aliada. Na última vez o desfecho foi o impeachment de Dilma. Mas a esquerdalha brasileira quer tentar mais uma vez. Deve ser bem triste querer ser amigo de alguém que não quer sua amizade.
Errar é humano, persistir no erro é atestado de pelegagem.
*Apenas duas centrais foram contra a participação dos representantes da burguesia, a Intersindical vermelha e a Conlutas.