domingo, 24 de fevereiro de 2019

Nem aposentadoria e nem bicicleta

Uns anos atrás precisei trabalhar em uma indústria, na linha de produção, coisa que nunca imaginei fazer. Lá conheci uma realidade muito louca, a realidade do trabalhador comum, como é a maior parte da população brasileira. Trabalhar de segunda a sábado igual um camelo pra ganhar 1200 conto. Lá conheci uma porrada de trabalhador com doenças adquiridas por conta do trabalho extremamente repetitivo. Pessoas com 2 meses de serviço já sentindo dores nas mãos por causa do esforço repetitivo até gente com anos de casa que perdeu os movimentos. Me lembro de uma senhora chamada Vera que parecia ter pouco mais de 50 anos e que me disse que gostava muito de ir trabalhar de bicicleta mas que não podia mais. Quando questionei, ela me respondeu que não andava mais de bicicleta pois não tinha mais força nas mãos pra apertar os freios, por conta da lesão adquirida no trabalho.
Assim como ela tem mais gente, milhares, milhões. A lesão dela é o lucro dos empresários donos das fábricas. Exploradores que a mídia vende como sendo gente de "sucesso".
Da mesma maneira que a Vera, uma porrada de trabalhadores lesionados terão que trabalhar até os 62, 65 anos para poderem enfim descansar. A quem interessa a reforma da previdência?
Vera ficou sem bicicleta e vai ficar sem aposentadoria.

Menos com menos dá mais?

Eu tive um professor de matemática que contou em uma aula que teve dificuldade na sua época de escola em entender a questão do "mais com mais dá mais, menos com menos dá menos".
Ele disse que só entendeu a ideia do negócio quando um professor dele explicou que era da seguinte maneira: o amigo do meu amigo é meu amigo; o inimigo do meu amigo é meu inimigo, e inimigo do meu inimigo vira amigo.
O problema é que se a gente começa a trocar por umas pecinhas tipo, a Globo é inimiga do Bolsonaro então a Globo é minha amiga o negócio não dá certo. O Bolsonaro e a família Marinho tem mais é que apodrecerem juntinhos e abraçados.
Os dois brigam e dão piti, falam um do outro, mas tão defendendo a reforma da previdência do mesmo jeito.

Reformas da previdência

O governo do PT foi aceito pela burguesia brasileira pois era o único capaz de amansar os anseios da classe trabalhadora e dialogar com os patrões. Caiu porque perdeu o controle das manifestações em massa desde 2013 e não conseguia implementar as reformas que o patronato necessitava.
O governo Temer veio pra descer o sarrafo, mas conseguiu em partes. Passou a reforma trabalhista e terceirização irrestrita mas não conseguiu passar a reforma da previdência. Por isso foi escrachado por todos na reta final -inclusive pela burguesia e sua caixa de som que é a mídia. Não conseguiu terminar de descer o sarrafo nos trabalhadores.
O Bolsonaro que não era a primeira opção da burguesia nas eleições acabou sendo "o que tinha pra hoje". E eles não titubearam em bajulá-lo ao ver que Alckmin não embalou. Sua missão? Terminar de implementar a reforma que os patrões tanto querem, fazendo os trabalhadores trabalharem por mais tempo para aumentarem seus lucros.
Essa é a missão do Bolsonaro, colocar a reforma da previdência na nossa guela. Depois disso talvez nem os patrões o sustentem mais no governo, pois já será missão cumprida.
E a nossa missão, qual é? Tocar o terror e não aceitar que trabalhemos bovinamente até a morte e nem deixar que resistência se resuma a jogar laranja pro alto no congresso que nem otário.