quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Poema Não sei, só sei que é assim

Meus direitos foram retirados
enquanto eu dormia tranquilamente.
Meu salário diminuiu
no momento em que eu passava o café.
Ao pegar o ônibus,
ouvi rumores de que não teria mais 13º salário.
Depois do almoço,
li no jornal que não teria mais direito a aposentadoria.
Durante a tarde,
o encarregado nos disse que a jornada de trabalho passaria para 12h diárias.
Ao final do expediente
um colega me perguntou "o que fizemos para resistir a tudo isso?", respondi, "nada, ué, o que se há de fazer?".

sábado, 10 de dezembro de 2016

Poema pós-moderno

Temos que nos dar conta
que ainda que eu não receba uma lâmpada na cabeça
que a polícia não me considere um suspeito padrão
que ainda que eu não seja violentado no ônibus
assim como você, tenho calos em minhas mãos
Como você, baterei ponto ao chegar na firma
e apesar das nossas especificidades,
sentaremos lado a lado em nossos postos de trabalho,
sem qualquer lugar de fala
faremos os mesmos movimentos
nosso protagonismo apenas na produção
quando de repente diz o patrão, sorrindo cinicamente,
"vejam que belo, eu assim como vocês, sou cidadão!"
Quando nos dermos conta
que uns tomam lampadadas na rua e outros não
que uns tem o corpo violentado e outros não
que uns tem sua pigmentação criminalizada e outros não
mas que todos nós, os das mãos calejadas, temos o inimigo em comum
aquele mesmo que nos chamou de cidadão
apontaremos pra ele e diremos "revolução!"

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Uma profissão solitária

É as vezes a docência é uma profissão solitária...
Quando você é um dos poucos que não faz oração em suas aulas
quando falamos em Estado laico e somos vistos como quem estivesse com uma melancia no pescoço
Quando não comemoramos assassinatos de crianças com 10 anos de idade que aderiram ao crime, sem se dar conta que essa criança passou ou poderia ter passado em nossas mãos
Quando não deixo que meus alunos brinquem tranquilamente de polícia e ladrão
Quando não sou taxado de "do contra" por me colocar contra o que acho errado
Quando não faço filas de meninos e meninas
Quando nem ao menos os obrigo a andar em filas
Quando acho no mínimo esquisito ser professor de escola pública e colocar os filhos em escolas particulares

Se colocar contra um projeto de educação e se sentir como se falasse à um precipício que não possui nem o eco como resposta é solitário pra cacete, mesmo rodeado de 25 crianças em uma sala superlotada...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Rebaixamento e fim da Portuguesa


O que vos fala frequenta o Canindé desde o momento que não sabia falar "Portuguesa". O que tomei de chuva nesse estádio, acompanhando aos jogos da Portuguesa, é muito maior do que tempo em que fiquei fazendo lições da escola, durante infância e adolescência.

Nesse estádio ouvi histórias de jogadores comoDenner, Enéas, Roberto Dinamite, e sobre tratores enterrados. Lá também pude ver Rodrigo Fabri, Leandro Amaral, Gléguer, Dida, Alex Alves, Capitão, Ricardo Oliveira e vários outros caras bãos jogando pelo meu time, bem como vi Romário, Edmundo, França e Cookie nos destroçarem.

Nesse estádio eu já perdi minha voz, já tomei babada do Sardinha e da rainha da Leões da Fabulosa e já fiquei com medo da cair no fosso, enquanto todo mundo pulava que nem maluco comemorando. Lá comi ums dos melhores bolinhos de bacalhau da minha vida, e caldo verde também!

No Canindé não tem cadeirinhas confortáveis pra bundinha almofadada não. O negócio é cimentão, nada gourmet. É pra quem gosta de futebol e não de selfie.

Só que venderam o meu time. E pra pagarem a dívida do meu time, venderão o meu estádio. Meu estádio será vendido porque não é arena e porque a área dele poderá render e muito aos especuladores imobiliários. Venderam meu time porque ele não é um dos "grandes" que proporcionam milhões e milhões para as multinacionais. Meu time começou a ser vendido a muitos anos atrás, e foi enterrado de vez pelo STJD. Não sabemos quem enterrou e comprou de vez, se foi Fluminense ou Flamengo, mas sabemos que a Portuguesada véia, chupim, sangue-sunga, foi quem vendeu.

Não me lembro de ter chorado tanto na minha vida como chorei na derrota para o Cruzeiro, na semifinal do brasileiro de 98, nem quando tomei um pé na bunda da garota que fui apaixonado. E apesar de já sentir nostalgia do alambrado do escanteio, lugar que eu assistia a todos os jogos com pai, irmãos e primo, não sinto desespero, como em 98. Sinto é apenas uma sensação de lamento, de ter perdido algum ente querido.

O futebol, tratado como mercadoria, como tudo no capitalismo, me tirou todo o tesão do futebol espetáculo. Tudo se compra, tudo se vende. Aproveitemos a várzea enquanto ela existe...

domingo, 11 de setembro de 2016

Meu nome não é Pelego!

Perder os finais de semana para estudar com os companheiros
acordar de madrugada para panfletar nas portas de fábricas
dormir tarde pensando em conspirações
o capital é grande, e forte
mas nós comunistas, não desistimos
Já teve golpe militar
já teve queda do muro
teve fim a primeira experiência socialista
e tivemos o partidos dos trabalhadores se virando contra os trabalhadores
mas mesmo os capitalistas sendo grandes, não nos resignamos
Tivemos companheiros mortos
tivemos e ainda temos companheiros que acreditam na ilusão da social-democracia
e diversos que acham que a luta não vale a pena
eles são grandes, mas ainda sim persistimos
Os capitalistas possuem os meios de produção
possuem o Estado, a democracia e a mídia
possuem até os que se dizem "Comunista do Brasil"
e são tão comunistas quanto moinhos de vento são gigantes
Eles são grandes, mas nós não arredamos pé
"Comunistas? Que anacrônicos" dizem alguns
mas não chamam de anacrônicos a sala superlotada
a cabeça do operário, pela viga amassada
a terceirizada semiescravizada
eles, os capitalistas, existem a tempos, e nós também
Mesmo que eu suma, outros virão
bem como houveram outros antes de mim
e a luta, até que sejamos vitoriosos, não cessará
eles são grandes, mais nóis é ruim!

sábado, 27 de agosto de 2016

Desabafo sobre o dia-dia de um professor.

    Sair na neblina de bicicleta, 6:30 da manhã e sentir suas mãos congelarem não é uma das experiências mais agradáveis que tenho, mas é o primeiro perrengue que passo quase todos os dias da semana para ir para a escola que dou aula no período da manhã. Chegando lá, dou aula para turmas com média de 20 alunos por sala. Se pensarmos que são 20 alunos de 4 e 5 anos, crianças que não sabem nem ao menos amarrar o tênis vemos que a tarefa não é lá muito simples. Salas mais fáceis e salas mais conturbadas todos professores tem, bem como as salas impossíveis. E são essas salas impossíveis, que todos temos, que nos trazem a crise e nos causam reflexões intensas.

   Em uma certa turma do infantil, tenho várias crianças com bastante energia! Não as culpo. Não é culpa delas as salas serem superlotadas e que elas sejam tratadas como linha de produção. Mas mesmo não as culpando nos deparamos com dilemas que estremecem nossas bases. Nessa sala possuem 5 crianças que demandam de MUITA energia do que vos fala pra que consiga promover alguma atividade. Uma dessas crianças é extremamente agressiva e sabendo um pouco do contexto que está inserida descobrimos que o pai batia na mãe, e que possuíam problemas com drogas. Outra dessas crianças não tem pai e ficou extremamente descontrolado tempos atrás no período de dia dos pais. Outra tem os pais se separando e por isso tem ficado mais agressiva. São crianças de 4,5 anos, que não tem culpa nenhuma de terem nascido onde nasceram bem como não tem culpa por serem tratadas como linha de produção. Mas como tocar a aula e colocar em prática toda a crença de uma educação transformado da realidade se nem ao menos consigo promover minhas aulas com essas crianças? O dilema que fica posto é: tirar os capetas da aula e ir deixando-os de castigo para tocar as atividades com as outras 15 ou manter todos na aula e não conseguir fazer nada com os 20? A universidade não me trouxe essas respostas.

    Depois de 4 aulas no período da manhã, pego a bicicleta e me mando pra escola que dou aula no período da tarde. Na quarta feira já é possível sentir a garganta pegando e a rouquidão que está por vir. O cansaço começa a dar um alô, mas o pensamento “tem gente que trabalha em carvoaria, você aguenta umas aulinhas” me faz engolir as inquietações.

     Diferentemente da escola da manhã que fica próxima à região central da cidade, a escola da tarde fica nas quebradas da cidade, e assim, o número de alunos pretos aumenta. Bem como o número de alunos pretos, aumenta também a precariedade do espaço físico em que dou aula. Na primeira metade da tarde dou aula para turmas com a mesma média de 20 alunos e tenho que escolher entre fritar no sol em uma área com grama ou dar aulas em um espaço de 4x10m. Com crianças de 3, 4, 5 anos em uma espaço bem pequeno, elas agem como átomos sob pressão, se agitam a tal ponto de darem cabeçadas umas contra as outras, várias vezes, fazendo forçadamente que as aulas de educação físicas virem aquela coisa bisonha em que todos fiquem sentados esperando a sua vez de fazer as atividades, fazendo com que cada uma faça 2 ou 3 vezes a atividade por aula.

    Hora da merenda. Hora de curtir os preciosos 20 minutos sem ouvir vozes de crianças e tomar a bendita droga que me mantém durante o dia, cafézinho. Começam os papos sobre avon, natura e logo começo a ouvir colega comemorando a morte de crianças de 10 anos morta pela polícia. “Um bandidinho a menos”, disse. Quem acha o congresso conservador, nunca pisou em uma sala dos professores. Prefiro ouvir o choro de uma sala inteira do que ouvir isso.

    Passado esse momento de esgoto no ouvido, volto as aulas. Com a intensidade do sol dando trégua, consigo fazer as atividades na bendita grama, dividindo o espaço com professoras que estão com suas salas nos brinquedos do parque. O medo de ter um dos meus alunos atingido por uma balanço é gigantesco, ainda mais depois de ser ameaçado pela diretora da escola de ser trocado por outro professor (sim, sou professor eventual e não tenho estabilidade alguma no cargo, bem como não recebo décimo terceiro, finais de semana e nem férias e recebo meu sálario só depois de 2 meses da data que trabalhei) caso alguma criança viesse a se machucar em minhas aulas. Deixo bem claro às crianças que não devemos ir pra parte que estão os brinquedos. Os mais velhos compreendem o pedido, mas na última aula, com um maternal 2, crianças de 3 anos, não fui lá muito bem sucedido, então vortemos à área de 4x10m e toca qualquer coisa pra passar o tempo. Depois de uma jornada de trabalho não tenho mais condições de chamar a atenção de criança por criança, então vortemos para a sala. Dando aquelas broncas clichês de respeitar o professor e bla, bla bla, me dou conta que estou puto é com a minha rotina, com minhas condições de trabalho, com a necessidade de trabalhar 30h por semana com crianças, com colegas de trabalho racistas e elitista e que elas não tem culpa disso, com a proposta de reajuste no meu salário de 1%. As crianças tem 3 anos e não tem culpa disso.

    Pego minha bicicleta volto pra casa pensando em começar a planejar minhas aulas deixando as crianças mais soltas, fazendo com que eu me desgaste menos. Começar a dar migué nas aulas? Talvez, com 30h por semana, sendo 29h o máximo permitido, ganhando muito menos que um professor efetivo no cargo não me parece loucura. Mas e a educação libertadora, a educação como instrumento de transformação social, como fica? "Ahh, mas tem gente que trabalha em carvoaria, você aguenta isso" tento pensar e de pronto respondo a mim mesmo "não preciso aguentar porra nenhuma, nem eu e nem os caras da carvoaria!".

    A noite vou pra faculdade, curso Pedagogia. Dentre intermináveis debates sobre o nada e assuntos pertinentes, nenhum professor responde onde fica a educação transformadora na prática diária dos professores, no chão de escola. Nem na Pedagogia nem na Educação Física, já cursada, ninguém me responde como coloco a educação transformadora na realidade totalmente caótica das escolas públicas, sem condições de trabalho alguma. Aliás, como diz um colega de trabalho e amigo, a maioria dos professores universitários que deitam e rolam sobre teorias pedagógicas não aguentam por poucos minutos uma sala com 15 crianças. Talvez se trabalhassem nas meninas dos olhos deles, Colégio Porto Seguro, Escola da Vila, Waldorf, etc, mas o mundo é diferente da ponte pra cá. Para eles o problema é sempre pedagógico, nunca é estrutural. Jogam pro individual o que é coletivo. Colocam como intra-sala o que é extra-sala, falam como temos que fazer, só que falar é beeem mais fácil que fazer.

    Termino o dia com uma cerveja e evocando Chapolin Colorado: Quem poderá nos defender?

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Privatização da universidade, o bonde que já passou.


   Todos que participam de debates sérios sobre educação frequentemente se deparam com termos como "sucateamento" e "precarização" tantos de escolas, quanto de licenciaturas. Nesses mesmos debates, provavelmente e inevitavelmente, esses debates cairão no temido assunto: privatizações

   Em âmbito estadual, vem se falando a tempos de propostas de cobrança de mensalidade nas três estaduais paulistas. Em âmbito federal, nas últimas semanas, esse debate vem esquentando, tendo o novo ministro da educação, Mendonça Filho (DEMO), se colocado a favor da cobrança de mensalidades em cursos de extensão e de pós-graduação. No início desse ano, o senador Marcelo Crivella (PRB) propôs um projeto de lei que cria mensalidade para estudantes das universidades federais. Alexandre Frota ainda não se manifestou sobre o tema.

   Essas movimentações acerva da privatização da educação não ocorrem por mera falta de informações dos que a propõe, não é ingenuidade. São reivindicações que fazem parte de um fenômeno maior. Essas reivindicações fazem parte das tentativas de implementação das políticas neoliberais. De maneira sucinta (mas nem por isso equivocada), o neoliberalismo são políticas que buscam entregar direitos básicos que são supostamente promovidos pelo estado às mãos de empresas privadas. Apegam-se em Adam Smith, na mão invisível do mercado que tudo regularia. Só não avisaram os trabalhadores onde essa mão invisível colocaria seus dedos. As políticas neoliberais ganham força na década de 70, com as ditaduras civil-militar brasileira e chilena, assim como é emblemático a ascensão de Margaret Thatcher como primeira-ministra do Reino Unido.

   Na universidade, o medo da privatização atinge aos três segmentos: funcionários, professores e alunos. O receio pela estabilidade no emprego, o anseio das cobranças pelos que podem vir a ser os patrões/grupos acionistas, a queda na qualidade do ensino, o medo das mensalidades que acarretarão na elitização escancarada do ensino superior.

   Dentro do cabo de guerra que é a "pretensão" de alguns em privatizar as universidades e nós, contrários à mercantilização do conhecimento e à elitização deste, muita coisa se passou e parece que o bonde da história também. Utilizei acima a palavra "pretensão" entre aspas, não por acaso. "Pretensão" de privatizar a universidade, pois talvez ela já tenha ocorrido.

   As faxineiras da universidade já são trabalhadoras terceirizadas. O xerox, terceirizado. Estudantes de Pedagogia almejando trabalhar em escolas privadas. Estudantes de Engenharia Ambiental saindo direto para instituições privadas. Estudantes de Educação Física pegando o diploma e indo direto para clínicas de personal e academias, todas privadas. O grande projeto dos estudantes de Física, produção de polímeros, altamente lucrativos para os empresários. Jonas Contiero, ex diretor do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, vetando da dissertação de mestrado de sua orientanda, conteúdos que são do interesse da empresa que financia suas pesquisas na universidade pública. Órgãos de fomento estatais -FAPESP- que investem apenas no que é rentável, ao que trará lucros.

   Chico Alencar (PSOL) diz que a cobrança de mensalidade nas pós-graduações e extensões representam o início da privatização do sistema público, e Edmilson Rodrigues (PSOL) afirmou que a proposta vai entregar patrimônio científico aos que se alimentam do lucro. Início da privatização? Vai entregar? Será que o bonde já passou e nós ainda estamos na fila pra comprar o bilhete?

   Caso a cobrança de mensalidades não se efetue, a privatização da universidade, a privatização do conhecimento público já ocorre à tempos! De fato, o estado-burguês e toda a sua prestação de serviços públicos servem essencialmente ao setor privado. O direito básico ao transporte, por exemplo. O que é ele se não o direito à levar os trabalhadores para seus postos de trabalho para que possam produzir e serem explorados tranquilamente? Dentro desse direito básico que é o transporte, o direito de ir e vir, quanto lucram as empresas com as licitações nebulosas que raramente possuem seus valores divulgados? Outro exemplo é a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil e a estreita proximidade com as empreiteiras. O conceito que nós temos de público, seu funcionamento, está intrinsecamente ligado ao setor privado, sempre um em detrimento do outro. E é por isso que a discussão entre mais estado ou menos estado é estéril.
 
    Talvez a privatização da universidade já tenha acontecido e nós não percebemos. Talvez ela tenha acontecido em partes e venha a se intensificar. Tanto uma, quanto outra, não é do agrado dos que acreditam que o conhecimento socialmente produzido, com o dinheiro da classe trabalhadora, deva voltar à ela. Esse conhecimento deve estar disponível para a classe que tudo produz, desde as cadeiras até as paredes da universidade. Se o bonde da história passou, a classe trabalhadora tem total capacidade e conhecimento para construir um bonde mais rápido e poder mudar o seu curso. Como disse Che Guevara, "que a universidade se pinte de povo!".


   

terça-feira, 31 de maio de 2016

Celulares em sala de aula, uma falsa polêmica!

Professores do ensino médio e ensino universitário sabem bem o que é competir com os celulares durante suas aulas. Semanas atrás, durante uma aula da faculdade, um professor se queixou dos muitos alunos que deslizavam os dedos pelos visores. Disse que era necessário que pesquisadores analisassem esse "novo fenômeno". Mas será mesmo esse um novo fenômeno? O celular é realmente um problema?
Quando estava no cursinho, durante as aulas de português e inglês, tão interessantes quanto partidas de golfe, eu lia a biografia do João Saldanha, livro que lia à época. Antes disso, durante o colegial, eu passava algumas aulas ouvindo um diskman que eu disfarçava pelo capuz de meu blusão. No ensino fundamental, me lembro de passar aulas e aulas zombando junto de meus amigos uns das mães dos outros. Durante as copas do mundo, que estudante que não julga as figurinhas mais interessantes do que qualquer aula?
Até onde eu saiba, apelido das mães, diskman, João Saldanha e figurinhas, nunca foram considerados problemas pedagógicos dignos de serem estudados. Em cada momento histórico, houveram obstáculos de sua época durante as aulas. Muda-se a coisa, mas persiste o fenômeno.
Mas se o celular não é o problema, onde está o problema então?
Aulas meramente expositivas podem ser o problema. Conteúdos desconexos com a realidade, e sem utilidade para muitos, podem ser o problema. Professores sem didática pode ser o problema. No entanto, limitar os problemas meramente às questões pedagógicas é no mínimo desonesto com os professores. Então vamos além. Veremos que a superlotação das salas de aula é um problema. Colocar 50 pessoas em cubículos é um problema. Tentar ensinar crianças com fome e sem merenda é um problema. Juntar todos os fatos citados acima, sem dúvidas, explica melhor a precariedade de nossa realidade educacional do que culpar um mísero aparelho pelo fato de conter nele joguinhos, batepapos e internet.
Figurinhas, músicas, livros, celulares ou seja o que estiverem fazendo durante a aula que não asssistindo-a, mostram apenas que os que o fazem querem apenas estar em qualquer lugar que não ali, pois se quisessem estar ali, de fato, não estariam apenas de corpo presente.
Ao invés de gastarmos tempo e dinheiro nos inquietando sobre como os celulares atrapalham o andamento da aula, colocando-o como o mais novo empecilho para nossa "maravilhosa" escola/universidade, ver que os problemas são muitos anteriores à invenção deste é um primeiro passo para fugir desse senso comum docente.
*Obs.A biografia do João Saldanha continua sendo mais interessante do que muita aula!

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Doutrinação marxista nas escolas

Durante uma aula para crianças de 4 e 5 anos, ocorre o seguinte diálogo...
-Pessoal, hoje vamos conhecer um pouco mais algumas partes do nosso corpo. Vou entregar um pedacinho de giz pra cada um de vocês pra gente desenhar nossas mãos e nossos pés no chão.
Alguns já haviam observado os gizes inteiros em minha mão, mas foi Iago quem disse primeiro
-Eu quero um giz inteiro!
-Não, Iago, é um pedacinho pra cada.
Alguns segundos depois Iago repete...
-Eu quero um giz inteiro!
O professor que vos fala intervém.
-Gente, olha a quantidade de giz que a gente tem. Se eu entregar um giz inteiro pro Iago terá giz pra todos desenharem?
Silêncio na roda.
-É certo o Iago ficar com um giz inteiro, e a Isabela ficar sem nenhum?
Continua o silêncio...
-É certo uma pessoa ter um montão de coisas e outra não ter nada?
Um uníssono "nãaaaaao" vem das crianças.
Neutralidade não existe e vai ter doutrinação marxista nas escolas siiiiiim, amiguinhos!

É golpe ou não é golpe?

Não, eu não acho certo toda a armação que Cunha e Temer tem feito à Dilma e ao PT. Sim, eu acho que Cunha bolou grande parte do que está acontecendo como revide ao seu nome ter aparecido nas investigações na lava-jato. Sim, também acho o Cunha o que há de mais inescrupuloso na política. É, também acredito que o Temer está sendo extremamente oportunista e que vai dar "novos velhos" rumos à política brasileira.
Mas, se os "golpistas" vão privatizar e isso não pode ser feito, porque fizeram tantas concessões? Concessões de postos e aeroportos?
Se os "golpistas" vão fazer cortes nos direitos trabalhistas, o que foi aquele Plano de Proteção ao Emprego (PPE) que mais se parece Plano de Proteção ao Empresariado? E as reformas trabalhistas e da previdência? Os golpes à classe trabalhadora já não estavam sendo feitos pelo próprio PT?
Mesmo execrando os "golpistas", como defender os "democratas"? Como eu vou chegar à um moleque na favela da maré, no Rio de Janeiro, ocupada pelo exército, e dizer que ele tem que defender a democracia e por isso defender o governo Dilma? Com que cara eu faço isso? Com que cara eu defendo o governo petista pra bolsistas Pibid que não terminarão o ano com suas bolsas pois foram cortadas verbas para a educação? É preciso muita cara de pau!
Os do voto-crítico dizem que não defendem o governo, e sim a democracia. Mas que democracia? O que é democracia? Essa coisa que ninguém sabe o que é e defendem até a morte? "É que você não viveu uma ditadura, você é jovem" dizem os sessentões. Mas então democracia é a soma de voto direto com liberdade de expressão?
Quando me perguntam se eu sou contra ou a favor do impeachment/golpe eu me sinto como aqueles dois garotos de uma cena do filme Cidade de Deus, quando perguntados se querem tomar tiro no pé ou na mão. E tem que escolher, no momento não há outra opção! A diferença é que na vida real essa outra opção há, mesmo falando-se pouco dela. Essa terceira opção está nas organizações de fábrica, nas organizações por locais de estudo, organizações nas escolas, e não escolhendo "um político que não goste por outro que talvez eu venha a gostar", como dizia Saramago.
Podem nos chamar de isentões, de puritanos, chamem do que quiserem. Passado tudo isso, daqui a décadas, eu ficarei tranquilo sabendo que não reivindiquei democracia-burguesa e não somei com fração de burguesia alguma. Nos livros de história não estarei no mesmo grupo que a "democrata" Katia Abreu.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A riqueza das pessoas e das coisas

Nunca fui um cara exotérico. Sempre achei um porre as pessoas que falam a todo momento de energia, de amor, de "good vibes". Pessoas que colocam o ódio como antagônico ao amor. Sempre achei um imenso bla bla bla. No entanto, há alguns lugares que nos provocam sensações tão particulares que aos olhos desavisados podem parecer o mesmo exoterismo que eu não tenho paciência.
Faço boxe a algum tempo em um lugar que anteriormente foi um galpão abandonado da estação de trem de Rio Claro. Hoje o local abriga um projeto social que visa, mais do que formar atletas, ajudar na educação da molecada que o frequenta. Se olharmos pra cima da academia de boxe veremos teias de aranha e um teto sem forro, pra baixo veremos um cimento queimado, nas paredes inúmeras fotos de boxeadores, stencil, e no batente da porta veremos escrito "racistas, fascistas, não passarão!". Nessa academia de boxe acontece sarais e festas acessíveis à todos. Nessa academia de boxe a riqueza está nas pessoas e não nas coisas.
Quem já frequentou estádios de futebol sabe as excentricidades que lhe são próprias. Assistir um jogo pendurado ao alambrado, podendo dar uns xingos no ouvido do bandeirinha e ele ouvir, não ter outra opção que não a arquibancada de cimento para se sentar, poder assistir jogos ao lado do Sardinha ou da Rainha da Leões, são experiências que arena nenhuma proporcionará ao torcedor. As arenas podem ser imponentes como as seculares igrejas, ter um banheiro com cheiro de lavanda e cadeiras personalizadas para cada glúteo, mas jamais será frequentado pelo grosso da torcida de um time. Um ingresso à 100 reais impossibilita o verdadeiro torcedor "curintia" de frequentar os jogos de seu time. Time que se diz do povo. Trabalhador só frequenta arena para trabalhar. Nas arenas a riqueza está nas coisas, não nas pessoas.
Uma vez vi um documentário que mostrava o dia em que pessoas de favelas, ocupações e moradores de rua do Rio de Janeiro resolveram visitar um shopping frequentado por pessoas com grana. Quando os pobres começam a entrar no shopping as lojas começam a se fechar com medo de assaltos, vendedores fazem cara de merda e os seguranças ficam alvoroçados impedindo os indesejados visitantes de passearem. Todos naquele luxuoso shopping ficam com medo do que essas pessoas, quase todos pretos, possam fazer. Nas ocupações e nas favelas, com toda certeza -e ao contrário do shopping- a riqueza está nas pessoas e não nas coisas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Explorados e oprimidos, Marx e Paulo Freire

Paulo Freire é praticamente uma unanimidade no que diz respeito as lutas sociais no Brasil. Se Marx dizia que no capitalismo o sujeito revolucionário é a classe trabalhadora, Paulo Freire dizia que só a luta do oprimido poderá libertá-lo da opressão. 

À primeira vista, os dois estão na mesma linha de pensamento. Mas apenas à primeira vista. Podemos colocar a afirmativa de Marx, formulada através do método materialista histórico-dialético, no mesmo balaio da afirmativa de Paulo Freire? Considerar explorados e oprimidos sinônimos é um equívoco? Será que os movimentos sociais que reivindicam "lugar de fala" e "protagonismo" utilizam de tal método? 

Os movimentos sociais classistas, que utilizam-se do método marxista, partem sempre da questão econômica para avaliar um fenômeno. Seja ele mais abrangente e mundial, seja ele mais específico. Se o que move a humanidade são as relações sociais de produção e suas contradições, devemos analisar todas as contradições a partir das condições materiais, econômicas. A afirmativa de Marx é feita visando romper com nossa sociedade dividida em classes sociais. De todas elas. "Os trabalhadores nada tem a perder com a revolução, apenas seus grilhões". Já a afirmação de Paulo Freire, de que apenas os oprimidos podem libertar-se da opressão, embora pareça aos olhos inocentes a mesma afirmação de Marx, não é. Marx se refere aos explorados, Paulo Freire aos oprimidos, e é necessário diferenciar um do outro.

 Nem todo oprimido é explorado, mas todo explorado é oprimido. A opressão acontece numa aparente super-estrutura. Elitismo, machismo, racismo, lgbttfobia são opressões. Exploração é estrutural, é econômica. Uma mulher rica, um preto rico, um gay rico, são oprimidos, não explorados. Explorados são os que produziram nossa geladeira, fogão, quem limpa os ambientes de trabalho, quem construiu os prédios da cidade. Opressão e exploração possuem relação direta, mesmo que os "pós-modernos" neguem isso, mas não são a mesma coisa.

Tratar de opressão como se não houvesse relação alguma com a exploração de classe é um equívoco gigantesco, isso quando não for tendencioso. Tratar de um sem o outro já foi feito anteriormente na história, quando movimentos sociais de esquerda deixavam as opressões para um segundo plano, terceiro plano, ou para nunca. No entanto, a luta contra opressões, deixando para segundo plano, terceiro plano, ou para nunca, é relativamente recente em nosso cenário.
A luta contra opressões se desvinculou das lutas classistas muito por culpa destas mesmas organizações classistas colocarem essas opressões como menos importantes dentro da -suposta- luta suprema contra o capital. Melhor para o capital. Essa marginalização da demanda contra as opressões resultou em uma atual fragmentação das lutas e que findam em si mesmas. Esse processo se mostra forte tanto no movimento negro, quanto no feminista e lgbtt. Uma frase que simboliza muito bem esse fenômeno de universalização do que não é universal é o emblema feminista:"somos todas irmãs". Analisando essa frase, podemos deduzir que o ser mulher significa um coletivo comum à todas essas oprimidas, e que uma deve se amparar na outra contra as opressões. O perigoso é que essa mulher pode ser tanto Rosa Luxemburgo quanto Katia Abreu. Tanto uma comunista, revolucionária, quanto a senadora, latifundiária e acusada de trabalho escravo que revidou à interpelação machista de José Serra jogando vinho na cara dele.

A fragmentação das lutas contra opressão, sua desvinculação da luta político-econômica, interessa ao capital pois ela pode ser parcialmente cooptada. Basta vermos as recentes propagandas de multinacionais que aparentam se colocar contra a homofobia (boticário), contra o racismo (Coca-cola), e podemos ter clareza de como o mercado coopta essas lutas pra poder aumentar seu lucro. E essa cooptação é parcial, pois é impossível acabarmos com as opressões dentro de um sistema, capitalista, que se beneficia materialmente delas. Seria surreal acreditar que toda luta de Zumbi, Dandara, Malcolm-X e os Panteras Negras fossem apenas para que existam propaganda para cabelos crespos e representatividade.

Partindo de uma visão materialista de organização, esses movimentos sociais sectários, chamados de pós-modernos, possuem um caráter de desconsiderar à exploração de classe e o elitismo de suas demandas. Generalizam os oprimidos como iguais ao mesmo tempo que particularizam suas lutas, isolando-as do contexto econômico, como se a opressão fosse o motor da história.

Não podemos usar o "protagonismo" que Marx coloca aos trabalhadores da mesma maneira que Paulo Freire coloca as opressões. Se em uma opressão considerarmos que "somos todos X", dentro desse X com certeza haverá Rosas Luxemburgo e Katias Abreu. Com certeza Rosa Luxemburgo nunca chamaria Miss Motosserra de Ouro de companheira.

Paulo Freire é um dos principais nomes no que diz respeito a educação de oprimidos e explorados que possuímos. Mas é necessário não colocá-lo no forno e ficarmos requentando-o à todo momento. Questionar quaisquer afirmações seja de quem for é imprescindível para a luta dos trabalhadores e a conquista de uma nova sociedade.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O futebol, as manifestações verde-amarela e os boçais


     Um belo dia durante o recreio da escola enquanto estávamos entre amigos reunidos  no anfiteatro, me lembro muitíssimo bem, semanas antes de um Brasil e Argentina no Morumbi, conversávamos sabe-se lá sobre que assunto quando um amigo de repente sugere, sentado ao longe, a seguinte ideia: "gente, a gente podia ir assistir esse jogo, né???". Ouvi aquela frase como se fosse uma proposta de saque à minha casa, e até mais! Escutei aquilo como quem escutasse a mais sórdida proposta envolvendo algo sagrado, no mais puro significado da palavra "blasfêmia". Aquele convite me incomodou profundamente e eu não sabia dizer o porque, não tinha consciência da razão, e por muito tempo não me lembrei dessa história.

     Esses dias, lembrando do causo, comecei a esmiuçar o acontecido e talvez tenha chegado à algumas bizarras conclusões. Como ousava aquele cara -ainda que mesmo sendo amigo- que não tinha vínculo algum com futebol, que mal saberia dizer o que é um tiro-de-meta, que muito provavelmente iria no estádio pra ficar cantando a lamentável "eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor", fazer uma proposta de ir à um estádio assistir Brasil e Argentina? Quantos jogos de brasileirão e série B ele tinha no histórico? Quantos jogos de paulistão ele assistiu? Quantos dias de chuva ele pegou no estádio vendo a felicidade dos tiozinhos que vendem as capas de chuva sorridentes com a inflação de seu produto? Naquele momento, acredito que inconscientemente, eu desejei que os jogos da seleção fossem como a faculdade. Inconscientemente acreditei que deveria existir um vestibular para entrar nesse Brasil e Argentina, e em todos jogos desse alto escalão do futebol, bem como em Copas do Mundo!

     Esse vestibular seria da seguinte maneira. Como muitos vestibulares, teriam duas fases. A primeira seria os jogos de várzea, o tradicional terrão, que quando chovem ficam todos batendo a chuteira nas paredes para que saia a lama e deixe de escorregar, e onde o empate para o time visitante é sempre uma vitória a se comemorar. A segunda fase seria frequentar por um ano todos os jogos do time, nos tradicionais estádios, pendurado ao alambrado. E é óbvio, que se tem alambrado é estádio e não as grandes, belas e desalmadas arenas. Essa segunda fase aconteceria em um estádio cujo qualquer xingamento ou simples pigarro de cigarro do senhor ao lado pudesse ser ouvido pelo bandeirinha que correria à sua frente. E só depois de passar pelas duas fases, cumpridos os pré-requisitos, é que se poderia ter a ousadia de propôr ir assistir à um Brasil e Argentina.

     É por essas e outras que os jogos de seleção são tão parecidos com as manifestações reacionárias (há quem os chame de coxinhas) que mais parecem carnaval fora de época ou micaretas. Se os jogos do Brasil estão recheados de pessoas que não possuem vínculo algum com futebol, que nunca perderam parte alguma do dedão do pé na rua, nunca jogaram um 'camisa contra sem camisa' e que acham o David Luis o nome perfeito pra zaga, nas manifestações-micareta você ouve "vem pra rua" de quem só passa por ela de caminhonete importada, viveu a infância jogando Playstation trancafiado em condomínios fechados e que desejam o fim dos estádios para que se construam arenas.


     Talvez, se existissem os vestibulares do futebol, os jogos não fossem repletos de espectadores, mas de torcedores, e não veríamos mais os mesmos boçais que frequentam as manifestações verde-amarela nos estádios.






quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O futebol é foda

     Não me lembro da primeira vez que chutei uma bola em minha vida. Também não me lembro da primeira vez que fui a um estádio. Talvez não me lembre pois essas coisas sempre fizeram parte de minha existência, tanto quanto a amamentação ou o reflexo de fechar a mão que os bebês possuem. Mas de uns tempos pra cá minha relação com o futebol mudou, assim como as convicções políticas.

     Quando torço pela Portuguesa, pela seleção, ou simplesmente em minha admiração pelo futebol, me coloco lado a lado com diversas pessoas com posicionamentos que repudio constantemente. Quando estou na bandeirinha de escanteio do Canindé, assistindo ao jogo e Rodrigo Fabri, Leandro Amaral, Ricardo Oliveira ou o craque Domingos fazem um gol, como saber se o cara que está ao meu lado -e que naqueles momentos que só o futebol explica, nos abraçamos- é contra a sociedade de classes? Como saber se o sujeito que sofre junto à você pensa que bandido bom é bandido morto? Como saber se o cara que perde a voz incentivando os mesmos jogadores não é um burguês? Independente da classe, infelizmente, nesse momento somos companheiros e cúmplices das mesmas sensações. Futebol é foda...

     Mas e pior, e quando jogamos juntos no mesmo time!? Seja na várzea, amador, faculdade ou no futebolzinho com os barrigudos, imagina ser parceiro de ataque de um reacionário? Ou de um PM? Dizer: "não vou tocar pra você porque você é um meritocrata, se quer a bola que lute por ela!" talvez não fosse bem aceito pelos parceiros de time. Talvez. Como fazer pra esquecer que o filho da puta do seu parceiro de zaga dá borrachada no seu filho, em você, e até na mãe dele quando ele fizer um gol de voleio na final do campeonato? Pois é, a gente esquece...

     Tem gente que acha bonito, poético, o futebol ter a capacidade de unir as classes que são antagônicas por si só, unir posicionamentos tão conflitantes. Alguns acham nobre o esporte ter a capacidade de trabalhadores partilharem das mesmas aflições que burgueses, em prol de algo supostamente maior. Talvez até eu tenha entrado em contradição diversas vezes, oscilando entre esses dois sentimentos opostos enquanto escrevo esse desabafo. "Aaai que lindo esse esporte!" penso ironicamente. O futebol é foda...