quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Porque me tornei professor 2020

 Porque me tornei professor?

Em 2015, recém formado e já dentro da escola, escrevi um texto descrevendo os motivos de ter ido por esse caminho. Minha ideia era cinco anos depois reescrever algo parecido, contando o porquê de eu ter continuado ou mudado de caminho. Mais de cinco anos se passaram e, com um pouco de atraso, escrevo aqui porque continuo na caminhada nessa mesma trilha.

Porque continuo professor?

Diferente do idealista recém formado de 2015, que imaginava que o ser professor era apenas realizar o trabalho pedagógico com as crianças na perspectiva da consciência de classe, o professor aqui agora tem os pés mais fincados no chão. 

Hoje tenho plena consciência de que a perspectiva de classe é obrigação não só no trabalho pedagógico com os alunos, mas também com os colegas professores, monitores, merendeiras e todos trabalhadores da escola. É inviável acreditar como o jovem professor de anos atrás que a mudança desse mundão vai ser sempre das próximas gerações. Acreditar nisso é jogar toda a responsabilidade que temos nos outros, nos omitindo da luta, afinal, deixa que as crianças quando crescerem que façam algo, não é? É o que resta, ensiná-las a fazer algo no futuro. Nada mais bunda mole e omisso.

Pra além da dimensão pedagógica, é dever de todos que trabalham na escola e que possuam um compromisso com os alunos e com uma relação pedagógica de qualidade olharem para suas condições de trabalho. O estabelecimento de uma relação pedagógica de qualidade só será conquistado indo pra além da dimensão pedagógica do ser professor, mas na dimensão trabalhista de um professor, de um sujeito de classe e pertencente à uma classe, a classe trabalhadora.

Questionar as diretrizes estúpidas que venham da secretaria de educação, se mobilizar com os colegas para discutir questões que os superiores não querem que se discuta, denunciar os conchavos de quem deveria representar os anseios da categoria - como é o caso dos sindicatos pelegos, se organizar e opinar sobre o aumento salarial ou a falta dele, se recusar a lecionar em um teto prestes à desabar... essas são questões que extrapolam a dimensão pedagógica do ser professor mais que são questões imprescindíveis para qualquer professor que pretenda construir uma outra sociabilidade, com outros valores e princípios. Ler livros sobre Pedagogia História-Crítica ou se dizer marxista de nada adianta se a única prática de luta de um professor é cuspir palavras bonitas para os alunos.

Com todas as dificuldades de ser professor, apesar delas, e sobretudo com elas, é que ser professor tem um potencial gigantesco. O potencial de mobilização, um conhecimento de uma rede gigantesca de pessoas, trabalhadores, alunos, pais de alunos, a convivência com o bairro, tanto quanto pela questão intelectual de se manter eternamente estudando, pesquisando, repensando, esse é o motivo pelo qual ainda vale a pena ser professor.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Fundeb e RenovaBr

Felipe Rigoni, deputado do PSB e relator do FUNDEB que quer usar dinheiro público pra enfiar nas escolas privadas e escolas religiosas é uma das crias do RenovaBr.
Esse RenovaBr é uma organização ligada ao Luciano Hulk e outros ricaços pra fazer uma suposta "renovação na política". É assim, com esse discurso fofinho, que eles conseguem eleger gente como a Tabata Amaral, que com uma fala progressista vota pela retirada de direitos dos trabalhadores, como a reforma da previdência.
Esses movimentos do estilo RenovaBr estão fazendo formação não apenas nos partidos de direita, mas também com integrantes do PT, PCdoB, PDT, Rede, PSOL, PSB... ou seja, em todo o campo progressista e conciliador.
Há quem diga que o RenovaBr é o maior partido do Brasil, colocando em pauta ajustes neoliberais tanto em partidos de direita como de esquerda. Há também quem prefira ignorar e ver o que acontece.

Belchior e Adriano - Futebolchevique

Tinha um dom que poucos tinham. Juntava poesia e força, uma habilidade tremenda. Porém, nós, meros mortais, fingimos não entender a renúncia que fez da vida pública, já que ele tinha o que nós não tínhamos e poderia ser o que nós nunca seremos. Somos incapazes de compreender o porquê de abdicar dos privilégios da fama para ter uma vida comum, a vida que temos.
Essa é uma coragem que poucos possuem, seja Belchior, o rapaz latino-americano, ou o Imperador Adriano.

28 de dezembro

Matéria prima - Futebolchevique

A realidade é movida pelas contradições, essa é a lógica do capital. Uma dessas grandes contradições é futebolística.

Um país exportador de matéria prima e que importa quase todos produtos industrializados que consome importou uma matéria prima inglesa, o futebol, e deu seu mais refinado acabamento. Das seis copas realizadas entre 1950 e 1970, o Brasil esteve presente em quatro finais, ganhando três delas. A economia periférica "industrializou" a matéria-prima inglesa.

Mas como é a contradição que move a vida, esse mesmo país que deu o acabamento mais desenvolvido à matéria prima inglesa acabou por se tornar um exportador de jogadores, essa mercadoria que pode ser chamada "pé-de-obra". A exportação de jogadores de futebol ainda na juventude se tornou mais um entre tantos ramos na economia vendedora de matéria prima, e se hoje em dia a relação entre seleção e torcida é quase nula esse processo pode ser a explicação. De onde saiu Firmino? Quem é Douglas Luiz? Quem são essas pessoas que nunca vestiram a camisa do meu time ou do rival?

Dessa maneira, o outrora industrializador de matéria-prima do país industrializado, deixou de ser a expressão mais bem acabada do futebol mundial para deixar seu belo futebol à reboque dos colonizadores. Passou a ser o fornecedor de matéria-prima de sempre e apreciador da Premier League.


9 de dezembro

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Oportunismo eleitoral

 Agora que passou as eleições vamos ver quem são os salvadores da pátria que só aparecerão novamente na próxima eleição e quem são os que continuarão tentando construir algo. Vamos ver quem vai ajudar a construir a próxima Greve Geral, quem vai construir oposições sindicais, quem vai construir o Coletivo de luta da sua categoria, e quem vai sumir no teletransporte eleitoreiro.

É sempre mais fácil acreditar que Rio Claro não elegeu ninguém decente porque é uma cidade conservadora. Mas assumir a culpa de uma militância copa do mundo, de 4 em 4 anos, é assumir uma responsabilidade que muitos não querem.
O tempo escancara quem tem um projeto individual e oportunista dos que tem uma proposta coletiva de mobilização e avanço das lutas dos trabalhadores. Quem é de luta não corre atrás de uma urna como o cachorro corre atrás do rabo.

16 de novembro de 2020

Tempos de merda

 Há uns 60 anos atrás a palavra de ordem dos Panteras Pretas era "All power to the people!". Eis que a gente em 2020 regride a tal ponto que a palavra de ordem vira "Black lives matter". Ou seja, não queremos mais poder, queremos só nos manter vivos. Parece pouca diferença, mas não é.

Essa mudança coincide com as que sofreram os outrora movimentos revolucionários que reivindicavam o fim da exploração e que hoje em dia se limitam a pedir um pouquinho menos de desigualdade, um pouquinho menos miséria.
Andamos pra trás e a perspectiva é que continue assim. Tempos de merda. 20 de novembro de 2020

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Brizola e Darcy

 Ao falar hoje em dia de Brizola e Darci Ribeiro as pessoas associam diretamente ao Brizola carregando um fuzil em nome da constitucionalidade e ao Darci Ribeiro do livro "o Povo Brasileiro". Apesar das qualidades dos dois, não devemos nos esquecer de suas mancadas, mancadas essas que talvez não os façam "revirar no túmulo" ao ver o PDT de hoje, como muitos gostam de afirmar.

Darci Ribeiro foi um dos senadores que ajudou a esvaziar e desfigurar a LDB construída a partir de mais de 30 organizações científicas, políticas e sindicais, congregadas no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública. O que Darci fez ali enquanto senador foi deturpar a proposta de LDB dos educadores para colocar uma em consonância com a proposta de desregulamentação, de descentralização e de privatização e compatível com o Estado Mínimo, que era o projeto FHC da época.
Já Leonel Brizola, que durante as eleições de 89 bravejou e denunciou Fernando Collor, acusando-o (do que depois viria a público) de ser "expressão do conluio do crime organizado com a contravenção" e de se dar "de braços abertos com a criminalidade, acobertada com o tráfico de drogas." Esse mesmo Brizola que fez essas acusações em campanha, quando estouraram as acusações contra Collor em 92, recua e afirma: "Este ambiente de histeria só serve para desdobramentos incontroláveis e inconvenientes para a isenção e para se fazer justiça".
Talvez o clima de histeria tenha colocado o PT como novo carro chefe da esquerda, alçando Lula como principal referência e futuro candidato e deixando ele, Brizola, que seria o natural representante, de escanteio. É possível que essa seja uma explicação para a mudança de postura do até então defensor aguerrido pela legalidade, as ambições pessoais.
Vale lembrar também que desde 1989 o PDT é integrante brasileiro da II Internacional, ou seja, da Internacional Socialista. O que por si só já diz muita coisa sobre suas práticas.
Sabendo disso, ter colocado Kátia Abreu, a latifundiária acusada de trabalho escravo, para ser candidata a vice presidente na última eleição não seja tão incoerente assim.
Talvez Brizola e Darci estejam extremamente tranquilos em seus túmulos.

domingo, 27 de setembro de 2020

ONU e a reabertura das escolas

 Segundo a ONU, o fechamento das escolas impede que crianças tenham acesso a alimentação de qualidade, bem como dificulta a vida dos pais que saem para trabalhar e também expõe as crianças à violência doméstica.

Para a ONU, mostrado ontem no Jornal Nacional, a educação é o maior motor da redução de desigualdades e o fechamento das escolas põe em risco décadas de progresso, agravando as desigualdades. Para eles o problema não é a miséria que agrava as desigualdades, não é a retirada de direitos e também não é o capitalismo que faz com que bilionários fiquem mais ricos durante a pandemia enquanto os mais pobres agonizam à espera de um auxílio emergencial. Para a Organização das Nações Unidas são as escolas fechadas que fazem isso.

Não importa aprender conteúdos científicos, se apropriar do saber historicamente sistematizado, nada disso. A escola serve para comer, para fugir da violência e para a família poder trabalhar. Esse é o lugar do "motor da redução de desigualdades". Uma mistura de bom-prato com depósito de crianças.

O sonho deles é ver professores que se sujeitem andar 20km, nadar 10km, correr de onça e de tiro, para poder entregar as tarefas de casa impressas na sua casa, gastando tinta de sua própria impressora, para fingir que o aluno está aprendendo alguma coisa. E o professor no fim do dia, com depressão, sem tinta, movido à rivotril e com um salário de merda, ficar feliz em ver seu rostinho no Jornal Nacional.

Afinal, ao ver o aluno fingindo que aprende enquanto nós fingimos que ensinamos, tudo vale a pena, não é?


5 de agosto

Pedagogia Vampeta

 Vampeta quando jogava no Flamengo ficou sem receber e então fingia que estava machucado pra não jogar. "O Flamengo finge que paga e eu finjo que jogo" ele disse na época.

Os professores de Rio Claro estão caminhando pra aceitar o ensino remoto nas escolas, as atividades migué logo logo começarão. Os professores vão fingir que ensinam, os alunos vão fingir que aprendem, e todos ficarão com a falsa sensação de dever cumprido.

Nem pedagogia escolanovista, nem pedagogia tradicional e nem pedagogia histórico-crítica. A moda agora é a pedagogia Vampeta!

11 de setembro - futebolchevique

 Hoje é 11 de setembro, dia do maior atentado já realizado nessa bola chamada planeta Terra.

Foi no 11 de setembro de 1973 que o Palácio la Moneda, casa presidencial chilena, foi bombardeado por golpistas fantoches dos EUA. Esse foi mais um movimento da partida de xadrez chamada Guerra Fria que atingia a América latina.

No golpe de 73, o exército chileno usou o estádio nacional para torturar militantes e aliados da Unidade Popular, frente de apoio a Salvador Allende.

O golpe no Chile, ao derrubar um presidente socialista eleito democraticamente e com propostas claras de cunho socialista, nos ensinou que socialismo não se conquista nas urnas, mas na força. Os patrões e seus Estados não permitirão a ascensão do socialismo dentro de seu terreno.

Infelizmente Allende descobriu isso tarde demais. Erro aprendido, fica o legado de sua coragem.

Neymar e racismo

 Anos atrás, quando Serra foi machista com a Kátia Abreu e ela revidou jogando vinho na cara dele, deve ter sido um momento maravilhoso de se assistir. Digo isso porque eu gosto da miss-motoserra? De maneira alguma. Eu quero que essa latifundiária se foda. Mas que se foda por ser burguesa e exploradora, não por ser mulher.

Na mesma lógica, não é possível passar pano pro racismo que Neymar sofreu só porque ele é um otário. Ele ser um otário e ele sofrer racismo são coisas distintas. Eu quero que ele se foda por apoiar a direita, mas ainda sim sou contra qualquer ato racista contra ele.

Katia Abreu e Neymar tem contas a pagar, nenhuma delas é por ser mulher e nem por ser preto.

De onde surge o bolsonarismo?

 O bolsonarismo não surgiu de repente, ele não veio de geração espontânea e muitos menos da mera cabeça mirabolante de uma família fascista.

O bolsonarismo se explica com dois fatores:
1- a necessidade da burguesia em recuperar suas taxas de lucro através da retirada de direitos da classe trabalhadora. Lembrem-se que a Dilma tentou fazer reforminhas da previdência e trabalhista mas não eram como os patrões queriam. Temer conseguiu passar a reforma trabalhista mas não a da previdência. Bolsonaro foi apoiado pelas elites para enfiar na goela da classe trabalhadora todas as reformas que os patrões julgassem necessárias. Até o momento vem obtendo sucesso.

2- o segundo fator que explica o bolsonarismo é o processo pedagógico que a classe trabalhadora passou nas últimas décadas. As organizações dos trabalhadores ensinaram nossa classe que bastava votar que os eleitos fariam por nós. Não é a atoa que a principal central sindical do Brasil, a CUT, abafava greves no período Lula e esse foi o momento de menor número de greve de nossas história. "Deixa o homem trabalhar", lembram disso?

A necessidade dos patrões somada com o processo deseducativo que a classe sofreu nas últimas décadas foram a mistura perfeita que explicam onde estamos hoje. A gente tá mais ou menos como naquele funk, com o "direito de sentar, de rebolar, de quicar e ficar caladinho."

Mas segundo uma esquerda em que se misturam os enganados com enganadores, a saída está nas eleições.

Sem pânico, as coisas ainda vão piorar.

sábado, 20 de junho de 2020

A esquerda fora do baralho


Há mais de cem anos, desde o início do século passado, o Brasil passou por inúmeras crises e períodos de efervescência. Em todos esses momentos os trabalhadores e suas organizações de esquerda se colocaram como forças determinantes.
Greve geral de 1917 e ocupação de São Paulo, tenentismo e a Coluna Prestes, luta contra o integralismo, ascensão do sindicalismo e dos movimentos populares, criação das ligas camponesas, guerrilha e luta armada, ressurgimento do sindicalismo e do movimento de luta pela terra, criação da CUT e do PT.
Em todos os momentos em que o negócio esquentou no cenário brasileiro a esquerda tinha algum representante entre as forças atuantes, sejam eles mais reformistas ou revolucionários, em todos. Todos até agora.
Vivemos agora uma situação inédita nos últimos 130 anos. Pela primeira vez a esquerda, seja ela pelega ou combativa, não é força relevante no conflito. A esquerda está a reboque, sendo conduzida pelos defensores da operação lava-jato, Globo, Rodrigo Maia e toda a fração da burguesia que estes representam.
As organizações de esquerda após entrarem de cabeça nas instituições burguesas, acabaram se escondendo atrás das forças protagonistas, a extrema direita fascista e a direita lavajatista, que se estapeiam abertamente.
Se isso é uma crise de identidade das organizações de esquerda eu não sei, mas se não é deveria ser.

Futebol e luta de classes

A luta de classes é o motor da história. Um velho amigo me dizia que a história da humanidade é a história da luta de classes. Servos e senhores feudais, escravos e donos de terras, proletariados e patrões.

Nos dias de hoje a luta de classes é facilmente identificada nos serviços privados. Um exemplo claro disso são os trabalhadores de uma fábrica lutando por um salário maior, diminuindo a fatia do lucro do patrão. Essa é uma entre tantas outras formas em que se expressam a luta de classes.

Mas ela não se limita às fábricas. Onde há trabalho, onde há trabalhadores, há luta de classes. A luta de classes está nas fábricas, mas também nas escolas, na música, nas casas e também no futebol.

Por mais que babacas como Caio Ribeiro e Tiago Leifert digam que futebol e política não devam se misturar, essa relação não é uma escolha. Ela já está dada.

De que forma a luta de classes se apresenta no futebol? De diversas maneiras.

Uma delas é na concepção de que o futebol só deve ser assistido por quem pode pagar. Esse é o precesso de elitização dos estádios, onde é notável que os espectadores embranqueceram e se gourmetizaram. A população pobre foi excluída dos estádios por não poder pagar os caros ingressos. Não precisa ser nenhum gênio da sociologia pra saber que dentro desse debate tem a questão do racismo que inevitavelmente tornou os torcedores presente em sua grande maioria brancos. Esse é uma maneira em que se expressa a luta de classes no futebol. O direito a apreciar o esporte.

Há também uma forma mais clássica onde se expressa a luta de classes. Quanto ganham os roupeiros dos clubes? Quanto ganham as faxineiras? As cozinheiras? Os jardineiros? Ganham o mesmo tanto que os diretores ou que alguns célebres jogadores?

Assim como no teatro há o pessoal que trabalha no contrarregra, o futebol tem os seus. Aqueles que são fundamentais mas que não dão entrevistas depois do jogo. Sem eles não há uniformes, a grama não estaria cortada, o uniforme não estaria limpo, os jogadores não seriam transportados, etc. Esses trabalhadores são tão fundamentais quanto jogadores e dirigentes, mas recebem muito menos.

Quando Cristiano Ronaldo se transferiu para a Juventus de Turim por um valor astronômico de 447 milhões de reais, pago pela mesma família que é dona da Fiat e da Juventus, os trabalhadores da Fiat ameaçaram entrar em greve. Como os patrões daquela empresa teriam dinheiro pro Cristiano Ronaldo mas não para seus salários? Aqui a luta pelos salários não era de trabalhadores ligados ao futebol, mas sem dúvidas o lucro dos patrões desses empregados está relacionado ao esporte.

Quando em 2014 alguns movimentos da esquerda cantavam "não vai ter copa", questionando o valor absurdo gasto com os estádios, os despejos da população pobre e a farra das empreiteiras - que depois viria a tona, a direita e inclusive uma esquerda pelega davam risada. Nunca antes na história desse país os patrões da construção civil lucraram tanto. Lucraram com o suor dos trabalhadores, como sempre.

A luta de classes está também na disputa pela história do futebol. A posição de não assumir uma narrativa eurocêntrica que atribui toda existência do futebol brasileiro exclusivamente a Charles Muller é uma posição política. Assim como relembrar que seu passado é aristocrático e segregador, onde os pobres e negros não podiam jogar futebol nos clubes, pois os clubes eram só para ricos. Quando se esconder os fatos é habitual, a história se torna um campo de disputa.

Até mesmo nos campos de várzea ou futebol amador, esses que são praticados por trabalhadores nos finais de semana. Os campos de futebol são cada vez mais raros. A especulação imobiliária vê nesses campos a possibilidade de ganhar muito dinheiro construindo prédios. Para nós é a oportunidade de jogar, para eles é oportunidade de lucrar.

Luta de classes e futebol são tão ligados quanto o pé e a bola. Como em qualquer outro lugar em que a luta se expressa, é disputa, é conflito. Conflito inconciliável entre classes antagônicas, entre patrões e trabalhadores.

Negar isso já mostra o lado da trincheira que se ocupa. Do nosso lado da trincheira cabem torcedores de todos os times, todas as cores. Só não cabem reacionários.

Nem guerra entre torcidas, nem paz entre as classes!

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Movimento Negro da Globo


Os repórteres da GloboNews cobrem as manifestações contra o racismo nos EUA na íntegra. Informam que hoje é o oitavo dia seguido de passeatas e ressaltam com um tesão de encher a boca quando dizem que ela é pacífica. Pontuam que alguns, uma minoria, adere ao quebra quebra em certo momento e que assim deslegitimam o movimento.
Nessas matérias eles também dizem que os manifestantes marcham por 4h, 5h ininterruptas.
Sem dúvida essas marchas são uma demonstração de força da luta antiracista. Mas apenas demonstração, simples amostra da capacidade que essa pauta pode ter. Se limitar a essa demonstração pode ser inútil. Não é poder de fato. O Trump e toda polícia racista dos EUA podem assistir tranquilamente essas manifestações por semanas, meses, sem mudar absolutamente nada a situação dos negros no país. O mesmo policial que abraça um manifestante hoje tem grandes chances de atirar nele amanhã.
Aliás, uma repórter de rua diz que a palavra de ordem mais radical que há nas manifestações é a que acusa a polícia de ser racista. Muito distante do "todo poder para o povo" dos tempos de Panteras Negras e que poderoso nenhum tinha simpatia.
O que incomoda é o que transforma, o que incomoda é a força sendo exercida de fato.
A história nos ensina algumas lições. Martin Luther King quando foi morto, em Memphis, estava na cidade para acompanhar a greve de trabalhadores sanitários, trabalhadores em sua maioria negros que não estavam recebendo seus salários. Ainda que o Pastor tivesse feito marchas em sua caminhada, sabia que o apoio as greves de trabalhadores negros era fundamental. Marchar era importante, mas não bastava.
Assim como Malcolm X e Steve Bikko já disseram, existe uma inseparável ligação entre capitalismo e racismo, que só será quebrada com protestos e ações que incomodem. Greves, piquetes, quebra quebra, ações que não emocionem os toscos repórteres liberais da GloboNews.

Entre o racismo e o movimento negro liberal

A primeira classe trabalhadora desse país foi de trabalhadores escravizados. Essas pessoas não vieram porque quiseram, vieram sequestrados da África para serem explorados pelos colonizadores brancos.
Isso significa que grande parte da classe trabalhadora é composta por pretos por herança da escravidão. Esse é o racismo estrutural, é o racismo servindo para aumentar a extração de mais valia e aumentar o lucro dos patrões.
A luta antirracista não é secundária, não é menor do que a luta de classes. Ela é intrínseca! Desconsiderar isso como parte da esquerda faz, além de ser burrice é racismo.
Por outro lado, colocar o debate racial acima da perspectiva de classe, taxando o movimento dos trabalhadores de "eurocêntrico", abre caminhos perigosos para a luta dos trabalhadores pretos. Mais os ilude do que os emancipa.
Não é possível ver com bons olhos grupos que exaltem o representante do imperialismo lacrador, Barack Obama. Embora a representatividade seja importante, não é possível em nome dela passar pano pra quem fuzila crianças em busca de petróleo. Além do mais se tratando de crianças negras, uma vez que os EUA sob comando de Obama bombardearam dois países africanos, a Líbia e a Somália - entre muitos outros.
Se em nossa classe há mulheres, nós seremos contra o machismo! Se em nossa classe há pretos, nós seremos contra o racismo!
Mas de maneira alguma iremos nos aliar com a latifundiária Kátia Abreu ou ao presidente da Fundação Palmares que apesar de ser preto destila ódio contra o próprio movimento.
Um movimento negro que reivindica o empreendedorismo, que busca o direito de explorar os próprios pretos, esse é contrário a libertação dos trabalhadores.
Se o patrão é homem ou mulher, se esse é negro ou branco, não nos interessa.
Nem racismo, nem exploração! Paz entre nós, guerra ao patrão!

Escola, pandemia e luta de classes

A luta de classes é o motor da história. Um velho amigo me dizia que a história da humanidade é a história da luta de classes. Servos e senhores feudais, escravos e donos de terras, proletariados e patrões.

Nos dias de hoje a luta de classes é facilmente identificada nos serviços privados. Um exemplo claro disso são os trabalhadores de uma fábrica lutando por um salário maior, diminuindo a fatia do lucro do patrão. Essa é uma entre tantas outras formas em que se expressam a luta de classes. Mas ela não se limita às fábricas. Onde há trabalho, onde há trabalhadores, há luta de classes. A luta de classes está nas fábricas, mas também no futebol, na música, nas casas e também nas escolas.

A luta de classes está na escola em duas dimensões. Uma delas é a pedagógica.

É na escola pública que os filhos dos trabalhadores passam por anos de suas vidas. Por horas e horas, cinco dias na semana. Lá eles aprendem a narrativa dos que invadiram, estupraram e mataram como se fossem conquistadores. Aprendem a não aprender muita coisa, aprendem a obedecer e não questionar.

Essa dimensão se refere ao currículo, aos conteúdos, no trato com os alunos. É na especificidade do trabalho pedagógico. Quando ensinamos que o Brasil foi invadido e não descoberto, ao respeitarmos os pais que não vão a reunião de pais pois estão trabalhando, ao optar abordar os conteúdos sob a ótica dos explorados e oprimidos e não dos exploradores e opressores. Essa é a dimensão pedagógica da luta de classes.

Mas há uma outra dimensão da luta de classes na escola que não é específica dos professores. É a dimensão de trabalhador assalariado, a dimensão trabalhista, que é comum à todos outros trabalhadores. Esse trabalhador assalariado se depara com diversos problemas. Seu cotidiano é de baixos salários, salas superlotadas, falta de estrutura física, assédio moral. É lidar com superiores que defendem os ataques do Estado, seja em âmbito federal, estadual ou municipal. Superiores que passam pano para a retirada de direitos e abafam qualquer forma de resistência.

Os trabalhadores da Educação pública possuem condições precárias de trabalho ao mesmo tempo em que seus empregadores dão isenção de impostos para empresas, superfaturam contratos, fazem obras sem necessidade, apenas para benefício das empresas contratadas. Para as escolas a contingência, para os empresários a fartura.

No âmbito das escolas privadas a dimensão trabalhista da luta de classes na escola é mais escancarada. A busca de melhores condições de trabalho é assombrada pelo fantasma da demissão. Nas escolas privadas qualquer exigência por melhores salarios é em detrimento do lucro dos empresários da Educação. A mobilização aqui é um cabo de guerra contra a mais valia pedagógica.

Mas porque os professores insistem em considerar apenas a dimensão pedagógica e fingem não ver a dimensão trabalhista da luta de classes nas escolas? Quantos de nossos colegas de trabalho possuem posicionamentos político-pedagógicos progressistas mas se limitam a travar a luta de classes apenas na dimensão pedagógica?

Para esses professores do campo progressista ir a uma assembleia salarial, protestar contra o sindicato pelego, protestar contra a retirada de direitos ou ir aos atos de rua parece alucinação. Se limitam a trazer esses debates para a sala de aula enquanto os mesmos não se colocam em movimento. Debater os motivos disso não é o objetivo aqui, mas sim dizer que essa postura deve mudar.

Enquanto as mobilizações estão apenas no campo pedagógico, de qualificar o trabalho com os alunos, muitos professores continuam inertes. A tolerância ainda se mantém alta. Mas no c

ontexto da pandemia de Covid-19 essa realidade mudará, por uma questão de vida ou morte, e de classe.

Não se trata mais de exigir menos alunos por sala ou uma estrutura física adequada para poder ensinar melhor. Trata-se de fazer essas reivindicações para não nos contaminarmos. Em última instância, é melhorar as condições de trabalho para não morrermos. A demanda pedagógica vira uma demanda sanitária. O direito a aprendizagem se transforma em direito a vida!

Nesse contexto, muitos professores terão que descobrir que luta não se faz apenas em sala de aula. Luta não se faz apenas ensinando a luta que outros fizeram em outros tempos. A luta é necessária agora, nos colocando contra a volta as aulas e sabendo que isso é um enorme risco. É necessário sermos firmes e voltarmos para nossas atividades apenas se nos garantirem condições de trabalho que poupem nossas vidas, a vida de nossas famílias e a vida de nossos alunos.

Ter em mente essa dimensão do direito a vida é tão necessária quanto termos clareza da enganação que é o ensino a distância, onde professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. O trabalho pedagógico se faz no tete-a-tete e com segurança.

A luta de classes, para além de sua dimensão pedagógica, se faz com nossos colegas de trabalho construindo coletivos e oposições sindicais denunciando os conchavos entre as direções picaretas e nossos empregadores que além de nossa força de trabalho e de nossa sanidade, no momento colocam em risco nossa vida.

Se os trabalhadores da escola ao serem contaminados ficarão a mercê dos serviços públicos superlotados, se não podemos fazer como os patrões que ao se contaminarem pegam seus jatinhos e se internam em leitos de hospitais particulares, que usemos nossa ferramenta histórica: a greve.

Enquanto não houver segurança e enquanto não houver qualidade não haverá aula!


terça-feira, 26 de maio de 2020

Charles Muller - futebolchevique



Darmos todos os créditos a Charles Muller pela vinda do futebol pro Brasil é palatável para muitos. Desce na garganta como Danoninho na boca de criança. Mas esse é o tipo de narrativa combatida por Marx em "A ideologia Alemã".
"O sujeito de família rica que foi estudar fora e quando voltou trouxe o futebol para todos nós, o povo brasileiro". Longe de diminuir sua contribuição em nossas terras, a amplitude que o esporte teve na aristocracia brasileira, sobretudo a paulistana. Mas essa linha de raciocínio é como afirmar que a Primeira Guerra só aconteceu por causa da morte de Francisco Ferdinando, como eu aprendi na escola. Ou então que a Inconfidência Mineira aconteceu porque um abençoado dentista chamado Tiradentes resolveu nos libertar das malvadezas do reino.
Há relatos de que o futebol foi jogado no Brasil bem antes de Charles Muller retornar de seus estudos na Inglaterra. Se pensarmos que a Inglaterra, criadora do futebol moderno e principal potência econômica da época, mantinha relações comerciais com grande parte do mundo, não é loucura pensar que marinheiros ingleses e trabalhadores dos portos brasileiros tenham entrado e contato e batido uma bola. No entanto, a prática do esporte teria ficado restrita às regiões litorâneas, pois quando os ingleses iam embora, levavam consigo a bola.
Como diria Brecht:
"O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas"

Flamengo e a maior torcida- futebolchevique

Para os que pensam que o Flamengo possui a maior torcida do país graças a geração de Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Andrade e companhia, na década de 80, a realidade não é essa.
A torcida do Flamengo cresceu vertiginosamente na década de 30, com as transmissões da Rádio Nacional. Era por meio da Rádio Nacional que a propaganda política do governo de Getúlio Vargas chegava aos ouvidos da classe trabalhadora. Tanto o programa "A Hora do Brasil", como toda a programação era coordenada pelo DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda do governo varguista.
Vale lembrar que ninguém menos que Roberto Marinho, dono da Globo, era membro do conselho do DIP. A função do departamento era cuidar da censura da imprensa, rádios e espetáculos.
Junto da ideologia, através da Rádio Nacional chegava também as narrações de Ari Barroso do time do Flamengo e sua estrela, Leônidas da Silva.

Times menores - futebolchevique

Até a década de 80 os times "menores" tinham um espaço bem maior do que tem hoje no cenário nacional. Isso porque os jogadores não pertenciam a agentes, a patrocinadores, nem a eles mesmos.
Tal como o estádio, as bolas e o uniforme, o jogadores pertenciam aos clubes. Dessa maneira o futebol do interior e dos times com menos grana tinha mais força.
Quando os jogadores passaram a poder serem donos do próprio passe, os clubes menores perderam espaço, com as grandes promessas migrando para os grandes clubes.
Assim, contraditoriamente, quando menos direitos tinham os jogadores, mais democrático foi a competição entre os clubes.
Nada de absurdo aqui. Isso nada mais foi do que a necessidade de modernização do futebol aos parâmetros da exploração capitalista.
Se antes do passe livre podemos compará-los aos servos no feudalismo, que eram presos à terra, após o passe livre eles se tornaram trabalhadores modernos aos moldes capitalistas, livres para vender sua força de trabalho.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Elieser - Futebolchevique

Quando comecei minha militância organizada descobri um mundo. Nesse mundo descobri a possibilidade de um outro mundo. Uma das pessoas que muito me ensinaram sobre a possibilidade de um outro mundo, sem explorados e exploradores, era um senhor que era a cara de Eusébio, o pantera negra da seleção de Portugal.
Hoje o camarada Elieser nos deixou. Eu nunca soube se ele jogava como Eusébio ou se era perna de pau. Mas o que conheci desse camarada foi o compromisso com a luta dos trabalhadores, com um sindicalismo combativo e com o socialismo. E que me desculpe o futebol, nesse momento ele pouco importa.
Apesar de não ter presenciado o outro mundo que ele anunciava, tenho a certeza de que quando conquistarmos esse outro mundo, esse outro mundo terá um bocado de Elieser.
Camarada Elieser, PRESENTE!

Como será o futebol no socialismo - futebolchevique



Como será o futebol no socialismo? Se no socialismo os meios de produção estarão nas mãos dos trabalhadores, se a propriedade privada será abolida, como ficarão os clubes?
São respostas que eu não tenho e talvez ninguém tenha, mas podemos aqui fazer alguns rabiscos.
Ninguém ganhará milhões de reais para fazer uma ativida que todos fazem, chutar la pelota. Futebol será prazer.
O futebol será praticado por homens e mulheres que dividirão os times entre camisa e sem camisa, indiscriminadamente.
Será possível jogar futebol antes ou após a jornada de trabalho diária de 5 horas. O faxineiro e jogador de futebol também será membro do conselho que definirá os rumos econômicos de sua comunidade.
Os camarotes das pomposas arenas serão destinadas aos aniversariantes da semana. Esse será o critério e não mais o quanto se pode pagar.
O futebol não será mais meio de ascensão de vida, uma vez que não haverá mais pobreza.
Com o fim da propriedade privada, a FIFA e a CBF serão enterradas. Será o fim do futebol como negócio.
As torcidas organizadas não mais brigarão entre si, a não ser no volume de suas músicas nos estádios. O lema de todas passará a ser "paz entre nós, guerra aos senhores". Elas serão fundamentais na organização dos campeonatos.
O Direito ao futebol será como o direito a educação, moradia, alimentação e saúde. Será um direito real e não lenga lenga do Estado burguês.
Como vai ser nós não sabemos ao certo, mas como não será nós temos certeza.
Futebol e socialismo para todos!

Pequeno-burguês

Sabe qual a distância entre os trabalhadores mais pobres e a pequena-burguesia?
A crise. Essa é a distância entre um e outro. É só ligar a TV em qualquer jornal e ver pequenos burgueses apavorados por terem que fechar seus negócios. O medo que eles têm é o medo de perder seus privilégios, sua migalhas que eles têm a mais do que os trabalhadores que não tem nada a perder.
É na crise que a pequena burguesia descobre que está muito mais longe dos grandes empresários do que de seus funcionários, funcionários que até semanas atrás eles davam ordens.
É na crise que os pequenos empresários não conseguem pagar seus funcionários porque o governo não liberou dinheiro.
Enquanto isso, enquanto os pequenos se ferram, o grande empresariado usa a crise pra aumentar seus lucros.
Sejam bem vindos a luta de classes.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Ódio

A bandeira vermelha te irrita
mas os milhões de desempregados não

Nosso discurso te dá nojo
mas a fome e a miséria não

Você odeia a foice e o martelo
mas agradece a Deus por ter comida e uma colher pra comer
mesmo sem saber forjar uma colher ou plantar

Nossas palavras te causam ódio
saiba que é o mesmo ódio que temos das suas

Você branda contra o comunismo
mas você está certo
pois se vencermos
você perderá

E acredite
você vai perder

1 de maio

O primeiro de maio nos últimos anos foram considerados dias de festa. Sorteio de carros, motos, show do Zezé de Camargo entre outras tosquices. Mas nem sempre foi assim.
A data, há mais de cem anos, era uma data de luta, onde os trabalhadores do mundo todo reivindicavam a redução das horas de trabalho, que chegavam a 16h, 17h por dia. Além disso, pediam também o fim do trabalho infantil. Se hoje a maioria das crianças não trabalham e se a jornada de trabalho é de 8h, foi graças aos trabalhadores que enfrentaram os patrões e governos, com suor e sangue, para conquistar direitos.
Aqui no Brasil, o presidente Artur Bernardes, em 1925 tornou o primeiro de maio, até então dia de luta, em feriado nacional. Uma sacada de mestre. Ao invés de ser um dia de greve, dia de mobilização, a data se tornaria dia de descanso.
Em tempos de pandemia e isolamento, não é possível nem ir nos shows sertanejos com sorteio de carros e nem nas enormes manifestações exigindo direitos, coisas que nossa classe já fez em outros tempos.
Que aproveitemos essa data para pensarmos em nossas prioridades nos próximos anos. Sorteio de motos ou luta por direitos?

Analise de conjuntura - 1 de maio, 2020

Tem um jabuti na árvore. Ele está lá, no aconchego do galho. Acontece que jabuti não sobe em árvores. Alguém o colocou lá em cima. Bolsonaro é o jabuti na árvore.
Alguém colocou Bolsonaro na presidência, mas quem? Não foi o tiozinho reaça do boteco e nem a Dona Neide, vizinha da minha vó que curte o boçal.
Quem o colocou na presidência foi a burguesia organizada. A mesma burguesia que o aplaudiu na Fiesp e vaiou Ciro Gomes na pré campanha, quando ele foi lá abanar o rabinho para o empresariado. Quem botou o jabuti na árvore foram os grandes empresários.
Vale lembrar que esses empresários não foram enganados, não estava desavisados. Sabiam muito bem que apoiavam um machista, racista e homofóbico que elogiava torturadores e saudava a ditadura.
Tal como Bolsonaro, Rodrigo Maia e FHC são representantes dessa burguesia organizada. Ambos são protagonistas nos ataques à classe trabalhadora. Pra citar apenas uma, ambos promoveram reformas de previdência. Acontece que esses dois inimigos de nossa classe participarão da manifestação do primeiro de maio, dia do trabalhador. A CUT e centrais ligadas ao PSOL e PC do B também estarão lá, querendo intensificar a relação com representantes da burguesia. Ou seja, organizações de esquerda querendo a amizade de pessoas que colocaram Bolsonaro no poder.
Nada novo sob o sol da democracia burguesa, com as organizações dos trabalhadores buscando o apoio dos empresários.
A penúltima vez que isso aconteceu houve um golpe, lá em 64, quando o PCB achava que a burguesia nacional era sua aliada. Na última vez o desfecho foi o impeachment de Dilma. Mas a esquerdalha brasileira quer tentar mais uma vez. Deve ser bem triste querer ser amigo de alguém que não quer sua amizade.
Errar é humano, persistir no erro é atestado de pelegagem.
*Apenas duas centrais foram contra a participação dos representantes da burguesia, a Intersindical vermelha e a Conlutas.

sábado, 25 de abril de 2020

analise de conjuntura - 24 de abril, 2020

Nossos inimigos estão mexendo no tabuleiro. A Globo queima Bolsonaro, protege Moro e Paulo Guedes.
Vale lembrar que em 2018 o candidato da burguesia era Alckimin, não Bolsonaro. Como o picolé de chuchu não emplacou, a burguesia não pensou duas vezes em apoiar o candidato que elogiava torturador.
Passada a histeria inicial, a Globo e a fração da burguesia que ela representa passam a fritar o presidente até ele cair. Até lá vai continuar faltando EPI nos hospitais, vai aumentar o número de mortos por corona, e a retirada de direitos se intensificará.
A pergunta que fica... algo mudará para os trabalhadores com Mourão na presidência?

Analise de conjuntura - 23 de abril, 2020

Ainda que a pandemia afete a todos, não atinge os trabalhadores da mesma maneira que os ricos.
Enquanto os ricos ficam doentes e vão pro Albert Einstein receber todo amparo que o dinheiro pode comprar, os trabalhadores ficam amontoados em corredores e com materiais improvisados, pois o Estado diz que não consegue materiais.
Na crise econômica, os grandes empresários e banqueiros recebem trilhões do Estado, enquanto os trabalhadores tem que sobreviver com 600 reais. Isso os que não morrerão "em análise".
O auxílio emergencial de 600 reais do governo vai ajudar 45,2 milhões de pessoas. Enquanto isso, o governo dá aos bancos 1,2 trilhões de reais. É muito ões, e a gente perde a noção dos zeros. Mas se a gente dividir o dinheiro dos bancos pelo número de pessoas do corona-voucher, o governo poderia entregar pra cada trabalhador mais de 26.500 reais! Mais do que um ano de trabalho pra muita gente!
Para os ricos tem ajuda, para os trabalhadores apenas lamento.

Análise conjuntura - 20 de abril, 2020

Um velho camarada me disse uma vez que tem décadas em que nada acontece, mas que também há semanas em que décadas acontecem.
Quem estava vivo em 2013 vivenciou algo assim. De repente nos vimos em uma onda de manifestações que não tinhamos mais controle. Nós não tínhamos controle, mas outros tinham. Quem estava no controle eram os movimentos "Vem pra Rua", MBL, e mais um bando de carinhas novas patrocinadas por velhos empresários.
Antigamente, tivemos duas crises econômicas que com diferentes direções desembocaram em lugares bem diferentes. Uma delas foi na Rússia, a pouco mais de cem anos. Dirigida pelos bolcheviques, a crise deu origem a uma revolução socialista. Em outro caso, na Alemanha, a crise foi dirigida pelos nazistas e resultou em perseguição aos comunistas, judeus, negros e todos que não fossem arianos.
Uma crise econômica está a caminho e mais semanas em que décadas acontecem estão por vir.
Como em um trem, haverá os que darão a direção e os que serão só passageiros, além dos perdidos que se julgam direção, mas que irão pro fundão achando que estão indo pra cabine do maquinista.
Quem vai dar a direção do trem? Quem vai ter mais bala na agulha?

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Análise de conjuntura - 12 de abril de 2020

Há alguns anos, meados de 2015, tem se discutido a dimensão da próxima crise economica que se desenhava, pois tão certo quanto o dia virar noite, são as crises do capital.
Em 2018, durante a bagunça que foram aquelas eleições, me lembro de discutir com camaradas de militância as consequências da próxima crise estourar nas mãos do próximo presidente, Bolsonaro ou Lula - até então candidato, e quais seriam os ganhos pra organização e mobilização dos trabalhadores o cenário da crise estourando na mão da extrema direita ou na mão da esquerda socialdemocrata.
A roda da história girou, Bolsonaro ganhou, e a crise anunciada há tempos vai estourar na mão do presidente mais patético que talvez o Brasil venha a conhecer. Patético, mas não ingênuo.
Para a sorte dos capitalistas, surgiu um vírus bem conveniente chamado Corona pra botarem toda a culpa nele do seu sistema que se retroalimenta através de suas crises. É através das crises do capitalismo que os patrões recuperam suas taxas de lucro. Como? Simples, retirando direitos dos trabalhadores. Podemos sentir que no Brasil a crise já estava anunciada quando a pauta se tornou a reforma trabalhista e da previdência, ou seja, os patrões querendo aumentar as taxas de lucro. A crise mundial já era anunciada com a taxa baixíssima de desemprego nos EUA e o gigantesco nível de crescimento que começava a dar sinais de estagnação.
Se para os trabalhadores a crise é um problema, para os patrões é solução. É na crise que eles conseguem trilhões de dinheiro público, é na crise que ninguém mais fala de liberalismo e Estado mínimo, é na crise que dizem que algumas medidas são como um remédio ruim e necessário para os trabalhadores. Eles recuperam o lucro e nós afundamos na miséria.
Longe de dizer que o Corona é uma gripezinha e de querer acreditar em ideias conspiratórias de que a China criou o vírus, a pandemia veio a calhar como um ótimo boi de piranha. O cenário que está ficando ruim, vai piorar. O desemprego vai aumentar, os preços vão subir e mais direitos serão arrancados enquanto dormimos. Enquanto isso, a sereia voltará com seu canto, mais alto do que nunca, e se nós não nos prepararmos para combatê-lo tem chances de morrermos afogados.
A mídia já vem cumprindo um papel importante de minar Bolsonaro, isso é notório com a Globo e a Folha. Mas estaremos ferrados se julgarmos serem esses nossos parceiros. Isso apenas demonstra que a burguesia não está em consenso quanto ao presidente. Ao mesmo tempo que atacam veementemente Bolsonaro, blindam o ministro Paulo Guedes e sua agenda economica que arrebenta com os trabalhadores. É de se cogitar que com o vice, Mourão, na presidência esses ataques se transformarão em apoio incondicional.
Imaginar como teria sido a crise na mão da esquerda pelega seria agora masturbação mental. Imaginar como as organizações dos trabalhadores que não cederam ao pacto de classes se utilizarão da "crise do Corona" para avançar ao centro da classe, um setor onde quem não está à deriva ou flerta com seus algozes verde-amarelos ou flerta com a pseudo oposição vermelha é a tarefa dos comunistas.
Como nos organizarenos para dar um tiro no gigante de pé de barro que está prestes a cair sem deixar os conciliadores se levantarem?
É preciso ir além das palavras, é preciso agir.

Vontade dos pequenos prazeres

Como eu queria matar a vontade
dos pequenas prazeres da vida
encontrar os amigos
jogar uma bola
visitar os meus pais
e dar um soco na boca do Bolsonaro

quinta-feira, 9 de abril de 2020

O bolo, o ninho e a revolução

O bolo de cenoura na mesa da cozinha 
o ninho do passarinho na árvore da rua 
e a revolução cubana tem algo em comum

O bolo, minha esposa fez 
o ninho do passarinho, os passarinhos o fizeram 
a revolução cubana, não apenas um quarteto de iluminados a fizeram 
mas toda uma rede de trabalhadores cubanos

O bolo 
o ninho 
e a revolução 
não aconteceriam sem uma ação intencional 
da minha esposa 
dos passarinhos 
e dos trabalhadores

O bolo 
o ninho 
e a revolução 
não acontecem 
são feitos

terça-feira, 7 de abril de 2020

Você nunca vai esquecer

Eu quero só ver
com que cara
você vai olhar pra sua colega de trabalho
dar um sorriso
e desejar bom dia
sabendo que enquanto você comia bacalhau
e ovo de páscoa
ela comia arroz
e só
pra sobrar ovo pro filho
enquanto seu salário estava bonitinho na conta
na dela não tinha mais nada
pois ela foi mandada embora
e você não quis nem ao menos pagar uma cesta básica
que tinha o mesmo preço
que você gasta na ração do seu cachorro

Talvez ela
que passou necessidade
fome
e foi ameaçada de ser despejada
nunca saiba que você poderia ter ajudado
e não quis
mas tem uma pessoa que nunca vai esquecer
que você é um bosta

Você nunca vai esquecer

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Ana


A garota se incomodava
com os negros em farrapos
pedintes, inconvenientes
pelo centro de Salvador

Passos a frente
viu mais um indigente
que não tinha duas pernas
mas um focinho e quatro patas
um cãozinho carente

O indigente canino
pediu um pedaço de seu salgado
e com amor e Jesus no coração
a jovem turista
lhe estendeu a mão


A garota andava pelo centro de Salvador extremamente incomodada com os pedintes, dizia que eles eram chatos e inconvenientes. Aqueles negros em farrapos que insistiam em incomodar o passeio da turista! Mas quando o cachorrinho pedinte flertou com o seu salgado ela não pensou duas vezes antes de lhe dar um pedaço. Dá uma dó dos cãezinhos, não é?

Boa ação

Um ateu ia ao trabalho quando se deparou com uma senhora na rua pedindo ajuda, "me ajude a tirar minha mãe da cama e colocá-la na cadeira de rodas, estou sozinha em casa e não consigo sozinha, ela está toda urinada", disse a senhora. O ateu, atrasado para o trabalho, não pensou duas vezes e ajudou a senhora. No fim do dia, ao contar a família o que havia acontecido, cheios de jesus no coração, os cristãos disseram que ele não devia ter feito isso pois poderia ser golpe.

Giselda

Dizem que super-heróis não existem
mas e eu
que cuido de três filhos
tenho um emprego pra cada filho
um na fábrica
um bico de segurança
e outro de cozinheira
tenho um marido
que parece um quarto emprego
ah,e ainda tem a faculdade
sou o que
se não um super-herói?

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O paciente


O paciente aguarda
aguarda pacientemente
aguarda que venham com o remédio
que venham lhe dar banho
aguarda as ordens do médico
e aguarda também a comida
ele nada pode fazer por si mesmo
nada
pois é paciente
como os demais
todos os outros pacientes
são pacientes
afinal, o que cabe aos enfermos
a não ser esperar que façam por eles?

Pode se manter por semanas como paciente

meses deitado
anos de espera
décadas de inércia

até que algo acontece
e o pega de um jeito que o transforma
não apenas à um paciente
todos os pacientes optam por não mais esperar
tomam a injeção da mão do enfermeiro
se banham sozinhos
resolvem fazer a própria comida
e agora dão as ordens aos médicos

Juntos descobriram que o remédio
estava justamente no contrário
era necessário perder a paciência