Não quero poema
não quero que fale de forma bela sobre minha profissão
sobre minha dor
Minha dor dói
a dor do descaso
a dor do adoecimento
do trabalho sobrecarregado
a dor do professor
De quem não quer mudar sozinho
essa desgraça de mundo
esse filme de terror
Ensinar nas escolas
não me torna herói
tampouco salvador
quem leciona não passa de um batedor de ponto
mais um trabalhador
Se professor é herói
como chamar quem as casas constrói?
Sendo o professor um salvador
o que seria então quem constrói estradas, foguete e ventilador?
Quem ensina o alfabeto
não é melhor
não pode ser melhor
que quem constrói nosso teto
Ensinar hipotenusa, elétrons e segunda guerra mundial
não nos torna melhor do que quem sozinho
planta e colhe todo um canavial
Que façamos do 15 de outubro
mais um primeiro de maio
e que quem divide a nossa classe
vá pra casa do c4raio!