quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Boyzinhos revolucionários

     Na última manifestação que ocorreu ano passado, na USP, alunos ocuparam, se não me engano, a reitoria da universidade para protestar contra as parcerias realizadas entre polícia militar e universidade. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o argumento utilizado pelos "estudantes de bem" que se indignaram com a ocupação. Essas pessoas se apegaram à imagem de um estudante que usava óculos rayban e um moletom da marca GAP, divulgada, se não me engano, pela imparcialíssima e sensatíssima revista veja, para rechaçar os estudantes dizendo que eram "filinhos de papai" e "boyzinhos revolucionários". Procuravam deslegitimar todo movimento historicamente construído, que possui relevância considerável nos acontecimentos recentes do país, e que de acordo com os "estudantes-de-bem" não deveriam estar na universidade e sim, dar lugar à quem de fato deseja estudar.
    Pois bem, um amigo de um amigo de um amigo meu, que já participou de centros acadêmicos e frequenta os espaços do movimento estudantil frequentemente é taxado de "boyzinho revolucionário" ou "revolucionariozinho" em rodas de amigos, que não compartilham as opiniões políticas deste e nem tão pouco ousaram participar, nem conhecer o movimento estudantil para ter uma conclusão mais sensata e uma crítica menos superficial sobre tal movimento. Esses amigos frequentemente ironizam o fato do estudante usar um tênis de uma marca globalizada, o fato do estudante usar como meio de locomoção um skate que não é barato, ou o fato do estudante  viajar, pois na visão dos "estudantes de bem", viajar é um ato capitalista e assim ele se contradiz.
    Quando um sujeito levanta questionamentos sobre o sistema em que ele está inserido, e ele se posiciona contra as injustiças ele obrigatoriamente tem que sair do sistema e ir morar em qualquer outro lugar que não haja tais injustiças, como em uma aldeia indígena? Caso o estudante levasse a sério a ridicularização de seus colegas, conseguiria ele confeccionar suas próprias roupas, fazer seus próprios tênis, morar em uma oca e ter uma horta e viver apenas da subsistência?
     Certo professor um dia disse: "quem não tem uma contradição na vida, que atire a primeira pedra." No decorrer de nossas vidas e no decorrer de nossas reflexões vamos descobrindo inúmeras contradições e acredito que diminuindo tais contradições presentes em nosso discurso e nossa prática, deixamos uma sociedade melhor do que a sociedade que encontramos, menos contraditória e desigual.
    E aos estudantes de bem que ironizam os que procuram fazer algo na prática e não somente ficar compartilhando fotos e vendo as contradições alheias, que olhem para si e tornem-se cada vez mais revolucionários de si mesmos, como diz o "revolucionariozinho da periferia", Sergio Vaz, "revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo". Antes um "playboy revolucionário" do que um indivíduo conformado, um simples playboy.

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