quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Porque me tornei professor 2020

 Porque me tornei professor?

Em 2015, recém formado e já dentro da escola, escrevi um texto descrevendo os motivos de ter ido por esse caminho. Minha ideia era cinco anos depois reescrever algo parecido, contando o porquê de eu ter continuado ou mudado de caminho. Mais de cinco anos se passaram e, com um pouco de atraso, escrevo aqui porque continuo na caminhada nessa mesma trilha.

Porque continuo professor?

Diferente do idealista recém formado de 2015, que imaginava que o ser professor era apenas realizar o trabalho pedagógico com as crianças na perspectiva da consciência de classe, o professor aqui agora tem os pés mais fincados no chão. 

Hoje tenho plena consciência de que a perspectiva de classe é obrigação não só no trabalho pedagógico com os alunos, mas também com os colegas professores, monitores, merendeiras e todos trabalhadores da escola. É inviável acreditar como o jovem professor de anos atrás que a mudança desse mundão vai ser sempre das próximas gerações. Acreditar nisso é jogar toda a responsabilidade que temos nos outros, nos omitindo da luta, afinal, deixa que as crianças quando crescerem que façam algo, não é? É o que resta, ensiná-las a fazer algo no futuro. Nada mais bunda mole e omisso.

Pra além da dimensão pedagógica, é dever de todos que trabalham na escola e que possuam um compromisso com os alunos e com uma relação pedagógica de qualidade olharem para suas condições de trabalho. O estabelecimento de uma relação pedagógica de qualidade só será conquistado indo pra além da dimensão pedagógica do ser professor, mas na dimensão trabalhista de um professor, de um sujeito de classe e pertencente à uma classe, a classe trabalhadora.

Questionar as diretrizes estúpidas que venham da secretaria de educação, se mobilizar com os colegas para discutir questões que os superiores não querem que se discuta, denunciar os conchavos de quem deveria representar os anseios da categoria - como é o caso dos sindicatos pelegos, se organizar e opinar sobre o aumento salarial ou a falta dele, se recusar a lecionar em um teto prestes à desabar... essas são questões que extrapolam a dimensão pedagógica do ser professor mais que são questões imprescindíveis para qualquer professor que pretenda construir uma outra sociabilidade, com outros valores e princípios. Ler livros sobre Pedagogia História-Crítica ou se dizer marxista de nada adianta se a única prática de luta de um professor é cuspir palavras bonitas para os alunos.

Com todas as dificuldades de ser professor, apesar delas, e sobretudo com elas, é que ser professor tem um potencial gigantesco. O potencial de mobilização, um conhecimento de uma rede gigantesca de pessoas, trabalhadores, alunos, pais de alunos, a convivência com o bairro, tanto quanto pela questão intelectual de se manter eternamente estudando, pesquisando, repensando, esse é o motivo pelo qual ainda vale a pena ser professor.

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