terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Pode ser gorda, pode ser feia, só não pode ser gorda e feia!"

    Era uma vez um planeta, muito, muito, muito distante! Muito parecido com o nosso. Muito mesmo! Com uma pequena diferença que no final faz muita diferença.
    Neste planeta os dicionários não possuem a palavra estética. Seja no Aurélio, Michaelis ou até no Wikipédia, não existe nenhuma referência à esta palavra. Ninguém sabe o que é isso. E por não saber o que é isso as pessoas respeitam a liberdade das outras pessoas de decidirem sobre seus próprios corpos. Como não existe um padrão de beleza, todos são bonitos aos olhos. Mulheres gordas são bonitas. Homens magrelos são bonitos. Mulheres com pouco peito são bonitas. Homens peludos são bonitos. Anões são bonitos. Mulheres com buço são bonitas. Cabelo pixaim é bonito. Idosos são bonitos. Bolivianos são bonitos. Pessoas sem as orelhas e com um olho são bonitas. Todos são bonitos porque as pessoas não se apegam as aparências. O que é feio indiscutivelmente são as pessoas que julgam as outras por seus aspectos físicos. As pessoas se julgam belas ou feias depois de conhecer uns aos outros. Depois de trocar idéias e experiências. Depois de expor opiniões. Contarem piadas. Revelarem histórias.  Ai sim, depois de se comunicarem, as pessoas chegam a alguma conclusão sobre a beleza ou ausência dela no próximo. Nunca imaginaram que em algum lugar do mundo as pessoas podiam olhar para outras e se apaixonarem apenas pelo olhar. Repugnam as pessoas que olham uma revista e dizem que tal pessoa é bonita ou feia apenas pela sua carcaça. Isso não faz sentido para eles, pois não se pode conhecer assim a excência do outro. Não entendiam como poderia um sujeito achar o outro bonito apenas por vê-lo rebolando na televisão. Parecia extremamente superficial para eles e por isso não supervalorizam as aparências. Para essas pessoas isso não faz sentido algum.
    De tanta curiosidade, o Planeta Desprovido de Estética (nome oficial) recrutou alguns habitantes. Esses recrutas foram enviados ao Planeta Provido de Estética (nome oficial) para realizarem estudos. Fizeram algumas constatações iniciais e ficaram extremamente desiludidos e impressionados com a capacidade de inteligência e persuasão humana, digo, dos habitantes do Planeta Provido de Estética.
    Os recrutas descobriram que existindo um padrão de beleza, as pessoas faziam de tudo para atingir esse padrão. Viram que tinha pessoas que se depilavam, pintavam o cabelo, faziam academia, tomavam injeções, faziam drenagem linfática, deixavam de comer, colocavam silicone, entre outras inúmeras bizarrices, apenas para se aproximar ao padrão de beleza que era imposto. Viram que esse padrão de beleza era colocado na mente das pessoas, como uma lavagem cerebral, por meio de revistas, programas de televisão, por conversas com os amigos, por brinquedos de crianças, por autidores, e que as pessoas aderiam à esses valores facilmente. Mesmo quem não concordasse.
    Mas enquanto as pessoas interferissem somente em suas vidas, não haveria problema. O problema é que esse padrão de beleza, fazia os habitantes do Planeta Provido de Estética, interferirem negativamente na vida dos seus semelhantes que não se enquadravam nos seus padrões. E foi isso o que mais chamou a atenção dos habitantes do Planeta dos Desprovidos de Estética, foi ver que as pessoas que fugiam deste padrão eram oprimidas. Os gordos eram constantemente alvos de piadas, assim como os negros. Ao observar alguém acima do peso andando na rua, coincidentemente ou não, pessoas ao redor davam risadas. O estudo mostrou que nos meios de comunicação haviam propagandas que salientavam isso, criavam dentro das pessoas a imagem do que era ser uma pessoa bonita. Por exemplo a propaganda de uma marca de lâminas de barbear que colocava pessoas peludas como menos desenvolvidas, induzindo assim, as pessoas a comprarem o tal produto. Quem não comprar é um “homens das cavernas”, os peludos. Quem comprar é uma pessoas desenvolvida, os depilados. Notaram que os depilados passam a fazer chacota dos que não depilam. Bem como fazem aos gordos. Aos magrelos. Eles não fizeram anotação alguma de piadas sobre pessoas com pernas torneadas, cinturas finas, peitos grandes (mulheres) ou definidos (homens). Mas faziam piadas com quem não se encaixasse nessa dualidade de homens e mulheres, chamando-os de viados, baitolas, sapatão. Para não ser vítima de chacota tinha que estar próximo do padrão de beleza e é necessário que se faça o consumo do jeito que os meios de comunicação induzem os habitantes a consumirem, caso o contrário você corre o risco de ser isolado de todos e viver sozinho pelos cantos. Sendo seus amigos a "polícia da indústria da beleza", se você os está perdendo é porque não está se enquadrando devidamente.
    Estas foram apenas as anotações iniciais da pesquisa. Ela não foi concluída. A última vez que foram vistos os recrutas, estavam assistindo ao programa Pânico na TV. Desde então nunca mais foram vistos.


http://www.hypeness.com.br/2013/02/voce-tambem-olharia-serie-fotografica-registra-o-preconceito-no-olhar-das-pessoas/