quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Propagandas desconstruidonas

Ontem vendo televisão assisti em menos de 5 minutos, duas propagandas diferentes.
A primeira era de um carro, onde se questionava o direito a cidade. A segunda, da Skol, questionando comentários preconceituosos.
Qualquer um que tenha uma pequena noção do poder que a industria automobilística tem, sabe que ela não se importa nem um pouco com o direito a cidade. Querem saber é de dinheiro no bolso, lucro, e direito apenas pra quem pode pagar por ele.
A propaganda da Skol a mesma coisa. Dizem na propaganda que os comentários preconceituosos são quadrados, ao contrário dos comentários respeitosos que por sua vez são redondos como a cerveja. A mesma indústria do álcool que impediu que estivessem estampados em seus produtos alertas contra a saúde, como são feitos nos cigarros.
Poderia citar aqui propagandas desconstruidonas de cosméticos, como a da boticário com um casal homoafetivo, ou descoladas como as da Coca. Mas me impressionou o fato da propaganda do carro e da Skol serem 2 de 3 propagandas seguidas.
Uns podem acreditar que o mundo está mesmo mudando e que estamos rompendo com as opressões, que essas empresas são maravilindas e que devemos consumir delas pra incentivar tais campanhas.
Eu prefiro ser menos ingênuo e acreditar que elas só estão cooptando o linguajar lacrador que os movimentos identitários tem promovido. O "emponderamento" pode ser bem lucrativo.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Bullying e classe trabalhadora

O bullying acontece quando uma criança ou adolescente não consegue responder aos assédios de uma ou mais crianças. Os valentões então percebem que os assediados não reagem aos assédios e intensificam a violência.
Quem escuta os relatos de bullying sempre se pergunta: "como deixaram isso acontecer e não fizeram nada?"

A classe trabalhadora brasileira vem sendo vítima de sucessivas reformas/desmontes previdenciários e hoje entra em vigor a reforma trabalhista. E como ela vem reagindo? Buscando dialogar com os patrões e seus governos. O máximo que conseguimos foi nos mobilizar fazendo dias pontuais de luta, como o fiasco de ontem (dia 10/11).

O bulinado somos nós. E os bulinados geralmente tem duas saídas.

1- Não fazer nada/negociar com os valentões.
2- Sair atirando como quem não aguenta mais.

O que faremos?

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Atlético Paranaense x Fluminense

Desde que me decepcionei com a Portuguesa, com toda a compra e venda da vaga no brasileirão de 2013, envolvendo Fluminense e Flamengo, optei por não mais assistir jogos do meu time. Assistir jogos de outros times me poupava estresse, cabelos brancos, e me proporcionava apenas o prazer com o esporte, seja lá quem fosse o vencedor da partida.
Estou de visita em Curitiba por alguns dias e quis assistir algum jogo por aqui. Na dúvida entre Paraná, Coritiba e Atlético Paranaense, o estádio que fica mais perto da casa de minha tia é a Arena da Baixada, estádio do Atlético.
Quando fui ver os preços na sexta feira vi que estavam 100 reais, meia 50. Suuuuper acessível, não é mesmo? Mas como seria uma única vez, pra ver um estádio de copa e assistir o Lucho González, valeria o gasto. Ingresso comprado.
Chegou domingão e fui pro estádio. Na frente vi um aglomerado de pessoas em uma ladeira. Chegando perto vi que estava tendo um campeonato de skate. Super bacana! Fico uns 5 minutos, mas hoje meu foco é futebol. Quero ver é carrinho de 3 metros, não skate.
Estava meio receoso em achar meu lugar reservado no ingresso, pois na frescura do padrão fifa, será que algum boçal ia me tirar se eu sentasse em qualquer cadeira? Quando me deparo com a grandiosidade do estádio fico com uma sensação de admiração indescritível e a preocupação com a cadeira vai embora. Me sento em qualquer lugar. Aquela porreta de gramado tem um verde impecável e sem uma falha. Eu queria jogar ali!
Diferentemente do que havia pensado, a parte superior do estádio, o lugar mais longe do campo, não ficava longe do gramado e dava pra ver com precisão os lances. Diferente da distância no Morumbi e de alguns lugares do Pacaembu, onde quase tem fuso-horário.
Quando cheguei, a cobertura do estádio estava se fechando. Estádio de futebol onde não tem céu é meio esquisito. Bem diferente do empate de 1x1 da Lusa contra o Gama onde sai do Canindé ensopado da chuva. Com certeza eu sairia dali bem seco.
Ao anunciarem as escalações vejo que haviam 3 ex-jogadores da Portuguesa ali. Henrique do Fluminense, Weveverton e Fabricio do Atlético. Bola vai, bola vem, e o jogo acaba 3x1 de virada pro Atlético.
Consegui assistir ao Lucho González, personagem de meus times no CM em 2003 e 2004 (onde eu era técnico do River Plate), vi um garotinho de não mais de 3 anos se entusiasmar com o furdúncio da torcida de 13 mil pessoas que se multiplicava por 3 com a acústica, e vi um estádio sensacional. O superfaturamento nos proporciona algumas migalhas
Eu estava ali sozinho, tendo uma experiência que com certeza eu não esqueço tão cedo. Eu gosto de minha autonomia, zelo bastante por ela e não gosto de ser dependente dos outros pra fazer as coisas, mas quase no final do jogo pensei que seria bem bacana se meu pai e meu irmão estivessem ali comigo, como sempre estivemos no escanteio no Canindé.
Estranhamente fui embora da Arena da Baixada sussurrando versos que não faziam muito sentido no momento. "Vitória é a certeza da sua força e tradição...". Era o hino da Portuguesa.
Tinha ali um mix de sentimentos. De inveja de talvez não ver nunca mais meu time na série A, de raiva por terem vendido o meu time, e de felicidade de ver um estádio e uma festa da torcida tão daora!
Vida que segue.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cabelo de Emilia e Amanda


Certo dia desse ano escrevi o seguinte relato sobre minhas aulas:
"De tanto eu ouvir as crianças perguntarem sobre meu "cabelo de menina" resolvi imprimir fotos da Halle Berry, uma moça de cabelo curto, e do Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, quando ele era cabeludo. Pensei em ir um pouco mais além do que simplesmente homem de cabelo cumprido e mulher de cabelo curto, peguei uma imagem de uma moça preta com black power e do Bob Marley com seus dreads gigantescos, para mostrar a variedade de cabelos. Imprimi as fotos e as plastifiquei, pra ficar com um material que dure bastante e que eu possa andar com ele e usar sempre que possível.
A turminha que dou aula do infantil 2, tem alunos que estão comigo a 3 anos. Entre esses, tem a Emilia, uma garotinha preta, de pele bem escura, e a Amanda, que chegou na escola no início desse ano.
Eu já tinha mostrado ano passado as fotos com os diferentes cabelos, mas esse ano foi a primeira vez que enfatizei o black power da moça negra, e disse que era uma cabelo muito bonito que só quem tem cabelo crespo pode ter, assim "como a Emilia e a Amanda", falei. Mesmo conhecendo Emilia a 3 anos, eu nunca a vi com o cabelo solto, sempre preso, assim como a Amanda no decorrer desse ano.
Acontece que ontem na primeira aula, eu, como já disse, mostrei de novo as fotos e disse sobre o cabelo delas, e conversei com a Professora de sala sobre a atividade. Quando depois de alguns poucos minutos a professora me chamou, e pediu pra eu ver uma coisa que talvez tivesse relação com a minha atividade. As duas meninas, pela primeira vez, resolveram numa brincadeira de cabeleireiro, soltarem seus cabelos! Ficaram brincando normalmente, com seus cabelos soltos, assim como fazem todas as outras crianças de cabelos lisos quando brincam de cabeleireiro.
Amanda optou por prender o cabelo depois da brincadeira. Emilia não, foi embora com seu black power livre, leve e solto."
Agora não sou mais o professor dessa sala e nem de nenhuma outra sala, pois perdi minhas aulas. Pegou minhas aulas um fã de Bolsonaro.
Antes as crianças ouviam o professor dizer que era errado uns terem mais que os outros, ouviam falar em respeitar os amigos, agora devem estar ouvindo "viadinho", "fala que nem homem", "isso é coisa de menina", "racismo é mimimi e vitimismo".
Pra colocar uns tijolos um encima do outro são poucos, mas pra pegar uma marreta e arrebentar com o trabalho tem muitos. Ficaria espantado se Althusser já não tivesse me alertado.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

O pavão e a toupeira

O pavão é um animal bonito. Bonito e aparecido. Todos sabem onde ele está. Sua cauda impressiona e as pessoas o vêem mesmo de longe. É um bicho muito bom de propaganda.
Já a toupeira, nem todos conseguem vê-las. Nem todos sabem por onde passam seus túneis. Por mais complexo que sejam, alguns podem passar tranquilamente por cima deles sem notá-los. Ver de onde a toupeira sai e onde quer chegar, talvez não seja possível à olhos nus. Não é um animal aparecido.
Tem organização de esquerda com muito pavão pra pouca toupeira. Adora aparecer mas não faz trabalho de base!

Ser professor é igual um pão de queijo

Ser professor é igual ser um pão de queijo. Quando tiro a forma de pão de queijo do forno, dou uma balançada para que eles se desgrudem da forma. A princípio continuam ali, imóveis, inertes, mas é só o primeiro se desgrudar da forma que ele começa a fazer um bate-cabeça com os outros pães de queijo, fazendo com que os outros se desgrudem progressivamente. Conforme vão se desgrudando, ajudam outros a se desgrudarem. A diferença é que professores não ficam tão bons com requeijão. Ponto pro pão de queijo!

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A burguesia está em crise, e nós?

Os últimos episódios da política brasileira nos mostra a relação pornográfica entre empresariado e políticos. Não que essa relação seja nova, longe disso. Em 1848 Marx e Engels já falavam sobre. Mas os elementos que comprovam que o Estado nada mais é do que um balcão de negócios comum à toda burguesia agora estão escrachados. Mas porque?
Estão escrachados porque a Globo e seus pares estão fazendo questão de nos mostrar isso diariamente, de hora em hora. Mas fazem isso porque tem compromisso com o bom jornalismo? Jamais! Fazem isso pois estão rachados. A burguesia rachou. E não é apenas a Globo que rachou com algum setor, a Globo é poderosa mas sozinha não apita nada. A Globo descer a lenha em Aécio por 1h no jornal nacional e limarem Temer é expressão de que seus amiguinhos/financiadores estão pedindo cabeças. Pedem cabeças pois quem está no poder não lhe interessa mais, Temer já não estava apto a promover as reformas que tanto necessitam. Mesmo sendo um tradicional representante dos interesses burgueses, diferente dos recém capacitados do PT, Temer e Aécio por algum motivo precisaram rodar.
As veias do Estado estão abertas. Sua essência burguesa nunca esteve tão explícita quanto agora. E nesse quadro nossa classe tem algumas possibilidades. 1- Podemos ficar no "Fora Temer", e deixar que Maia, Eunício Oliveira, ou até mesmo que Carmen Lucia, que já está mancomunada com os patrões, cheguem na presidência. 2- Podemos também reivindicar o "diretas já" e continuar acreditando no messianismo, no salvador da pátria e nos iludir com Lulão pai dos pobres e mãe dos ricos, deixar aventureiros como Huck e o playboy do Dória galgarem algo, deixar como alternativa LuluLacradora ou FechoFreixoPPP , delírio, ou, ou, ou, OU... 3- podemos utilizar desse momento de racha da burguesia e mostrar os dentes, ir pra cima. Porque não ir além da Greve Geral do dia 28 de maio e paralisar agora por 48h? Parando a produção, transporte e circulação de mercadorias é que pressionaremos de fato os que estão no poder, os capitalistas. Paralisando mexeremos em seus bolsos, em seu lucro. O poder não está em Brasília. Em Brasília estão apenas os fantoches dos poderosos, e além disso, devemos ir pra Brasília pra que? Pra dizermos que estamos descontentes? Como se eles não soubessem disso, não são burros, e ainda são muitíssimo organizados.
E assim, "diretas já", "fora Temer", "constituinte", são em vão. É pedir mais do mesmo e acreditar que o máximo que está em nosso alcance se encontra nos limites da democracia-burguesa. Temer não nos interessa, assim como qualquer um que assuma a presidência do Estado burguês, nem que fosse Rosa Luxemburgo, e olha que a Rosa é muito boa! Não existe exército de um homem só, nem de uma mulher só, nosso exército é nossa classe e só essa se colocando em movimento é que deixaremos de perder direitos, deixaremos de sermos explorados e tomaremos o céu de assalto!
Temos que tomar cuidado com a esquerda que ergue o punho cerrado com uma mão e entrega o santinho com outra. Nada de cair no canto da sereia que são as eleições, e nem de nos iludirmos com o judiciário. Esse é o campo da burguesia e só dela. Devemos levar em frente as mobilizações de base! Nos organizando nos locais de trabalho, estudo e moradia para fazer luta, e não candidatos!
"Nem patrão, nem eleição, nossos direitos virão por nossas mãos!"

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Desonestidade intelectual

Reconhecer que Lula e o PT fizeram parte da história do movimento operário é ser sincero. O Partido dos Trabalhadores foi um instrumento de luta da classe trabalhadora. Reconhecer o seu papel na história de nossa classe é ser justo, e desconsiderá-lo beira a desonestidade intelectual.
Ter sido um dia não quer dizer que será para sempre. Foi, não é mais.
Reconhecer que essa organização que nasceu com a classe operária, virou o seu contrário e mudou de lado na luta de classes, também é ser sincero. Desconsiderar tal processo beira a desonestidade intelectual.
Essa mudança pode ser dolorosa, como o término de um relacionamento. Mas pior que terminar um relacionamento, é se manter por décadas em um relacionamento fracassado.
*Escolher um lado na luta de classes não é nem de longe escolher entre Lula e Moro!

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Contradições

O bancário, que mexe com dinheiro o dia todo, não tem dinheiro.
O açougueiro não compra carne a meses, sua mistura é ovo.
O metalúrgico que constrói fogões parcelou o seu em 12 vezes.
A professora da escola pública coloca seu filho pra estudar em escola particular.
A empregada doméstica trabalhava cuidando do filho dos patrões, enquanto sua filha ficava com a vizinha.
Contradições, contradições...

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A Portuguesa e a lava-jato.

Desde que me decepcionei com o futebol, quando a Portuguesa vendeu sua vaga na série A, só fui em jogos de outros times. Ver o Velo Clube tomando uma sapecada do Novo-horizontino em nada me abalava. Não torcia para nenhum deles mesmo.
Ver a briga entorno da Lava-Jato também não me abala. Não preciso tomar partido entre grupo da Kátia Abreu ou do Skaf. Tomar parte entre frações da burguesia se digladiando em disputa de maior poder político, de duas uma: ou está enganado ou está enganando.
Nas duas, fico só assistindo.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Meu pai e a reforma da previdência

Quando eu era pequeno e pedia algo para o meu pai, muitas vezes tinha como resposta um "depois a gente vê...". Quando eu voltava a reivindicar o reivindicado a resposta geralmente não mudava, "depois a gente vê". Com o tempo fui percebendo que essa era uma maneira eficiente de Seu Flor me engambelar.
A reforma da previdência vai passar, os trabalhadores não se aposentarão, perderão inúmeros benefícios, e assim como eu que só percebi que meu pai estava me enrolando depois de algum tempo, os trabalhadores só perceberão que serão velhos demais pra trabalhar e novos demais pra se aposentar depois de algum tempo.
Ou nos colocamos em luta, enquanto classe trabalhadora prestes a perder direitos, ou "depois a gente vê"...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Professor não é herói

Sinto lhes dizer, professor não é herói. Trabalhar sem condições mínimas e com baixos salários não é exclusivo dos professores. Porque não consideramos heróis também os trabalhadores da construção civil que constroem essas mesmas escolas? Sem eles não existiriam casas, nem prédios. Porque não chamamos de heróis os metalúrgicos que fazem tudo que possamos imaginar, desde caminhões à fogões? Sem eles seríamos os Flinstones, com seus carros movido à calcanhar, ou cozinharíamos até hoje com lenha. Porque não chamamos de heróis as faxineiras, garis, que deixam os lugares que frequentamos dignos de serem habitados? E os trabalhadores da saúde, e da cozinha...? Parem de glorificar uma profissão, como se essa fosse mais importante que as outras.
E digo mais, a educação escolar não vai mudar o mundo. Pode parecer duro pra você que acredita nesse ente superior, nesse deus, que é a educação, mas quanto antes você se der conta disso melhor pra nós. Quanto antes você começar a se ver como um trabalhador - explorado que é, que bate-cartão ao iniciar o trabalho como todos os outros- melhor pra nós. Quanto antes começar a se organizar se colocando contra quem te precariza e explora, melhor pra nós. Pior para os patrões e seus governos.
Professor não é herói, professor é assalariado, explorado e fodido, como outros tantos

Imagine só...

Imagine só, se no quilombo de Palmares, os pretos resistentes pensassem em se unir aos senhores de escravos, darem as mãos, contra o mal maior que era a corrupção da coroa?
Imagine só os escravos revolucionários no Haiti deixando de enxotar os franceses pois "somos todos seres humanos"?
Imagine os bolcheviques se aliando, em pleno fervor revolucionário russo, à Kerenski, em nome da governabilidade e da coalizão?
E se os guerrilheiros de Sierra Maestra ignorassem os camponeses cubanos, julgando ser isso um ato de sectarismo e extremismo?
É, pois é...