quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra no meio do caminho,
no meio do caminho tinha uma pedra
e você, o que fez?
Se lamentou deu as costas e foi embora
ou tentou fazer algo?
Pule por ela
e se não der,
já inventaram a britadeira,
exploda,
faça alguma coisa
mostre que tem brio!
Não fique esperando que ela vire areia
ou se mova sozinha,
para quando estiver com suas retinas fatigadas
ficar lamentado aos quatro cantos
tinha uma porra duma pedra no meio caminho
no meio do caminho tinha uma porra duma pedra
e eu nada tentei.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Futebol, atlética e movimento estudantil.

Jogo futebol desde que me conheço por gente. Desde quando comecei a me questionar sobre que profissão exerceria na vida adulta, o futebol era a certeza de um trabalho extremamente prazeroso e que poderia ser remunerado. Mas durante a adolescência, no colegial, fui vendo que minha habilidade não seria o suficiente para "entrar nesse mercado". Em outras palavras, eu não era bom o suficiente.

Paralelamente à esse interesse pela vida do futebol profissional e a descoberta da falta de habilidade para o mesmo, foi surgindo um interesse pelo estudos das áreas das idéias, das ciências humanas, da política. Até que um dia veio a tona, inevitavelmente, a seguinte questão: existem dois caminhos a seguir, 1-a única maneira de manter contato com o futebol seria cursar uma faculdade de educação física para ser técnico ou preparador físico, ou, 2-fazer um curso de humanas, quem sabe história? E me aprofundar na ciência das idéias. Essa dúvida foi quase uma goleada de 7 a 1, Alemanha-Brasil. Foi incontestável. Com certeza absoluta resolvi cursar Educação Física e manter um vínculo com o futebol.

Pois bem. Cursinho. Vestibular. Entrei na Unesp de Rio Claro. No decorrer do curso descobri que existiam duas modalidade na educação física. A licenciatura e o bacharel. A licenciatura, que possibilita dar aulas apenas em escolas e o bacharel que te possibilita trabalhar com tudo, menos em escolas. É claro que eu iria cursar o bacharel, para poder atuar com o futebol, mas essa escolha entre um e outro se daria apenas passados dois anos de faculdade. Aconteceu que nesse interím ocorre que fiz minha descoberta que mudaria a trajetória que tinha traçado até então. Descobri o movimento estudantil. Através do movimento estudantil retomei alguns questionamentos e reflexões abandonados até então em detrimento da opção pelo futebol. E mais, descobri, junto a graduação e ao movimento estudantil, o total vínculo entre política e o mundo dos esportes, a reprodução de valores, opressões, a legitimação de ideologias por meio dos esportes, e surge o novo interesse pela licenciatura, onde eu teria total liberdade de abordar tais temas fazendo uma analise crítica junto de outros sujeitos. Tinha descoberto a educação formal. Surge ai um interesse por lecionar em escolas, rebaixando o futebol a um mero hobby.

Dentro da universidade, pelo menos na Unesp Rio Claro, existe uma rincha clara e não declarada entre duas organizações. O movimento estudantil e a atlética do campus. O movimento estudantil, uma organização com fim de organizar os estudantes visando uma construção de consciência política, podendo até ter um viés combativo. Este acaba por rechaçar os espaços promovidos pela atlética, que possui um viés exclusivamente esportivista e festivo. Cada um se eximindo da área onde tradicionalmente o outro essencialmente se destaca. O movimento estudantil não promove a interação esportiva e a atlética não trabalha (até onde eu saiba, considerando que eu não sou onipresente) a construção da consciência política.

A atlética de Rio Claro, junto a outras atléticas, é quem promove os jogos interunesp, onde ocorrem disputas entre diversos camp em diversas modalidades. No ano de 2010, nesses jogos, ocorreu o episódio denominado 'rodeio das gordas', onde alguns babacas acharam engraçado abraçar mulheres gordas e fingir que estavam montando nelas, sem se preocupar com as consequências que isso traria para as mulheres. Para essas pessoas, elas não eram seres humanos, eram simplesmente gordas que mereciam ser alopradas rendendo algumas risadas. O episódio ficou famoso e os estudantes responsáveis foram suspensos por alguns dias, se não me engano ao início do ano onde mal há aulas. Em resposta à essa barbaridade, o movimento estudantil se organizou e promoveu um festival contra as opressões, com bandas e debates em torno do tema. Resultado: uma penca de sindicâncias e suspensões em resposta ao repúdio ao rodeio das gordas.

O episódia acima foi para ilustrar o clima que existe entre esses dois grupo. Um que sou extremamente vinculado pelas afinidades políticas e por ter participado por 5 anos e ter aprendido muito do que sei hoje, e o outro, em que acabo tendo vínculo por fazer 5 anos em que faço parte do time de futebol por ele organizado e que estou indo rumo a um evento por ele promovido com o intuito de competir com outros times organizados por outras atléticas.

Dos amigos e colegas de movimento estudantil sempre fui taxado de hipócrita por fazer parte do time de futebol que promove o rodeio das gordas. Dos amigos e colegas que fazem parte da galerinha atlética sempre fui taxado de grevista baderneiro metido a revolucionário. Nunca tive vergonha da segunda taxação, embora ela seja feita em tom pejorativo. Sempre tive vergonha da primeira.

O interunesp é sim um evento onde se exaltam opressões. Um festival de hinos extremamente machistas e homofóbicos, promovido por uma organização que nega a consciência política e limita a pratica esportiva apenas as pessoas já iniciadas, tendo como foco o rendimento. Promovem o esporte excludente talvez sem ter consciência disso.

Mas eis a questão crucial.
Hoje conversando com um amigo do movimento estudantil, comentei que iria ao interunesp de Botucatu. Fui reprovado pelo olhar e interpelado com a frase: "você, Chico?".
Sempre joguei futebol e com certeza não seria a pessoa que sou hoje se o futebol não fizesse parte de mim.  Tenho inúmeras críticas a atlética, mas é mesmo uma traição aos meus ideais querer jogar a porra de um campeonato universitário? É muito superficial fazer um julgamento maniqueísta quanto a isso, ainda mais vindo de pessoas que nunca vivenciaram o esporte de uma maneira intensa!

A Unesp é uma instituição homofóbica, elitista, racista, e ainda sim todos continuam estudando nela, pois necessitam fazer parte dela para adquirirem seus diplomas. E cadê o movimento estudantil se autodenominando hipócrita?

Tendo todos os defeitos que a atlética possui, ela promove um evento esportivo extremamente prazeroso e divertido. Sim, existem os idiotas que fazem idiotices, mas pra mim ele foi e é prazeroso e divertido. Se o movimento estudantil organizasse um evento assim, eu não pensaria 2 vezes para prioriza-lo. Mas ele não organiza. Não tem pernas pra isso, e não é e nem deve ser sua prioridade. Então já que é o único evento que propicia esses jogos, não me resta muita opção. Ou sou orgulhoso e inflexível e não jogo, ou eu deixo de lado esse orgulho político e faço uso do evento praticando o esporte que me levou as convicções políticas que tenho hoje. Eu prefiro engolir seco e jogar, apesar dos pesares.

Todos os lugares são passíveis de opressão. Todos. A opressão existe no movimento estudantil, em movimentos sociais, como não haveria em jogos universitários? As opressões presentes no interunesp não são exclusivas dele, e nós participamos desses demais lugares. E talvez, nós do movimento estudantil, até utilizemos os jogos universitários como bode expiatório, demonizado-o. Talvez por serem pessoas privilegiadas que possuem acesso a informação e a formação crítica. A crítica deve ser feita, mas se formos deixar de usufruir de tudo que possui contradições e onde temos opiniões divergentes, podem ter certeza que eu estaria utilizando um chinelo feito de pneu de beira de rodovia, morando em uma oca e estaria escrevendo em uma parede de caverna com uma pedra lascada.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Respeitem meus cabelos"... longos!

Sempre gostei de futebol. Quando pequeno a seleção que mais me chamava atenção era a seleção argentina. Sempre me interessei mais pela vontade e sangue quente que os cabeludos demonstravam em campo do que pela habilidade e "alegria nas pernas" dos brasileiros.
No videogame eu sempre escolhia a seleção Argentina. Tirava o Batistuta do ataque para coloca-lo na zaga para que ele saísse driblando o time todo e fazer o gol. Pelo menos quando jogava com irmão, primos ou colegas não havia concorrência, o único que jogava com a Argentina era eu mesmo.

Talvez por essa simpatia com a seleção argentina, por ter assistido muito Cavaleiros do Zodíaco -onde o Shiryu era o preferido-, ou até pela fase roqueiro na pré-adolescência, eu raramente cortava meu cabelo curto. Na infância era adepto do cabelo tigelinha, mas depois disso sempre cultivei cabelos compridos. As vezes mais, as vezes menos, mas sempre compridos.

Não sei afirmar ao certo qual é a razão que faz com que um marmanjo de 23 anos ainda tenha um cabelo no meio das costas. Muitos homens já o tiveram em sua adolescência, na sua fase de colégio, até mesmo durante a faculdade, mas acabam por abandonar o corte -ou a falta dele, como no meu caso- porque cresceram, passaram dessa fase, porque é mais prático (o que ninguém discorda). Mas não são esses os casos em que eu queria gastar alguns ATP's com esse texto. Queria me prender ao fato de alguns que não possuem mais cabelo compridos ou que nunca os tiveram pois "é cabelo de menina".

Na terceira série, quando estudava em um colégio católico, me lembro do dia em que fui chamado pela orientadora/bedel/coordenadora (sei lá o que que aquela mulher era) e ela começou a dizer que eu precisava cortar meus cabelos pois eles já estavam muito grande. Não me lembro se a explicação era por causa de empestações de piolhos na escola, mas se assim fosse, as meninas também deveriam ter sido "convidadas" a rasparem suas cabeças. Coisa que não aconteceu. Se a desculpa fosse outra também seria incoerente da mesma maneira. Acho que essa escola nunca tinha visto a imagem de Jesus.

Já em outra escola, após o termino da aula junto de minha mãe, passamos em uma padaria. Minha mãe após fazer o pedido para o atendente, é interceptada pelo sujeito que vira e pergunta: "e a menina, não vai querer nada?". Na hora eu não percebi o "menina". Só fiquei sabendo após minha mãe me contar, um tanto puta com o cara, que ele havia me confundido com uma menina.

Em uma apresentação da escola, onde os alunos dançavam, apresentavam instrumentos praticados, recitavam poemas, etc. fui o apresentador do evento, abrindo e anunciando as atividades. Ao fim do evento, meu pai e meu irmão, que estavam na platéia, comentaram que algumas pessoas sentadas atrás deles não sabiam se eu era menino ou menina, "mas deve ser menino, porque chama Francisco, né?!"

Já durante a faculdade, nos trabalhos com recreação e lazer em acampamentos e colônias de férias era comum ver as crianças se atentarem ao meu cabelo e fazerem indagações e afirmações como: "tio, porque você tem cabelo de menina?", "porque você usa coque de balé?", "você é menininha, olha seu cabelo! ha ha ha".

Durante uma excursão ao acampamento Sítio do Carroção com a faculdade, os monitores responsáveis por apresentar as dependências e o modo de trabalho do acampamento expuseram claramente, sem nenhum peso na consciência, que homens cabeludos não poderiam trabalhar no local e que os tatuados deveriam esconder de qualquer maneira suas pinturas. Quando questionados por mim sobre o porque desse impedimento responderam com uma desculpa nojenta jogando a responsabilidade no mercado. Responderam algo do tipo: "é o gosto dos nossos clientes e não podemos fazer nada a não ser acatar". E pra me deixar surpreso, a professora universitária -que compõe a universidade, o lugar da produção do conhecimento, do livre-pensar, da elite intelectual e blábláblá- que nos dava aulas e estava conosco na visita soltou o golpe final: "é que homem de cabelo comprido é sujo! Imagina a piscina como ficaria cheia de cabelos?". Aquela visita serviria também para eles garimparem pessoas para trabalharem no local, e antes de irmos embora fui perguntado se havia possibilidade de eu cortar meu cabelo para trabalhar lá. Quase fui. Só que não.

Que algumas crianças pensem dessa maneira e questionem a minha imagem que não condiz ao padrão construído de homem, eu até posso entender e até torna-se engraçado a sinceridade com que falam. Mas pessoas já marmanjas, com barba na cara, com título de Doutora, que já viu e viveu de tanta coisa, em pleno século 21, com pensamentos tão ultrapassados, pra não dizer retrógrados, é inaceitável.

É possível analisar os relatos de duas maneiras. Ser taxado de "menininha" no sentido de inferiorizar as mulheres e no sentido de inferiorizar os homossexuais.
Ser confundido com uma mulher não era e continua não sendo motivo pra se ficar indignado. Não teria problema nenhum se eu fosse uma, e eu mereceria o mesmo respeito que tenho sendo homem. Ser uma "menininha" não faria de mim um ser humano inferior e menos digno, nem mais sensível e indefeso.  E também não significaria que eu gosto de rosa.
Ser taxado de "menininha" também pode ser ofensivo aos homossexuais. Como se o fato de eu querer parecer uma menina pudesse fazer de mim diretamente um homossexual, e isso ser motivo de chacota.* Zombar do cabelo do outro, tentando desmoraliza-lo por ser um possível "viadinho" também acaba por colocar os homossexuais como pessoas de segunda linha, pessoas, assim como as mulheres, inferiores. Como se ser cabeludo fosse característica exclusiva de mulheres ou de homossexuais.

Eu não deveria ter me sentido ofendido com esse tipo de coisa, como me senti em algumas vezes. Já me senti ofendido, mas não me sinto mais.

Atualmente, quando crianças tomam essas atitudes, eu serei pedagógico e explicarei como sempre expliquei: "sua avó ou sua mãe tem cabelos curtos, não tem? Elas são homens por causa disso?". As crianças ficam com um nó na cabeça que só o futuro dirá se entenderam a mensagem ou não.
Agora, gente véia de guerra vindo fazer essas piadinhas, que não se sintam ofendidas em serem taxadas de opressoras. O machismo e a homofobia, assim como todas as opressões, permeiam todos nós. Alguns mais outros menos, mas estão em todos nós. Constatarmos sua existência já é um passo a frente na luta contra eles.

 *Nem toda pessoa que deseja parecer mulher é homossexual, sei disso. Mas como não domino as nominações corretas, não sei especificar corretamente, preferi pecar pela generalização do que me atrapalhar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Se o céu fosse a terra

Se o céu fosse a terra
todas as nuvens, local de descanso eterno dos anjos,
estariam nas mãos de alguns poucos urubus,
que cobrariam que os anjos tocassem suas harmoniosas harpas
para poderem permanecer nas nuvens.

Se o céu fosse a terra
os grandes conglomerados de nuvens, comandadas pelos urubus,
exterminariam as minúsculas nuvenzinhas rebeldes
que surgiriam após as tempestades,
comandadas por anjos que se recusavam a tocar suas harpas.

Se o céu fosse a terra
a água, derramada pelas nuvens,
seria de posse restrita do urubus
e estes urubus que determinariam
que apenas os anjos que cumprissem a cota de músicas tocadas
poderiam usufruir dela.

Se o céu fosse a terra
alguns anjos, seriam beneficiados rotineiramente com harpas novas
e estes teriam mais direitos do que os que tivessem harpas ultrapassadas
bem como os que tivessem suas harpas roubadas pelos urubus,
colocando assim, uns anjos contra os outros.

Se o céu fosse a terra
os urubus cobrariam músicas
dos anjos que tivessem suas harpas roubadas pelos próprios urubus
e estes diriam
que os anjos não tocam músicas
pois são preguiçosos e vagabundos.

Se o céu fosse a terra
a capacidade de inculcação dos urubus seria tanta
que eles fariam com que os anjos desejassem tornar-se urubus.
E alguns anjos passariam até a comer carniça para se parecer com eles.

Se o céu fosse a terra
alguns anjos sumiriam inexplicavelmente
e coincidentemente seriam os anjos que tocassem músicas que não seriam do agrado dos urubus.

Se o céu fosse a terra
para amenizar os conflitos entre urubus e anjos
seria criado um comitê de justiça celestial
onde seriam dados os vereditos sobre todas desavenças.
As causas ganhas do urubus seriam certas, tendo em vista que
eles escolheriam os santos que seriam membros deste comitê.

Se o céu fosse a terra
ele seria tomado pelo latifúndio e pela pecuária
e acabaria em algodão doce transgênico
e pastos de animais imaginários.





terça-feira, 7 de outubro de 2014

A árvore e o facebook

Existe uma velha questão filosófica que pergunta: se uma árvore cai no meio da floresta, mas ninguém viu nem ouviu, realmente essa árvore existiu?

O tempo passa, e a questão evoluiu.

Agora uma questão que anda permeando o facebook: fui a exposição do castelo rátimbum no MIS, mas não publiquei. Foto com o Godofredo eu não tirei. Nem com o porteiro nem com ninguém. Nem postei que por lá andei.
Será que fui mesmo a exposição?

Fui a um restaurante japonês e não tirei foto do meu temaki.
Comi batata doce com filé de frango e não avisei todos meus "amigos".
Fui a academia e não divulguei.
Fiz minhas unhas e não mostrei.
Será que fiz tudo isso ou não?

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Teoricamente pra mim você fez,
já que através da sua publicação eu tomei conhecimento
e como creio em você, acreditei ser verdade.
Mas, já que não tens "provas" concretas de que fostes a estes lugares
eu te pergunto:
Não seriam essas passagens frutos de falsas memórias?

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Falsas memórias eu não possuo,
talvez desejos escondidos onde não há claridade
Se analisadas tais pessoas, eu presumo
mostrarão o seu desejo de parecer celebridade

Se a esses feitos tivesse eu comparecido
sendo meu amigo você saberia, sem alarde
e não estaria compactuando comigo
a este mito da caverna que a todos invade

domingo, 5 de outubro de 2014

Eleições 2014



Que a derrota no governo de São Paulo e a aproximação do Aécio na disputa presidencial sirva de lição para o PT. Apesar de fazer sempre o jogo do empresariado, o PT é como o genro que é apenas suportado na casa dos sogros, mas ao primeiro sinal de conflito é escrachado. Faz o jogo das elites mas sempre que estas podem o metralham, através da grande mídia.

Com a derrota estadual, e a parcial vitória que necessita de muita cautela no governo federal, tomara que o partido e sua coligação repensem suas atuações, e que deixem de repetir como um mantra que a esquerda anti-capitalista é "a esquerda que toda direita gosta" e passem a levar em consideração suas críticas. A esquerda que a direita gosta, é aquela que se alia a ela, que se caracteriza como social-democrata, abandonando lutas construídas historicamente pela classe trabalhadora em pró da governabilidade. A linha entre a governabilidade e a contradição é tênue.


O PT, que serve ao Estado burguês-latifundiário, se aliando aos setores mais conservadores da sociedade, trouxe sim avanços pontuais e posicionamentos que o governo tucano não conseguiu, e sequer pretendia. Se com o governo petista a vida dos brasileiros melhorou da porta de casa para dentro, da porta para fora as dificuldades são as mesmas, como diz certa música: "o pé que usa chinelo hoje tem tênis pra calçar, mas ainda leva o corpo pro mesmo lugar".

Embora o PT com suas alianças, no contexto atual, não contemple meus posicionamentos e aflições, coloca-lo no mesmo balaio do PSDB é no mínimo leviano. Se com a reeleição de Dilma, o Brasil não verá nenhuma mudança significativa das políticas já praticadas pelos 12 anos de governo, elegendo Aécio sem dúvida é dar inúmeros passos para trás.

E como é necessário compreender que política eleitoral não se resume a estudo de teorias políticas, não votei nela no primeiro turno mas o que resta é votar na Deelma no segundo...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Oprimidos e opressores.

   Homens, brancos, heterossexuais de classe média e alta. Tenho uma coisa importante para dizer a vocês: vocês não são protagonistas das mudanças sociais. É isso mesmo, vocês não são. Podem até colaborar, e a meu ver, é o que devem fazer, colaborar, mas não protagonizarão. Talvez possamos (pois eu sou um dos que pertencem às classes já citadas) ser agentes contribuintes, esclarecermos aos nossos iguais nossos privilégios, a distância que nos separa dos desprivilegiados, mulheres, negros e indígenas, homossexuais e pobres. Nosso papel está em uma possível conscientização de que nossa vida possui mais facilidades que a vida dos demais. Eu nunca fiquei com medo de ser abusado sexualmente na rua a noite. Eu nunca levei uma lampadada na cabeça andando na Av. Paulista. Eu nunca entrei em uma loja e o segurança ficou de olho em mim por causa da cor da minha pele. Eu nunca tive que ir à casa de uma família cuidar dos filhos de outro enquanto deixava meus filhos sozinhos em casa. Fui enfrentar minha primeira consulta médica na saúde pública com 17 anos. Sou um privilegiado e por isso o papel que me resta perante os meus iguais, é de buscar conscientizá-los de que “privilégio come direito” (Eduardo Marinho). Salvo exceções, os que abdicam de sua origem social e acabam somando à luta, de diversas maneiras, as lutas populares, mas esses são minorias.

   Por outro lado, mulheres, negros, homossexuais e pobres. Sem vocês não haverá mudança social alguma! Alguns privilegiados conscientes, podem talvez preparar um terreno para tornar menos árdua a luta por uma sociedade igualitária, mas apenas vocês podem reverter a situação. Nenhum homem sabe melhor do que qualquer mulher quanto dói o machismo, nenhum branco sabe tão bem quanto um preto o quanto fere o racismo, nenhum heterossexual sabe tão bem quanto um homossexual como é ser discriminado. Sem a organização dos que sentem na pele a opressão, sem a consciência de que ser violentado não é natural, nada mudará. É imprescindível que se organizem, que estudem como se reproduz a opressão e que possibilitem meios de derrubá-la. Seus direitos, que são legítimos, devem se concretizar tomados de assalto! Apenas lutando se fazem valer direitos, diretos esse que não é nenhum papel que os define, e sim a consciência de que ninguém é melhor do que ninguém. Só os oprimidos podem se libertar da opressão, assim como só os oprimidos podem libertar os opressores de sua posição. O papel dos oprimidos na luta é primordial.

sábado, 26 de julho de 2014

Contradições

     Alaor tinha uma vontade imensurável de mudar o mundo. Alaor fazia parte de um projeto social que chamava “Uma casa para minha nação”. Alaor se sujeitava a ficar dias sem tomar banho, acordando cedo, dormindo tarde, trabalhando duro, para ajudar famílias a construírem suas próprias casas. Incontestavelmente uma nobre atitude. Alaor se dedicava ao projeto social em suas férias e em finais de semana, e o fazia com um grande sorriso no rosto. Na sua rotina comum, Alaor trabalhava em uma empresa na área das relações públicas, prestando serviço para outras empresas. Dentro dessas outras empresas estava uma que produzia matéria-prima para a indústria bélica. Alaor tinha uma vontade imensurável de mudar o mundo. Alaor fazia parte de um projeto social. Alaor fazia parte da lógica da produção de guerras. 


     Dona Adelaide era uma mulher religiosa, freqüentava a igreja do bairro em que morava. Fazia parte do projeto que doava roupas e cobertores aos desabrigados durante o inverno para que pudessem se aquecer. Dona Adelaide via na televisão que pessoas morriam nas ruas por causa das baixas temperaturas e sabia que poderia fazer algo. Não gostaria de sofrer assim, logo, não desejava isso para os outros, por isso ajudava como podia. Sua casa localizava-se em uma área nobre da cidade e sua renda a proporcionava viver em um nível de qualidade de vida acima da média da população. Dona Adelaide também era dona de um imóvel no centro da cidade, que estava desocupado. Dona Adelaide o deixava ocioso aguardando que a especulação imobiliária o valorizasse para posteriormente vende-lo e poder acumular mais dinheiro. Dona Adelaide ajudava os desabrigados fornecendo roupas e cobertores. Dona Adelaide tinha uma casa vazia que esperava valorizar.


     Ana Maria ficou sabendo que suas amigas estavam cortando os cabelos para que fossem feitas perucas a serem doadas às pessoas com câncer. Ana Maria se emocionou com aquela atitude e resolveu fazer igual. Não fez como sua amiga Mariana que cortou quatro míseros dedos, Ana Maria cortou o cabelo bem curto, como num trote de faculdade. Estava careca por uma boa causa, sabia que estava ajudando o próximo, traria conforto a pessoas que estivessem passando por tempos difíceis. Ana Maria trabalhava de secretária em uma gigante empresa do ramo do tabaco, chamada “Bomboro”. Ela fechava a logística das encomendas para onde seriam enviadas as caixas de cigarro. Ana Maria, ao cortar seu cabelo, sabia que tinha ajudado a alegrar uma pessoa com câncer. Ana Maria se solidarizava com elas. Ana Maria ajudava a vender cigarros.


     Tainá é vegetariana e milita contra o consumo de animais. Acredita que os nutrientes que precisamos para viver com qualidade podem vir de outras fontes. Tainá dizia que a maneira como os animais são confinados e abatidos é muito cruel. Tainá usa uma camiseta escrita “se você ama uns, porque come outros?”. Tainá faz suas compras no mercadinho da esquina e sabe que os produtos de lá são oriundos da agricultura familiar. Tainá trabalha em uma agência publicitária. Seu último trabalho, que a fez ser promovida, foi uma propaganda para uma empresa do agronegócio chamada “Mãosanta”. Tainá é uma profissional bem sucedida! Tainá milita pelo vegetarianismo e pela causa animal. Tainá faz propaganda para o agronegócio.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Aderbaldo

   Aderbaldo morava sozinho. Não tinha família. Não tinha cachorros nem gatos. Achava estupidez as pessoas carentes que chamavam seus animais de estimação de "filho". Nunca tinha ouvido notícias de um poodle que saiu de algum orifício humano.

   Apesar de gostar de passarinhos, vê-los presos não agradava Aderbaldo. Davam a sensação de prisão, sufocamento. Talvez pudesse ter um papagaio que ficaria solto pela casa, mas papagaios falavam demais e não sabiam o que falavam. Pra falar o que não sabem já bastavam as pessoas.

   Aderbaldo ia a bares e sentava-se sozinho. Tirava as demais cadeiras da mesa para que ninguém ousasse sentar ao seu lado. Nunca se sentava no balcão. Não queria interagir, apenas observar. As vezes alguns bêbados buscavam socializar com Aderbaldo, mas Aderbaldo fingia ser surdo. Sabia que não era uma atitude nobre, mas a preguiça do outro era maior do que o peso na consciência.

   Aderbaldo quando passava pelo caixa do supermercado, antes de esperar a atendente perguntar se queria adquirir o cartão fidelidade, concorrer ao vale comprar de 500 reais ou se queria CPF na nota, já se antecipava e dizia: "não, não e não, obrigado".

   Apesar de sempre sozinho, Aderbaldo não se sentia só. Mas como ser humano que era, as vezes fraquejava e tinha vontade de interagir com os outros. Nesses casos, Aderbaldo não dava 'boa noite' para o William Bonner, ele peidava perto dos outros. Era reprimido pelo olhar, e sorria.

   Aderbaldo não tinha celular, não fazia questão que soubessem onde ele estava. Ele estava onde gostaria de estar. Se não estava na esquina, era porque não gostaria de estar na esquina. Se não estava na quitanda, era porque não gostaria de estar na quitanda. Se estava na praça, era porque queria estar lá. A não ser quando tinha que ir ao banco. Quando estava lá, não queria estar. Não suportava a formalidade daquela gente que agia como robôs.

   Aderbaldo não gostava de ioga. Ele não conseguia fazer nenhuma daquelas posições malucas e achava que as pessoas escondiam suas mesquinhices através de uma cortina de exoterismo. Aderbaldo preferia ir ao teatro. Era melhor ver gente de mentira dizendo verdades do que gente de verdade dizendo mentiras.

domingo, 11 de maio de 2014

de Francisco a Chico


    Francisco não gostava de seu nome. Pensava que tinha nome de gente velha. Aliás, não só pensava, mas de fato o tinha! Que criança se chama Francisco, Gertrudes, Teodorico? E o apelido era pior. Ele odiava ser chamado de Chico. Ele não era caipira como Chico Bento. Francisco poderia ser nome de um contador de causo, de um tocador de viola caipira que fuma cigarros de palha, ou de um idoso que fica em sua cadeira de balanço na frente de casa com um cachorrinho lhe fazendo companhia. Porque não se chamar Lucas, Felipe, Rafael, como todos os outros meninos chamavam? Francisco não era nome de meninos de oito anos.

    Francisco não só tinha o nome de velho, como ainda tinha um sobrenome que agradava aos praticantes de bullyng de sua escola (bullying ainda não era bullying, era só um calejamento pra vida). Seu sobrenome era Pinto. Francisco Pinto frequentemente ouvia o comentário: “HAAAA ele tem pinto no nome!”. Até que um dia se cansou da piada e riscou a etiqueta do estojo com seu sobrenome polêmico. Ouviu de um colega: “HAAAAA ele não tem mais pinto!”. Todos riram. Engraçadíssimo!

    Francisco entrou na puberdade. Adorava rock! Era camisa do Guns N’ Roses pra cá, Nirvana pra lá, Ramones pra cima, Doors pra baixo, e de baixo do tapete um pouco de Negritude Jr. Nas bandas de rock, só nomes como John, Axl, Jim, Jannys, Joey, Paul, nada de Francisco. Durante as freqüentes viagens de finais de semana, Francisco e sua família ouviam música nacional. Mas Francisco não conhecia aqueles cantores e bandas. Não ouvia com muito gosto. Não o incomodava, mas também não se importava. Músicas esquisitas que diziam: “catolé do rocha praça de guerra, catolé do rocha onde o homem bode berra!”, existe homem bode? Gostava mesmo era das guitarras elétricas.

    Francisco pensava que Sepultura era MPB. Sendo a “música popular brasileira” toda música que a população brasileira ouvisse, nada mais lógico do que Sepultura se enquadrar nessa classificação. É óbvio. Só não entende quem não quer.

    Alguns anos mais tarde, Francisco descobriu que não havia problema algum em ouvir ritmos que são postos como antagônicos, como o pagode e o rock. Descobriu que quem os coloca como opostos são uns idiotas! Descobriu que poderia gostar de funk, pagode, samba e rock ao mesmo tempo! A vida é mesmo bela! Afinal, não existe o samba-rock? "Acabo de inventar o pago-rock!", pensou. Francisco descobriu que podia ouvir Pixote de manhã, Beatles de tarde, Queen de noite, e caso a insônia o pegasse desprevenido, poderia passar o tempo curtindo as músicas do Raça Negra (Luissss Carrlossss).

    Posteriormente Francisco passou a ouvir com freqüência as mesmas músicas que ouvia com sua família nas viagens de finais de semana. Francisco descobriu o nome daquele estilo musical nacional. Francisco tinha criado gosto pela MPB. Ouvia aquelas canções melosas, rebeldes, dramáticas, fossem simples ou obras-primas, sentia prazer com suas letras e melodias.

    Francisco descobriu que um dos cantores das músicas estranhas que ouvia em sua infância era Chico César. Um cara de cabelo engraçado que cantava belíssimas músicas que falavam sobre o nordeste, um cara que exigiu respeito dos brancos em relação ao desrespeito aos seus cabelos afro. Conheceu a banda Nação Zumbi, e descobriu que suas famosas músicas são de parcerias com o cantor Chico Science, um dos precursores do manguebeat, movimento que denunciava a especulação imobiliária pernambucana que destruiu os mangues da região. Através das aulas de história, sobre a ditadura militar, conheceu Chico Buarque e suas artimanhas para se livrar da censura e poder divulgar suas músicas que traziam à tona a realidade da época. Tortura, exílio e violência de Estado eram freqüentes em suas letras. E tirando essas, sobram diversas outras músicas românticas e tão bonitas e ricas quanto às dos outros Chicos.

    Aquele que quando criança odiava ser chamado de Chico, hoje, já crescido, não se envergonha de seu nome. Fica feliz por ter um nome diferente, que não seja comum como Lucas, Felipe ou Rafael. Francisco se orgulha de ter os mesmos nomes que Chico César, Chico Science e Chico Buarque. Hoje Francisco se apresenta a todos como Chico.

terça-feira, 29 de abril de 2014

A banana, o macaco e a ponta do iceberg

    O esporte tem uma imensa capacidade de explicitar características da nossa sociedade. A solidariedade, a competitividade, a agressividade, são algumas características que em momentos de intenso nervosismo vem à tona e tornam-se evidentes. O futebol é um esporte que culturalmente mexe com a sobriedade dos brasileiros e é possível, através dele, ver características claras de problemas que inevitavelmente geram certos debates. O superego não dá conta e o id da as caras.

    Nos últimos dias, após um torcedor jogar uma banana em campo em uma partida do Barcelona, o lateral, Daniel Alves, pegou a fruta e comeu. Muitos se sentiram contemplados pela ação do jogador, que acabou ironizando a ofensa do torcedor, que pretendeu, com seu ato, referir-se ao jogador como um macaco. Depois disso, repercutiu nas mídias a iniciativa do também jogador do Barcelona, Neymar, a hashtag “somos todos macacos”.

    É inegável que a atitude do Daniel Alves foi um tapa na cara do jumento do torcedor que atirou a banana e de todos seus iguais que insistem em dizer a mesma coisa nos estádios de futebol (ou no trânsito ou, nas relações de trabalho, etc). Foi inesperado e muito conveniente para o momento atual. Conveniente, pois abre espaço para trazermos alguns questionamentos que são frequentemente botados pra debaixo do tapete. O politicamente correto é muito bacana, mas acaba camuflando certos pensamentos. Algumas verdades precisam ser ditas e parecem que alguns setores fazem questão de deixá-las de lado.

    Nos incomodamos com o racismo explícito, o racismo que xinga, que violenta diretamente o outro pela negritude de sua pele. E não temos mesmo que suportá-lo. Lutar contra ele é um dever de qualquer um que se julgue racional. Mas este é apenas a ponta do iceberg. Como disse acima, o esporte reflete problemas da nossa sociedade. Ele nos mostra que o racismo existe, mas não mostra suas raízes, suas vigas e toda sua estruturação. Se o futebol pode nos mostrar a ponta do iceberg, nos cabe ir além e buscar onde, como e porque ele está enraizado e como superá-lo.

    A campanha #somostodosmacacos, parece muito bonitinha em um primeiro momento. Uma fofura! Todos de mãos dadas contra o racismo, êeeee! Mas não seria loucura palpitar que esses que se solidarizaram com essa campanha, são os mesmos que possuem os argumentos racistas contra as cotas. São os mesmos que acham que “não sou racista, tenho uma empregada negra”, e que pensam que dinheiro é fruto de trabalho. Dizer que “somos todos macacos” é ignorar a imensa diferença que existe entre os “macacos” do Morumbi e os “macacos” da favela Paraisópolis, que aliás, são os que limpam as mansões, cortam as florzinhas dos lindos jardins e cuidam de seus filhos. É ignorar que uns “macacos” recebem semanalmente batidas da polícia, tem suas casas invadidas sem saber o porque, tem parentes desaparecidos, enquanto os “macacos” cidadãos de bem, se sentem apavorados e clamam por justiça e pelo fim da corrupção. Esses últimos só fazem passeata pela paz quando perdem um de seus “macacos”. Nunca vi norueguês, alemão, italiano, nem Luciano Huck sendo chamados de macaco, não faz sentido se intitularem como tal.

    Peguntar não ofende (e se ofende, não deveria). Porque nos indignamos com o racismo no futebol, mas nos omitimos ao fato de um negro receber 57% do salário que um branco recebe? Porque é raridade vermos professores negros nas universidades? Porque na recente greve dos garis no Rio de Janeiro não havia nenhum branco? Porque nas passeatas dos médicos brasileiros contra a vinda dos médicos cubanos não havia médicos negros? Porque a PM mata mais negros do que brancos? Porque os atores globais não fazem campanha contra o genocídio da juventude negra ou contra o encarceramento em massa dos presídios?

    Todo esse episódio não pode nos deixar a impressão de que racismo e uma sociedade estratificada em classes são problemas distintos. Racismo e exploração são duas faces da mesma moeda. Não há capitalismo sem racismo. A elite precisa ter poder sobre classes subalternas pra se manter como está. E talvez, desconsiderar ou negar tal fato, seja contribuir para a desigualdade social.

    Não somos todos macacos. Aliás, ‘ninguém aqui é macaco’ seria muito mais apropriado. Eu, que sou branco, não tive meus antepassados escravizados por séculos. Meus antepassados nunca foram considerados objetos que eram usados e jogados fora quando não fossem mais rentáveis. Eu não sou um macaco, e o Daniel Alves também não o é, embora racistas pensem o contrário. Nada contra esses animais, mas fora alguns genes parecidos graças ao ancestral comum, nós não temos nada a ver.


terça-feira, 18 de março de 2014

Empresa júnior e Educação Física

   Muita coisa me incomoda na universidade pública. Muita mesmo. Mas uma das que mais me tira do sério é a visão empreendedora de educação. Essa é um visão medíocre e mercadológica. Alguns tem até a ousadia de dizer que podem mudar o mundo através do empreendedorismo, vinculando essa visão à preservação do meio ambiente, como se houvesse alguma preocupação com o meio ambiente quando se visa apenas o lucro. Lucro e questões sociais são coisas incompatíveis. Com essa educação empreendedora fica clara a tentativa de cooptar estudantes para a sociedade de mercado, onde pode quem tem mais, quem tem menos chora ou que tenha uma idéia mirabolante. Afinal, são as empresas que patrocinam governos, laboratórios e pesquisas. É preciso bajulá-las. Reflexo da educação mercadológica são as empresas júniors. Cobram mais barato por um serviço tirando propostas de trabalho dos já formados, precarizando a profissão (que exercerão mais tarde), e posam de mini-empresários, futuros engravatados.
O papel da universidade deve ser contribuir para sujeitos reflexivos da realidade que enfrentam, e não de acentuadores de desigualdades abraçando cegamente a falácia do livre-mercado. O papel da universidade tem que ser de questionador desse mercado!

   Sobre a Educação Física, historicamente ela se negava a pensar sua atuação para além de sua especificidade, e mais, se negava a obter especialidades erroneamente taxadas de serem de outras áreas, como a sociologia. Seria como querer estudar uma casa sem estudar seus pilares e suas paredes, você não a conhecerá devidamente. Isso de uns tempos pra cá vem mudando, mas essa visão macro dentro de Educação Física da Unesp Rio Claro enfrenta uma forte resistência de alas conservadoras que pensam a Educação Física apenas como sinônimo de coordenação motora ou prática esportiva. Nada contra essas áreas, são áreas fundamentais para o todo. Mas elas não são o todo. É importante ir além. As visões biológicas e esportivistas não nos resumem.


  É só ter uma visão mais ampla e crítica dentro da nossa área que conseguimos ver o equívoco que é uma empresa júnior. A visão reducionista de Educação Física não me contempla, assim como não me contempla uma empresa júnior na Educação Física. Não consigo ver com bons olhos que precarizem a minha profissão, e mesmo que não fosse minha, a dos meus iguais.
E para os que não entenderam nada do que eu disse acima, em outras palavras, to tranquilão de uma empresa júnior na EF!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Algumas considerações sobre os Black Blocks.

   Black Block não é um conjunto de pessoas que compartilham uma mesma opinião política, uma mesma idéia, não é um coletivo que se forma pela maneira de ver as coisas. Black Block é uma tática, onde supostamente essas pessoas fazem a segurança das pessoas que compõem uma manifestação, respondendo à possíveis ataques do braço armado do Estado, a polícia. Podemos tecer uma crítica sobre o método dessa tática, que é responder à violência com a mesma moeda, é questionável o ato de retrucar violência com violência, mas não é questionável seu posicionamento político, uma vez que esse não forma uma unidade.

   Não podemos generalizar sobre as pessoas que utilizam essa tática. Ao mesmo tempo que há Black Blocks nas manifestações por uma demanda popular, também os encontramos em manifestações elitizadas, como foi a manifestação contra o aumento do IPTU em bairros nobres, em São Paulo. Também não podemos dizer que as pessoas que utilizam dessa tática são da periferia, que são universitários, etc. Não é possível realizar tal afirmação porque não se tem comprovação disso. Eu acredito que façam uso dessa tática pessoas da periferia quem nunca leram Bakunin, universitários que nunca leram Bakunin, trabalhadores que nunca leram Bakunin, assim como acredito que existem tipos de pessoas embasadas na teoria anarquista que optam por utilizar ou não a tática. Tenho certeza apenas de uma coisa: não se tem certeza de nada em relação à isso. Chega a ser cansativo os comentaristas de plantão na televisão tentando descreve-los.
 
   Eu não queria entrar em juízo de valor quanto à essa tática, concordar ou discordar, mas confesso que não consigo repudiá-la plenamente. Acredito que em alguns momentos a violência é sim necessária tendo em vista que mudanças sociais não são feitas com pacifismo (a única exceção que temos é Ghandi, e que pra ser sincero, conhecemos muito pouco daquele contexto político-economico). Se pacifismo tivesse a capacidade de alterar status quo, 'free hugs' poderia ser um movimento revolucionário ou ser opção de método de luta, o que não é.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

16 coisas que aprendi na faculdade!

1- Estar em uma universidade pública, na maioria das vezes, quer dizer apenas que sua família teve dinheiro para te bancar em escolas privadas e cursinhos. Não significa que você é mais inteligente que ninguém.

2- Não é porque um sujeito está a mais tempo que você na universidade que ele tem o direito de gritar com você, te dar ordens, agredir ou exercer qualquer demonstração de poder. Talvez Freud explique tais comportamentos.

3- Os professores doutores na maioria das vezes não sabem muito além de suas especializações. Não se enganem, eles não são Deuses donos da verdade, e as vezes odeiam que sejam questionados.

4- É possível aprender mais durante uma greve do que em um ano de aulas ininterruptas. O que se descobre nas greves são muitas vezes tabus em salas de aula.

5- A faculdade pode atrapalhar seus estudos.

6- A vida universitária não deve ser igual ao 'American pie'. Desejar que esse período de sua vida se resuma à sexo e às drogas é jogar fora tudo que você pode aprender nessa nova fase. Não que os dois não façam parte deste processo, mas não se limite à eles.

7- Para ser homem e heterossexual não é requisito básico ter o fetiche de se relacionar sexualmente com duas mulheres ao mesmo tempo.

8-  Mais importante que do que o aprendizado acima é: você não deve ficar importunando as mulheres que estão se pegando. Por mais chocante que possa parecer, elas não existem para-lhe servir e satisfazer. Se elas não estão com você é porque elas não querem estar com você. A vida tem dessas coisas, engula isso.

9- Se dois caras estiverem se pegando, isso não diz respeito à você. Tenha nojo de quiabo, de chuchu ou de jiló, mas não de duas pessoas juntas.

10- Chamar os outros de "gay", "bixa", "veado" não te faz mais ou menos hétero. Você apenas estará zombando da preferência sexual de outro alguém. Alegar que é só uma piada é rir da discriminação alheia.
Obs: Mandar alguém "dar o cu" também não deve ser motivo de risada, é só mais uma prática sexual. Ninguém diz "vá penetrar uma vagina, HAHAHAHA".

11- Quando alguém me diz que frequenta a igreja, o terreiro, templo, etc. a única conclusão que posso tirar disso é que essa pessoa frequenta tal lugar. Ser religioso não é sinônimo de ser babaca. Existem babacas religiosos e também existem babacas não religiosos.

12- Se eu pudesse voltar no tempo e evitar a existência de duas pessoas, com certeza seria a de quem inventou o Lattes e a ABNT. Desgraçados!

13- Não esnobe alguém por não poussuir curso superior ou qualquer nível de escolaridade. Essas pessoas financiam seus estudos e possivelmente tem mais vivencias de vida do que você. Existem pessoas com diploma de curso superior que não sabem nada e pessoas que não sabem ler nem escrever que são PhD em vida. Volte seus aprendizados para melhorar a vida dos que não possuem os privilégios que você possui. Reconhecer nossos privilégios podem ser um primeiro passo para uma universidade e uma sociedade igualitária.

14- Descobri que existem pobres de direita, mulheres machistas e negros racistas. Oprimidos fazendo o papel de opressores.

15- Cursar humanas não significa que um sujeito seja politizado e um leitor assíduo da teoria marxista, cursar exatas não quer dizer que tal pessoa seja um nerd jogador de RPG, cursar Educação Física não quer dizer que seja um praticante de atividade física, cursar Biologia não te faz descolado, etc.

16- Jamais morar em kit-nets! Aprender a conviver com os outros é muito mais rico do que ter uma privada só pra você.  E quando morar em repúblicas, não fique etiquetando o requeijão e o arroz com seu nome, isso é ridículo.. A palavra "república" vem do latim "res publica", ou seja "coisa pública", logo, o que tem lá é de todos.
Obs: Essa regra não vale para escova de dentes!