quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Poema Não sei, só sei que é assim

Meus direitos foram retirados
enquanto eu dormia tranquilamente.
Meu salário diminuiu
no momento em que eu passava o café.
Ao pegar o ônibus,
ouvi rumores de que não teria mais 13º salário.
Depois do almoço,
li no jornal que não teria mais direito a aposentadoria.
Durante a tarde,
o encarregado nos disse que a jornada de trabalho passaria para 12h diárias.
Ao final do expediente
um colega me perguntou "o que fizemos para resistir a tudo isso?", respondi, "nada, ué, o que se há de fazer?".

sábado, 10 de dezembro de 2016

Poema pós-moderno

Temos que nos dar conta
que ainda que eu não receba uma lâmpada na cabeça
que a polícia não me considere um suspeito padrão
que ainda que eu não seja violentado no ônibus
assim como você, tenho calos em minhas mãos
Como você, baterei ponto ao chegar na firma
e apesar das nossas especificidades,
sentaremos lado a lado em nossos postos de trabalho,
sem qualquer lugar de fala
faremos os mesmos movimentos
nosso protagonismo apenas na produção
quando de repente diz o patrão, sorrindo cinicamente,
"vejam que belo, eu assim como vocês, sou cidadão!"
Quando nos dermos conta
que uns tomam lampadadas na rua e outros não
que uns tem o corpo violentado e outros não
que uns tem sua pigmentação criminalizada e outros não
mas que todos nós, os das mãos calejadas, temos o inimigo em comum
aquele mesmo que nos chamou de cidadão
apontaremos pra ele e diremos "revolução!"