sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Salah e o isaraelense

EI, PERA LÁ, MUITA CALMA, LADRÃO! Tem rolado uma informação/boato de que o atacante egípcio Salah deixaria de jogar no Liverpool se o time contratasse um jogador israelense que vem se destacando não sei aonde para jogar ao seu lado. Isso seria um apoio de Salah à causa Palestina. Vi algumas pessoas se posicionando a favor de Salah e acho que qualquer ponto de vista que problematize o Estado de Israel é bem vindo. No entanto, temos que diferenciar os israelenses do Estado de Israel. Não necessariamente o jogador israelense concorde com o Estado israelense, não necessariamente ele é um sionista. É bem provável que muitos ali concordem com o primeiro ministro Netanyahu e a corrida bélica promovida por lá, com as lições aprendidas com os nazistas e reproduzidas contra os palestinos, mas e os israelenses que se colocam contra isso? Vale dizer que lá existem também organizações comunistas. Assim como tem gente que detesta tudo e todos que venham do Estados Unidos, temos que ter em vista que no centro do capitalismo, no olho do furacão, há também trabalhadores, e alguns desses que se colocam em luta. Os trabalhadores estado-unidenses não são sinônimos do Tio Sam. Eu não sei quais os posicionamentos políticos do atleta israelense, mas é fundamental saber para se posicionar a favor ou contra Salah nessa história.

Armar ou desarmar?

Esse debate se coloca em diversos momentos de maneira dualista, tal como PT x PSDB, tal como Corinthians e Palmeiras. Ser contra a liberação das armas ou a favor da liberação? De um lado o debate liberal que visa apenas o direito do indivíduo em poder meter pipoco nos bandidos que querem roubar seu Uno velho, e por outro os pacifistas que delegam ao Estado burguês a segurança pública, como se a Polícia pudesse nos oferecer algum tipo de segurança. Nós, comunistas, não podemos cair nesse dualismo e precisamos ir além. Precisamos colocar esse debate dentro da ótica da luta de classes.
Antes de levantar qualquer argumento mais elaborado é necessário ter em mente que há um gigantesco lobby da indústria bélica acerca do tema. As ações da Taurus valorizaram 140% nesse ano eleitoral, acompanhando o crescimento de Bolsonaro. Intensificando o comércio de armas, como Bolsonaro pretende fazer, a indústria aumentará seus lucros as custas de muito suor dos trabalhadores. Isso é um ponto.
Um ponto fundamental é: se o debate da liberação das armas vem de encontro ao problema da violência será a presença ou ausência de armas que mudará esse cenário? A violência é oriunda da pauperização de nossa classe, do fetiche da mercadoria, da ausência de direitos básicos como lazer, saúde e educação. Todas essas ausências são problemas intrínsecos à sociedade capitalista e não acabarão enquanto a sociedade for baseada na exploração dos seres humanos por outros seres humanos. Não resolveremos a violência entre as pessoas de nossa própria classe enquanto houver patrões e pessoas que precisam se vender pra ter o que comer.
Um segundo ponto é a tendência desse debate cair no pacifismo. Pensar que violência não leva a nada pode ser muito interessante, para a classe dominante. Sabemos que as revoluções nunca aconteceram - e nem acontecerão - com cirandas ou abraçaços. É necessário pontuar que para a revolução dos trabalhadores acontecer nós teremos de mantê-la nem que seja a força. Nossos inimigos não aceitarão a perda do poder, não aceitarão a nossa revolta, e quando a polícia e seus trogloditas vierem nos reprimir nós teremos que garantir a nossa revolução. Não é não querer ser pacífico, é não poder. É saber que ser pacífico é ser submisso ao massacre que os patrões e seus governos farão contra nós por não aceitarem nosso avanço. Nosso avanço será a perda dos banquetes, a perda das viagens à praias paradisíacas, o fim de nosso trabalho análogo a escravidão, o fim das nossas mais de 40 horas de trabalho semanais, o fim do nosso suor e sangue financiando seus iates e mansões.
Por outro lado, começarmos a nos armar no momento atual, nos preparando para a insurreição é um delírio estilo Dom Quixote. Afirmar que precisaremos nos armar e que temos que ter isso em mente não significa que estamos em um processo revolucionário. Não devemos cair em um discurso de que já temos que nos armar pra ontem, não é isso. Antes é necessário no mínimo a termos fôlego para correr da polícia ou subir e descer meia dúzia de degraus sem ficar ofegante, corremos o risco até de uns malucos quererem pegar em armas pra defender o pelego do Lula. As armas serão necessárias, mas muita calma para não sexualizá-las.
Caindo na tentação das armas, conseguiríamos diferenciar nossa agitação dos liberais? Talvez estivéssemos dando mais forças para os membros de nossa classe que acham que bandido bom é bandido morto, que os nóias devem ser metralhados, entre outras aberrações. Fazer coro com esses é desconsiderar todo processo de empobrecimento já citado acima que os trabalhadores sofrem. Como carregar em nosso movimento o germe da luta armada sem nos juntarmos à estes?
Um outro aspecto é notarmos o discurso socialdemocrata que reivindica a democracia. Aquele valor universal que todos deveríamos ter, aquela que se tornou o horizonte de muito “socialistas”. Se a democracia é o eixo central de nossas lutas, não devemos nos esquecer que em 2005 houve um referendo sobre a questão do armamento e DEMOCRATICAMENTE a população brasileira votou pelo direito de se armar. Não seria Bolsonaro então um verdadeiro democrata?
Pra concluir essa rápida e inicial provocação... Precisamos ter em vista que "paz é coisa de rico". Nós não queremos o piegas "mais amor por favor". Junto com o amor tem que ter o ódio. Amor de classe e ódio de classe. Amor aos nossos camaradas, amor à uma sociedade igualitária e ódio aos exploradores. Ainda que o momento não seja revolucionário, não devemos cair na onda pacifista e nem na do armamento liberal. O Estado burguês nunca fez e nunca fará a nossa segurança. Nossa luta é contra os patrões e seus governos, não devemos nos contentar entre escolher um dentre esses dois lados que se parecem opostos, mas o são apenas na superfície.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Movimentos identitários

A grande diferença entre o movimento negro, movimento feminista e o lgbt+, é um tem relação direta com a luta de classes e os outros não. Um deles nasce no centro da luta dos trabalhadores e os outros com um pé lá e outro cá.
Falar de racismo no Brasil é falar de classes sociais. O primeiro modo de produção brasileiro foi escravagista. Toda uma economia baseada na força de trabalho escrava, pessoas que eram tratadas como propriedade privada, e esse modo de produção durou mais de 300 anos. O modo de produção brasileiro que substituiu o escravagista foi o capitalista, que apesar de superar algumas amarras do modo anterior é carregado de seus elementos. Um desses elementos, um dos principais, é o racismo. O racismo é estrutural no sistema capitalista porque na medida que os negros recebem menores salários, aumenta-se o lucro dos patrões destes. A esmagadora maioria da população negra brasileira é trabalhadora e não patronal. Então, falar de racismo é falar de luta de classes. E se não é, deveria ser.
Mas o movimento feminista difere nessa perspectiva do movimento negro. Falar de machismo não é necessariamente falar de luta de classes. Não apenas as trabalhadoras sofrem dede machismo, mas as burguesas também, não da mesma forma que as mulheres trabalhadores mas também sofrem. Quando a trabalhadora apanha do marido que virou uma garrafa de 51, ela engole o choro, vai buscar os filhos na escola e volta pro trabalho, tendo que seguir e fazer a janta. A burguesa quando apanha do marido vai pra terapia, tira uma semana no spa, e pede pra empregada buscar os burguesinhos na escola. As duas sofrem do machismo em diferentes contextos.
Ao ver a notícia de que centenas de mulheres foram estupradas por João de Deus, não nos importa muito a que classe essas mulheres pertencem para nos indignar. Nenhum ser humano merece passar por isso. Mas é inegável que as mulheres ricas responderão à isso de maneira diferente. Quando a Katia Abreu (guerreira contra o golpe) jogou vinho na cara do Serra confesso ter dado um sorriso de canto de boca. Foi bacana imaginar a cara do Vampiro cheia de sangue. Mas por outro lado seria um absurdo comemorar como o lacre de uma mulher emponderada. E foi um absurdo, pois comemoraram. Katia Abreu, latifundiária, burguesa, possui trabalhadores em condições análogas à escravidão em suas fazendas... é essa mulher que simboliza uma luta? Sim, de uma parte da luta do movimento feminista é, do feminismo que desconsidera a questão de classe.
Katia Abreu, Luiza Trajano, Thatcher, Le Penn, mulheres da família Civita, Frias, Setúbal, Votorantin, e todas as burguesas não merecem sofrer violência pelo simples fato de serem mulheres. Não merecem passar a vida na cozinha, cuidando sozinha dos filhos, serem agredidas, sofrerem estupro, ou qualquer misoginia ou serem estereotipadas. Aprender com o movimento feminista é fundamental para a classe trabalhadora que luta por um mundo sem explorados ou exploradores.
Se há mulheres em nossa classe a luta contra o machismo deve ser uma de nossas trincheiras. No entanto, enquanto o discurso hegemônico diz que as mulheres conquistaram o direito a trabalhar, há uma realidade de muitas que não condiz com esse discurso. Enquanto a algumas mulheres de fato não era permitido o trabalho, para a grande maioria o trabalho era uma necessidade de sobrevivência. Não apenas uma jornada de trabalho, mas várias. Trabalha-se em um trabalho regular, trabalha-se em bicos para complementar renda e trabalha-se em casa com serviços domésticos. Mas para o feminismo acadêmico, para a vertente palatável do movimento, só há o feminismo do não-trabalho. Será esse feminismo que libertará as mulheres da classe trabalhadora de seus algozes?
Evelyn Reed é enfática quanto à isso:
"Dezenas de mulheres participaram da manifestação de Washington, contra a guerra do Vietnã, em novembro de 1969, e depois em maio de 1970. Tinham mais coisas em comum com os militantes homens que marchavam ao seu lado, ou com a senhora Nixon, suas filhas e a esposa do procurador geral, que de suas janelas olhavam com desagrado aquela multidão e viam ali o espectro da uma nova revolução russa? Quem são os melhores aliados das mulheres no combate por sua libertação? As esposas dos banqueiros, dos generais, dos advogados abastados, dos grandes industriais, ou os trabalhadores negros e brancos que lutam por sua própria libertação? Não estarão homens e mulheres, nos dois lados da luta de classes? Se não é assim, a luta deve se voltar contra homens, mais do que contra o sistema capitalista."
Ultimamente a Rede Globo tem inserido constantemente em sua programação as pautas identitárias e as opressões. A noturna Fernanda Lima é a nova liderança junta a seus convidados e Fátima Bernardes faz a lacração matinal tendo Kéfera como a última diva. Nos intervalos, comerciais lacradores surgem há alguns anos buscando ampliar as vendas como se comprando certos produtos estivéssemos lutando contra as opressões, como se existissem empresas com """"responsabilidade social"""". Devemos ficar de olhos abertos aos cavalos de tróia que surgem por todos os lados, do lacre ao lucro em 2 minutos. Quando a família Marinho começa a intensificar um discurso contra as opressões é necessário sabermos o que está vindo por ai. Eles e seus sócios, os que moram em seus condomínios, que viajam junto à eles e são convidados de suas festas, que andam de iate e carro importado, não deixarão de explorar as mulheres trabalhadoras. Eles apenas cooptarão a narrativa de que o inimigo das mulheres são os homens. Que os inimigos dos negros são os brancos. Ainda que esses homens e brancos sejam um desempregado com uma família pra criar ou um morador de rua.
Se no capitalismo o machismo com certeza não acabará, quando nós o derrubarmos também não é a certeza de seu fim, mas sem dúvida se abrirá a possibilidade.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O torcedor de sofá e o militante de facebook.

Um torcedor que se limite a ver os jogos do sofá de casa via televisão, ainda que cante junto e tenha taquicardia ao ver os jogos, não deixa de ser um torcedor de sofá que em nada altera a realidade do jogo. Vive o esporte da maneira mais distante possível, no máximo zombando os colegas no dia seguinte.
Muito diferente dos torcedores que ainda não tenham a última e moderníssima camisa do time, outros frequentam o estádio, apoiam o time quando tem que apoiar, xingam quando tem que xingar, se envolvem com a organizada e influenciam à sua maneira o jogo.
Quando a esquerda -ou os progressistas, tanto faz- se limitam à colocar fotinhos de resistência no facebook, não fazem nada mais do que os torcedores de sofá. Estão apenas torcendo. Quando se organizam em partidos, sindicatos, oposições, grêmio estudantil, centro acadêmico, associação de bairro, etc., aí sim participam da luta, tornam-se sujeitos, e não mais espectadores.
O último período político que vivemos nos ensinou que lutar é igual a votar, e que basta deixarmos com as pessoas certas que elas farão por nós. Terceirizamos as nossas lutas e perdemos o controle, e é por isso que as eleições são a ilusão da classe trabalhadora. E é por isso que desembocamos no Bolsonarismo.

Dizer "eu avisei" quando a alternativa posta é a pelegada social-democrata, seja vermelha ou amarela, é tosco. Se estamos dizendo "eu avisei" é porque nos falta um "vem com nóis". Não temos alternativa consistente à onda direitosa que está posta. Precisamos de uma alternativa. Uma ALTERNATIVA SOCIALISTA.
Não sejamos torcedores de sofá, não sejamos espectadores da política reacionária que a direita e parcela da esquerda tentam nos empurrar goela abaixo.
Nem patrão, nem eleição, nossos direitos virão por nossas mãos!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Maria Eunice Paiva

Sabem aquela música que todos vocês conhecem "O bêbado e o equilibrista"? Sabem aquela parte que diz "choram Marias e Clarices no solo do Brasil"?
Pois então, essa música fala sobre o momento de anistia, momento de volta de todos os exilados, de não volta dos executados. O trecho das Marias e Clarices diz respeito à Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, morto na ditadura pelos militares, e à Maria Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, outro morto pelos militares.
Hoje o AI-5 faz 50 anos. Com esse ato institucional os militares endureceram sua ditadura, apertaram o cerco. Passaram a matar mais, torturar mais.
Hoje Maria Eunice Paiva faleceu.
Sofria de Alzheimer. Talvez, por conta da doença, ela não estivesse compreendendo o que vem acontecendo no Brasil nos últimos tempos. Talvez ela não lembrasse mais todo sofrimento que passou. Mas nós lembraremos. Lembraremos de tudo que a ditadura militar fez à nossa classe e será nosso inimigo todos que exaltarem seus trogloditas, Ustras, Fleurys, Curiós, etc.
Descanse em paz, Maria Eunice.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Peão

Eu queria ser um peão
não de rodeio, mas de madeira e barbante
daqueles que são apanhados pela molecada
e descansam na estante

Daqueles que rodam no asfalto e nas calçadas
passam pelo entre-dedos
e pela mão de crianças
ainda não calejadas

quando mal sucedido o rodopio,
bastaria me enrolar
e me lançar novamente
fecharia os meus olhos
e descobriria como um peão se sente

Mas peão de brinquedo a vida não me quis
ainda que eu rode bastante
seja enrolado pelos outros
e sinta o calor do asfalto
o mundão doente não me deu a liberdade
talvez isso seja pensar muito alto

Mas peão eu já sou
só que a labuta não me deixa ser peão de brinquedo
só peão de suor
peão de fábrica
de ir trabalhar cedo

Quem me dera ser
uma simples madeirinha rodante
sem encarregado e sem patrão
sem trabalhar de segunda a sábado
à base de pingado
e nem ter meta de produção
como eu queria rodar e roda e rodar
e ser outro tipo de peão.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Cio da terra

Quem debulha o trigo?
Quem recolhe cada bago do trigo?
Quem forja no trigo o milagre do pão?
São os mesmos que se fartam de pão?

Quem decepa a cana?
Quem recolhe a garapa?
Quem rouba da cana a doçura do mel?
São eles que se lambuzam com esse mesmo mel?

sábado, 1 de dezembro de 2018

Cadeia alimentar

A zebra corre do leão
o orangotango do tigre
o rato do gato
a cobra do gavião
o salmão do urso
o papa-léguas do coiote
a mosca da aranha
a tartaruga do tubarão
o passarinho do caçador
e o trabalhador da polícia

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Quem são nossos camaradas?

Imagine que, hipoteticamente, a revolução ocorra.
Hipoteticamente, sejam construídas trincheiras para combater nossos inimigos.
Ao longe, avistamos policiais, militares, pessoas de altos cargos nas empresas, RH's, todo o chorume de governantes e até ex-presidentes.
Avistamos também alguns que até pouco tempo trabalhavam ombro a ombro conosco.

Nossos fuzis são poucos e, hipoteticamente, restam apenas pedras e estilingues.
Quem os pegará?
Seu nome não entrará para a história, ninguém lembrará de você.
Ninguém baterá palmas quando te encontrar na rua.

Mas você sabe de que lado da trincheira você estará.
De que lado você, hipoteticamente, estará?
De que lado você está nesse exato momento?

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Onde repor as energias?

Os alpinistas depois de um esforço intenso costumam repor suas energias em seus acampamentos. Lá eles renovam as energias para uma nova caminhada.

Mesmo esforço intenso exercem os maratonistas, que durante as corridas aguardam os pontos onde ajudantes entregam copos d'água, podendo assim se reidratarem.

Mas eles são esportistas.
Onde o trabalhador comum repõe suas energias?
Não a do sono, não a da comida.
Aquela energia que nos dá sentido a vida
Que nos conforta para continuar no trabalho desgraçado.
O trabalho nos suga.
O lazer não suga, mas também não reabastece.
Há quem diga que a pinga é um bom remédio.
Há quem diga que rivotril também o é.

Onde repomos nossa energia e limpamos as lentes de nossos óculos?
No partido,
No nosso partido.

domingo, 18 de novembro de 2018

Contra o futebol moderno


Ser contra o futebol moderno não é ficar repetindo frases do estilo "cenas lamentáveis", "todo dia um 7a1 diferente", "lei de gil", "didico" e outras coisas de mocorongo.

Ser contra o futebol moderno é saber (consciente ou inconscientemente) que, assim como tudo no capitalismo, o futebol é mercadoria. Não importa a paixão, o que importa é dinheiro. Compra e venda de vagas, de jogadores, de copas e campeonatos... vale tudo em função do lucro. 

Para o capitalismo monopolista vale a pena rebaixar quantos times for necessário, precarizar ao máximo times com menor poder de marketing pra beneficiar os gigantes em vendas e seus patrocinadores. Centralizam o capital e privam os trabalhadores de viver o esporte de perto.

Mas a luta não para.
Socialismo e futebol pra todos!

Versatilidade

Jogar futebol
Lutar boxe
Andar de skate
Ser professor
Estudar política
Tocar violão e pandeiro
Escrever poemas
Como uma única pessoa consegue fazer tudo isso?
É fácil, sendo medíocre em tudo que faz.

sábado, 10 de novembro de 2018

Não é o momento

Não é o momento para criticar o partido.
Não é o momento para criticar as velhas práticas.
Não é o momento de falar em revolução.
Se não hoje, quando então?
Se é agora que o trabalho me adoece?
Se é agora que não me aposento?
Se é agora que sou demitido?
Se é agora que dizem que nossos direitos são privilégios?
Quando então será o momento?
Como as crianças que pedem algo aos pais: "na volta a gente compra"?

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Clientela

Professores, parem de se referir aos alunos como "clientela". Quem tem cliente é a NET, o McDonalds, é a pizzaria da esquina. Trabalhamos em escolas municipais, portanto, não temos clientes, temos alunos e comunidade escolar. Tá okey?

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Carta de um trabalhador arrependido

Gostaria de assumir em público meu voto na última eleição. Meu voto foi em Jair Bolsonaro. Não tenho vergonha em assumir isso porque votei convicto. Da mesma maneira que votei convicto, convicto assumo que me arrependi.
Hoje percebo que tendo passado a reforma da previdência trabalharei até meus 70 anos, ou mais, trabalharei até morrer. Quando ele disse na campanha que os trabalhadores teriam de escolher entre ter direitos ou ter emprego eu não dei bola. Minha filha está grávida de 8 meses e continua trabalhando, pois não consegue licença, assim como meus colegas de trabalho doentes e lesionados que não conseguem mais afastamentos e trabalham mesmo sem ter condições de trabalhar, aprofundando as enfermidades. O salário diminuiu, a gente anda comendo menos carne e mais ovo e frango. O Natal tá chegando e não sei como vou fazer com os presentes. Cortar o décimo terceiro foi sacanagem!
O pessoal do serviço até comenta em greve, mas tem medo da polícia vir aqui e arrebentar todo mundo. Dizem que os tiras tão com sangue no zóio com todos agora que não tem mais dor de cabeça pras coisas erradas que fazem. Ouvi dizer que chamam de "excludente de ilicitude", né?! Nome bonito pra matar inocente e não sofrer consequência nenhuma.
Aumentaram também a lei anti-terrorismo, da Dilma, lembra? Hoje qualquer protesto é terrorismo. Onde já se viu? Querer ter um salário melhor virou terrorismo!
Acho que se o tal do Fernando Andrade tivesse sido eleito pelo menos essa parte da polícia não acontecia tanto, por não ser militar. Mas é isso, trabalhador as vezes é igual criança. Não adianta dizer que se colocar o dedo na tomada vai tomar choque, ele tem que ir e tomar o choque pra aprender. Eu só queria que esse choque fosse só jeito de falar e não que fosse a tropa de choque e a cadeira elétrica.
José da Silva
5 de novembro de 2020.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Carro-chefe

O PCB foi o primeiro grande partido da esquerda brasileira e por vários anos foi o carro-chefe das lutas dos trabalhadores, até 64. Com o golpe ficou claro que sua estratégia de considerar a burguesia nacional aliada da classe trabalhadora era um equívoco.

 Em 80 nasce o PT, a contragosto de alguns que consideravam que a classe trabalhadora já tinha um partido, o destroçado PCB. O PT surge com uma nova estratégia e fazendo a crítica aos caminhos percorridos pelo partidão. Se torna o carro chefe das lutas, compartilhando do mesmo projeto democrático e popular de CUT, MST e seus satélites. 

Se os que resolveram fundar o PT tivessem optado por permanecer dentro do PCB, fazer oposição interna, teríamos nós rompidos com a estratégia do pré-golpe? Era possível uma auto-crítica de dentro do PCB? Não, não era, e a construção do PT foi fundamental para o avanço das lutas. Da mesma maneira, o rompimento com a estratégia democrática e popular, que possui o PT como carro-chefe, não se dará dentro do Partido dos Trabalhadores. A estratégia esta impregnada de conciliação entre as classes, classes essas que são inconciliáveis. 

Qual será a próxima estratégia e qual será o próximo carro-chefe eu não sei, mas qual estratégia não será e qual partido não será isso eu tenho certeza.

Não vai ter "autocrítica", não vai ser por dentro, não vai ter a benção do Lula... vai ser na marra e no decorrer de nossas lutas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Vitória do Bolsonaro, vitória do fascismo

Não fiquem com medo, fiquem com ódio. Assumam a angústia, mas saibam transformar ela em luta.
Que metade das certezas virem dúvidas e a outra metade convicção.
Que todo lugar se torne trincheira, a escola, a fábrica, o futebol e a igreja.
Troquemos a militância periódica por a militância de todos os dias. Derrubemos o fascismo, o sindicato pelego e depois o partido da conciliação.
Luta de classes não é aquela coisa antiga dos livros de história, é o que vivemos agora, e se você não está feliz sabemos de que lado você está!
Firmes, camaradas!
À luta!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O jabuti e a árvore

Há poucas chances do PT ganhar essa eleição, e ainda que ganhe, tem chances de ganhar e não levar - e eu apostaria nisso.
A primeira é que Haddad ganhe e nem assuma, por motivos jurídicos envolvendo-o em corrupção, em fraudes eleitorais ou coisas do tipo.
Pode ser que ele ganhe e seja minado pela oposição e congresso, tal como o segundo governo Dilma. Começa o governo e não termina.
Há quem acredite em um improvável golpe militar. Não é a tendência, mas é sempre uma possibilidade tendo em vista nossa cultura lambe-botas.
Seja qual for o desdobramento histórico, mesmo com o melhor -ou menos pior- dos cenários que é a vitória do Haddad, o espectro do fascismo está posto. Podemos continuar olhando pra ele de 2 em 2 anos, pensando apenas em eleições, como temos feito nos últimos 30 anos, ou podemos romper com o vício eleitoral.
Como disse um experiente camarada, "jabuti não sobe em árvores". Se ele está em cima da árvore é porque foi colocado lá. O fenômeno Bolsonaro foi contruído por uma classe média reacionária, que ganhou o apoio da burguesia, e que juntas conseguiram destilar seu veneno dentro da classe trabalhadora através de muitas notícias falsas e moralismo. Ganharam força na medida que as organizações dos trabalhadores se esqueceram do cotidiano massacrante que passamos diariamente nos nossos trabalhos, se habituando ao ar condicionado, terno e gravata, papel e caneta, seja nos cargos públicos ou na estrutura sindical.
Combater apenas o jabuti na árvore está sendo há algum tempo o papel da esquerda reformista. Qual é a tarefa daqueles que não se submeteram à conciliação capital/trabalho?
Nosso papel é não ser seduzido pela disputa do Estado, não sucumbir da luta dos trabalhadores contra os patrões. A lógica da representatividade burguesa contribui apenas para a dominação de classe na medida em que as organizações de esquerda incorporam isso como central.
Fascismo não se combate apenas nas eleições, muito menos fazendo toda a classe trabalhadora acreditar que passou ser classe média. O fascismo se combate é na luta contra os patrões e seus governos!

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Eleições 2018 (2)

O ponto mais alto que a social-democracia brasileira chegou foi nos governos Lula. Um pretenso estado de bem-estar-social parece ter sido alcançado, não nos moldes da social-democracia européia, mas à nossa maneira e especificidades. Tendo chegado ao ponto mais alto, como a física nos ensina, um objeto tende a cair, e começou a cair. Os governos de Dilma e o impeachment foram prova disso. A prova mais cabal da queda da social-democracia brasileira, e que mostra que talvez ela esteja em crise pra nunca mais voltar como antes na história desse país é a eleição do último domingo. A estratégia democrática e popular parece se esvair muito mais rápido do que demorou pra se construir. Um enorme número de trabalhadores votando num candidato fascista é sinal de que a esquerda (dentro de toda sua variedade) não consegue emplacar. Parecem não se importar com a perda de direitos, mas se importam com o suposto kit-gay. Em algum lugar nós erramos.
É hora de repensarmos nossas ações, não a autocrítica piegas e cristã que cobram o PT, mas uma reavaliação de nossas estratégias, de nossos erros históricos, e para isso, algumas perguntas são necessárias. 1- Estamos conseguindo conter o avanço da direita? 2- Nossas organizações vem agindo corretamente e os trabalhadores não estão conosco porque são uns ingratos? 3- Nos debruçando totalmente nas eleições conseguiremos avançar nas lutas contra a retirada de direitos e rumo a novas conquistas? 4- É na via institucional que continuaremos insistindo? 5- O que nos mostram as experiências passadas? O que temos a aprender com elas?
O momento requer mais perguntas do que respostas...

Eleições 2018 (1)

Eu desejo sinceramente que o PT se exploda. O partido que já foi um instrumento de luta, que surgiu do renascer da movimentação dos trabalhadores é hoje um desserviço pra classe trabalhadora. Aparecem só em ano eleitoral usando um linguajar que não condiz com suas práticas a tempos. Se eleito, com certeza nós teremos muito a perder. As reformas virão em nossa cabeça, provavelmente a onda direitosa se intensificará e ainda tem grandes chances do Haddad não terminar seu mandato, pois assim como em 2014, o processo eleitoral não vai acabar no dia da eleição.
Odeio mais ainda o arrombado do Bolsonaro por me fazer votar nessa pelegada amiga dos patrões mesmo querendo muito não votar. Vou enfiar minha mão na merda e tentar tapar o nariz com a outra.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Cidadão de bem de 1973 e o de 2018

Era uma vez um policial. Quando estava fora de expediente quase sempre estava em casa com sua esposa e seus filhos. Era um marido muito carinhoso, tendo o hábito de levar flores e cartões para a mulher. Era comum ajudar as crianças nas tarefas de casa e após isso brincar com elas. Era simpático e cordial com os vizinhos. Frequentemente ajudava em festas beneficentes. Durante o serviço sua função era arrancar informação dos presos, a qualquer preço. Para isso dava choque nas genitálias e espancava-os. Nas mulheres, estuprava e chegou a colocar baratas em seus corpos. Quando matava, sumia com os corpos os jogando em alto mar.
Era uma vez uma professora. Era carinhosa com seus alunos e não media esforços para que aprendessem a ler e escrever. Planejava boas aulas e se preocupava muito com os que tinham dificuldades. Sempre auxiliava os professores iniciantes. Sempre sorridente, descontraída, seus colegas davam muitas risadas com ela nos horários de café. Quando soube que uma crianças de 9 anos morreu após roubar um carro comemorou, afinal bandido bom é bandido morto, mesmo que esse bandido tenha a idade de seus alunos - 9 anos. Não suporta ver nada vermelho e repassa correntes dizendo que Pablo Vittar será o próximo ministro da cultura. Morre de medo de uma ditadura gayzista-bolivariano-petista, e da doutrinação marxista nas escolas. Prega voto em Jair Bolsonaro.
O cidadão de bem de 1973 talvez não esteja tão distante do de 2018.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

7 de setembro e as linhas imaginárias

Eu já tive uns amigos meio xaropetas que na infância tiveram amigos imaginários. Eles cresceram e os amigos foram embora.
Mas diferentes desses amigos meus, que deixaram os amigos imaginários irem embora, grande parte de nós ainda acredita em coisas imaginárias. Não em amigos, em linhas! Não é doido? Aprendemos a vida toda que o que separa os países são linhas, mas quando chegamos perto de onde deveriam estar elas nunca estão.
A escola, desde que somos pequenos, nos inculca uma devoção patriótica completamente irracional. Nos dizem que devemos saber o hino, amar a pátria, honrar a bandeira e até morrer por ela, de maneira que mais nos parecemos como cachorros praticando a fidelidade canina.
Que diferença tenho eu dos professores chilenos? Que diferença tem o operário brasileiro dos operários japoneses, explorados e massacrados cotidianamente? O jovem da periferia da África do Sul não tem a mesma pele negra e tem os mesmas condições de vida que os jovens daqui?
Se pegarmos o mapa da África, não é surreal que as linhas imaginárias pareçam terem sido feitas com régua? Um bando de invasores parece ter se sentado em uma mesa e decidido quem ficaria com qual parte daquele território que não era de nenhuma deles!
Enquanto os patrões utilizam os seus Estados para manter e aumentar seus lucros, as linhas imaginárias só existem para nós, trabalhadores, e não para eles.
Curioso é assistir ao jornal e ver que fronteira só existe para os pobres sempre que tentam cruzar os países, são barrados, presos ou mortos. Os ricos não. Para o capital não existem fronteiras.
Não temos nada a comemorar com feriados nacionalistas. Enquanto alguns gozam de sentimentos patrióticos no 7 de setembro, muitos perdem suas famílias por contas de linhas imaginárias. Os venezuelanos, sírios, mexicanos, palestinos, e vários outros sabem bem o que é isso.
Nossa pátria é a classe trabalhadora e nosso hino é a Internacional. Que comemoremos o dia da independência, não da colônia, mas das organizações independentes da classe trabalhadora.
E quem diria que os amigos imaginários seriam menos prejudiciais do que as linhas imaginárias.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O fascismo mora ao lado.

Mussolini era membro do Partido Socialista italiano, tal como Gramsci. Era ligado ao sindicalismo e teve grande apoio popular.
Quando todo o temor do fascismo da "nossa esquerda" se reduz ao medo do Bolsonaro ser eleito, e quando lembro que a lei anti-terrorismo não foi decretada por nenhum direitoso, é sinal de que nossas organizações estão capengas de análises.
Talvez nosso Mussolini use símbolos dos trabalhadores, use vermelho e talvez até nos chame de "companheiros".
Tenhamos cuidado.

domingo, 29 de julho de 2018

A morte



A não ser que estejamos falando sobre respirar e chorar, ninguém nasce sabendo das coisas. Tudo se aprende, ainda mais quando diz respeito à morte. Assim como tudo na vida, só se aprende a lidar com ela quando demos de cara com essa coisa. Quando morre nossa primeira pessoa querida ficamos sem chão, mas na medida em que isso se repete vamos aprendendo a ver com naturalidade. Morrem avós, amigos, pais e vários bichos de estimação e passamos a ver -por mais redundante que possa parecer- essa coisa natural que é a morte com naturalidade. Algumas pessoas se vão e outras chegam em nossas vidas, esse é o ciclo. Todos passam por isso.
Mas tem uma coisa que nem todos passam e que confesso não desejar a ninguém. Uma morte que não é natural como as descritas acima, a morte de nosso time de coração. A morte que falo não é a simples eliminação de um mata-mata, tampouco é a doloroso rebaixamento para um divisão inferior. A morte do time é seu simples desaparecimento, bem como dos entes queridos, amigos e peixinhos dourados que se vão na privada. Aquele que um dia existiu permanecerá a partir de então apenas nas lembranças. Essa é a sensação que a Portuguesa deixa a todos seus torcedores ao ficar sem jogar nenhum campeonato nacional nesse ano. Nada de série A, B, C, D ou Copa do Brasil. O clube ainda não morreu de fato, mas está em coma, próximo do fim. Sua morte deixará uma multidão de órfãos de uma só vez, das mais diversas idades, desde os de dentadura até os com dentes de leite.
O luto de um time de futebol não dura uma semana, um mês ou um ano, durará a vida toda. Esse luto persistirá, vindo a tona nos momentos mais corriqueiros, como ao ver torcedores de outros times reclamarem de suas campanhas, de suas escalações, contratações, etc., ao vermos que nós não temos mais time para reclamar dele. As vezes, ao sentir saudades de alguém, buscamos observar fotos dessas pessoas, momentos bons que passamos juntos, e com o clube não será diferente É só trocar os álbuns familiares pelos álbuns de campeonatos brasileiros.
Chegamos até ao delírio de imaginar que se todos aqueles que hoje ainda estão em atividade tivessem permanecido no clube, poderíamos ter tomado outro rumo. O que teria acontecido se a Lusa ainda tivesse Bruno Henrique, Moisés, Weverton, Henrique Dourado, Ricardo Oliveira, e se chamássemos de volta Zé Roberto, Rodrigo Fabri e Capitão? Certeza que eles topariam! Por que não?
Voltamos do devaneio e nos deparemos com o luto. O luto que transformará o verde e vermelho em preto. Essa morte não terá velório, será apenas o enterro. Enterro esse que se dará com a venda do Canindé para os abutres da especulação imobiliária.
Ver a capa da Veja com parte do Canindé sendo demolido faz lembrar os inúmeros bolinhos de bacalhau ali devorados, das crianças após o jogo chutando latinhas de refrigerante imitando o jogo que haviam visto um pouco antes, ver o Sardinha e a Rainha da Leões xingando tudo e todos, os inúmeros jogos vistos da tradicional escanteio debruçado nas grades... os cartolas lusitanos estão de parabéns, conseguiram destruir isso em pouquíssimo tempo.
O futebol perde com o fim da Portuguesa, mas o futebol não tem ossos, músculos e nervos. O futebol não sente raiva, angústia e nem dor. Nós torcedores sim. Seremos os primeiros apaixonados por futebol que não temos mais um clube para torcer. Os órfãos do futebol.
A Portuguesa ainda não morreu, mas está em estado vegetativo, respirando por aparelhos. Quando me perguntarem pra que time torço não saberei o que responder. Talvez tenha que responder igual as crianças que não gostam de futebol, "torço pro Brasil".
Muitos perderão pessoas queridas, mas poucos saberão o que é perder o time de futebol. Não desejo isso pra ninguém, nem pro arrombado do Castrilli.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Memórias de uma bola de futebol

     Uma vez, quando eu era criança, a escola pediu que a gente optasse por um livro de nossa escolha pra fazer um trabalho qualquer. Meus hábitos de leitura eram gibis da Turma da Mônica e o caderno de esportes do Estadão - sempre procurando notícias da Portuguesa. Minha mãe me aconselhou a comprar um livro que fosse algo do meu interesse e então comprou pra mim um livro chamado "Memórias de uma bola de futebol". Eu me lembro de abrir o livro uma única vez e de não ler absolutamente nada. Não faço ideia do que fiz com o bendito trabalho e sei lá que fim levou o livro.

     Aproximadamente 17 anos depois, nessa última sexta, eu estava fuçando livros na casa dos meus pais e reencontrei o dito cujo. Um livreco de 70 páginas que eu não fazia ideia do que se tratava, mas pelo título imaginei que era uma bola de futebol falando baboseiras. A curiosidade mata e então peguei-o para ler.

     Coincidência ou não com as minhas concepções políticas, o livro relaciona o futebol com a luta de classes, racismo e machismo de uma maneira descontraída. Ainda que eu tivesse lido o livro naquele tempo não entenderia absolutamente nada. Pesquisando sobre o autor, descobri que ele morreu a alguns anos atrás e que ele foi torturado durante a ditadura, deixando sequelas psicológicas consideráveis.

     Aquele garoto de 9 anos mal sabia que viraria um professor de Educação Física comunista. Êta, mundo louco...


segunda-feira, 16 de julho de 2018

Eleições 2018, que fazer?

     Lula, Ciro Gomes, Manuela D'Avilla ou Guilherme Boulos? Esse ano é ano de elegermos o novo salvador da pátria. Sejam eles velhos ou novos personagens da política nacional, estão encrostados de uma antiga tendência que se repete a algumas décadas. Sem terem absolutamente nada de novo, o que mais desejam é serem vistos como novos. É como quando ao cozinhar exageramos na quantidade de comida. Ela dá para o almoço e para a janta, e até ai tudo bem. Dá também para o almoço do dia seguinte e a partir dai começa a ser meio intragável. Nas próximas refeições você até coloca algumas coisinhas novas pra dar uma incrementada, um queijo ralado, um presunto picado, mas você sabe lá no fundo que não passa da velha comida requentada. 

     No último período vivemos em um clima de polaridade, ou melhor, de falsa polaridade. As análises rasas da sociedade brasileira a dividem entre coxinhas e petralhas, entre bolsominions e democratas. Quem quiser acreditar em discursos fáceis que acredite, mas a realidade é mais complexa e mais profunda que isso.

     A polaridade real, o antagonismo de onde emerge todo o cotidiano de desgraça dos trabalhadores é o antagonismo entre patrões e trabalhadores; entre os que tudo produzem e os que acumulam a riqueza produzida por outros. No entanto, revelar o antagonismo entre as classes, falar sobre a exploração existente no capitalismo, tem sido algo fora de moda nos últimos tempos. E por quê falar de exploração ficou fora de moda e é tratado como algo ultrapassado? Por quê falar da essência do capitalismo, a exploração, tornou-se coisa de anacrônico? Temos que voltar alguns anos para responder essa questão.

     Diante do movimento operário e socialista que ganhou força desde o início do século passado, com as revoluções vitoriosas na Rússia, em Cuba e na China, os patrões e os governos capitalistas começam a proporcionar alguns anéis para manterem os dedos. Com medo de que seus países fervessem com a brasa revolucionária -como nos já citados onde houve revoluções vitoriosas- e para que tenham seus ânimos acalmados, os trabalhadores conseguem melhores condições de vida. A classe trabalhadora conseguiu um tanto do que reivindicava, saúde, educação, lazer, etc; tudo o que precisa pra reproduzir sua força de trabalho e poder produzir a riqueza para os ricos patrões. Em outras palavras, os capitalistas diziam que não era necessário se colocar em luta contra eles, esses já anteciparam as melhoras para a vida da classe explorada. Com algumas conquistas, a classe trabalhadora não iria pra cima com tanta veemência.

    A expressão dessa tendência é a denominada "Social-Democracia". É a linha política dessa garantia do status quo fornecendo relativas melhorias nas condições de vida para os trabalhadores É onde as coisas mudam para que nada mude. Alguns dessa linha beiram mais à esquerda, outros beiram mais à direita, mas todos cantam a mesma música. Um Estado forte, que garanta direitos sociais alinhados ao desenvolvimento nacional - vulgo crescimento da indústria e , logo, dos capitalistas. Essa linha política ficou muito clara na Europa do pós-guerra, no chamado "Estado de bem estar social", onde tinha uma gigante URSS batendo à porta de todos os países propagando o socialismo. Era necessário dar alguns anéis para não perder os dedos para o socialismo. Entretanto, tudo muda quando cai a URSS e o espectro do socialismo desaparece. Começa ai, não coincidentemente, a classe trabalhadora mundial a perder direitos.

     A realização da Social-Democracia no Brasil ocorre tardiamente se comparada aos Europeus. Analisando o último período brasileiro, o ciclo petista, que podemos chamar de “social democracia brasileira”, tem elementos bastante comuns aos que já ocorreram na Europa e também foi marcado por contradições. Nesses 14 anos de Lula e Dilma houve avanços relevantes para a classe trabalhadora, como maior acesso às universidades, levando energia elétrica para muitos e diminuição da miséria. Só que tais avanços só ocorreram e só podem ocorrer em momentos particulares da história, como no cenário até então presente de aumento das taxas de lucro para os capitalistas. Qualquer crise capitalista, por mais à esquerda que possa estar a cadeira presidencial, afeta as entranhas do nosso “Estado de bem estar social”. Com as crises, nosso paraíso de PROUNI’s e Bolsa Família são varridos do mapa, juntos de qualquer avanço. Os mesmos que promovem essas melhorias para a vida dos trabalhadores não hesitam em proferir ataques quando a burguesia assim deseja. Não à toa que nestes mesmos governos petistas em que houve avanços, houve também reformas da previdência, flertes com reformas trabalhistas e paquera com reforma do ensino médio. Sem contar que as conquistas nesses governos, sempre vinham com surpresinhas indesejáveis no meio, como por exemplo a democratização/massificação do ensino superior veio junto com um injeção gigantesca de dinheiro público para empresários da educação. Todos os avanços estão claramente dentro dos marcos do capitalismo, como é a característica da Social Democracia.

     Mas por que é importante resgatar a história do movimento dos trabalhadores mundialmente e fazer a crítica ao ciclo petista? Porque é necessário resgatar que não foi o PT que inventou esse movimento, ele já ocorreu em alguns lugares bem antes do que aqui. E assim como na Europa, vimos no que deu. Foi a crônica de uma morte anunciada que talvez nós tivéssemos mesmo que experimentar enquanto experiência histórica de luta. Tendo vivenciado esse período, nos deixa claro que no capitalismo nossos avanços tem prazo de validade. Quando um velho barbudo nos diz que "a história se repete, primeiro como farsa e depois como tragédia" ele não se referia a nosso tempo, mas com certeza a frase nos cabe. Ou nos esforçamos para construir as condições de uma sociedade sem exploração, ou ficaremos como a maré, ora mais baixa, ora mais alta, ora mais baixa, ora mais alta, alternando ciclos de grande acumulação de riquezas, períodos de menor acumulação de riquezas. E para não cairmos nesse ciclo sem fim, é necessário um balanço dos movimentos e organizações que nós, trabalhadores, ajudamos a criar.

     A Social-Democracia, já acima citada, em seu início continha um alto teor de emancipação da humanidade e via a democracia como um caminho a ser percorrido para a chegada ao socialismo. Com os desdobramentos da história, esse movimento vai deixando de lado seu caráter revolucionário e se tornando cada vez mais democrático. A democracia que antes era um meio para o socialismo, passa a ser o fim em si mesmo. Democracia para ser mais democrático, seja lá o que for isso. Chega a ser bizarro ver até os que se dizem comunistas afirmarem isso, tal como a pré-candidata do PC do B, Manuela D'Ávila, na entrevista no Roda Viva afirmando que a democracia é um fim. Desconsideram o conteúdo burguês de nossa democracia, mistificando os conceitos. Avançarmos nos marcos democráticos não nos coloca mais perto do socialismo, o que também não quer dizer que a democracia-burguesa é dispensável enquanto terreno fértil para nossas lutas. Mais me parece que o socialismo dos sociais-democratas é a ilusória harmonia capital-trabalho.


     A Social-Democracia não é a estratégia política que livrará os trabalhadores de seus algozes, mas nós acabamos por reforçar essa linha a todo momento, talvez até inconscientemente. Atualmente isso tem se manifestado aqui em nome da democracia em detrimento do suposto golpe. Deixam de lado através do discurso democrata que mesmo com o golpe/impeachment os ataques não se iniciaram, mas se intensificaram. Os ataques à classe trabalhadora não se iniciam na armação que é o governo Temer, esses ataques sempre estiveram presentes, tanto nos governos neo-liberais pré Lula, quanto nos governos petistas. Não é saída para nós reivindicar a volta do Lula, nem Dilma e nem ninguém. Devemos cometer novos erros, e não velhos erros já cometidos. 

     Dentro desse cenário, qual é o papel dos trabalhadores? Não nos limitemos à escolher com qual molho seremos comidos, se o molho será menos ou mais picante, se será com mais ou menos Estado. O papel dos trabalhadores é se organizar em locais de trabalho, de estudo e de moradia, se mobilizando contra os braços da burguesia e seus governos. Buscando formar grupos que se organizem autonomamente de partidos e sindicatos -mas que dialoguem com as organizações política e sindicais combativas. Que o chão de fábrica se coloque contra seus patrões que o chicoteiam, que o funcionalismo público se coloque contra o Estado e que os estudantes se aliem aos trabalhadores. Apenas nos organizando nas bases, lado a lado com os colegas que sofrem juntos, podemos enfrentar a miséria de nossa classe. 

     Sendo assim, votemos nulo nas eleições. Votar nulo nas eleições não resolve o mundo, mas é educativo. Se reconhecemos que as eleição não são um ponto de virada, se as eleições não mudam nosso cotidiano de exploração, nos voltar totalmente à elas educa os trabalhadores a investirem apenas nesse campo. Por mais que todos os partidos que se dizem dos trabalhadores discursem que as eleições são apenas um momento particular de seus momentos de luta, a prática mostra que isso é lenga-lenga. Toda a estrutura partidária atual está completamente voltada para as eleições. E isso se mostra de maneira tão bizarra que o PT, que tem uma enorme contribuição nesse processo (des)educativo, vem sendo vítima desse mesmo processo que foi protagonista. Com Lula preso, não conseguem se mobilizar a tal ponto de ter força para tirá-lo da prisão e aparentemente fazê-lo candidato. Morrem de inveja da Venezuela em 2002 que conseguiu se mobilizar e reerguer Hugo Chávez.

     Nossa saída é construir organizações de base, lutar junto às organizações combativas e nos mobilizar contra organizações pelegas. Mas, por outro lado, não adianta anular o voto e esperar sentado no sofá algo divino acontecer. Se for pra esperar um messias e não se colocar em movimento, mais vale votar em qualquer um -que não o Bolsonaro- e participar de formações, mobilizações com seus pares, e mesmo tendo um candidato não se iludir com as eleições. 

     Votar nulo é tomar as rédeas da história em nossas mãos. É não terceirizar a luta em possíveis representantes e fazer política em nosso dia dia e não de 2 em 2 anos. É não alimentar esperanças nesse jogo de cartas marcadas. Por mais clichê que seja essa frase ela não deixa de ser verdadeira: se eleições mudassem alguma coisa seriam proibidas. E se eleições não mudam o nosso dia-dia de sofrimento, por quê defender candidato A ou B? Devemos gastar nossas energias com o que realmente é efetivo e pode dar resultados. Lula, Manuela, Ciro ou Boulos, cada um com sua particularidade, todos defendem projetos similares de sociedade, um capitalismo mais humano, tal como perfumar merda. Economicamente estão todos no campo do keynesianismo. A única coisa que libertará a nós trabalhadores de nossas vidas miseráveis e doentia é a ruptura com o que está posto, uma ruptura revolucionária. E revoluções, camaradas, nunca ocorreram e não ocorrerão através dos votos. Cuba, China, França, Inglaterra, Rússia, nenhuma delas foi através de votos, sejam elas revoluções burguesas ou socialistas. E mais, as revolução não ocorrem simplesmente ao bel prazer divino, elas são feitas, e se são feitas, são feitas por nós trabalhadores, e não por pseudo-representantes do povo que nada mais são do que representantes da burguesia. 

     O que fazer nas eleições? Votar nulo. Mas se quiser muito, muito, muito votar, e se for entrar em depressão e seus braços caírem se não o fizer, tudo bem, vote na esquerda, mas não esqueça de fazer o dever de casa de nossa classe: se organizar com os colegas de trabalho, moradia e estudo e se colocar em movimento independente dos patrões e dos governos. Só assim construiremos os pilares para uma outra sociedade. 

Nem patrão nem eleição, nossos direitos virão por nossas próprias mãos!









quarta-feira, 27 de junho de 2018

Caro Neymar

Caro Neymar,
Gostaria de pedir encarecidamente uma coisa. Gostaria de pedir que o senhor jogue simples hoje. Jogar simples não é deixar de driblar, de fazer os rabiscos que vocês faz tão bem, jogar simples é parar de querer fazer mágica toda vez que você pega na bola. É parar de segurar a bola quando não precisa, quando o mais efetivo é fazer um "tá comigo, não tá mais", tabelar com o companheiro. Com certeza você apanhará bem menos do que você apanha. E sim, eu vejo que você apanha bastante. Não acho que seja simulação de falta, mas o problema é que você exagera demais. Se toma um puxão, age como se tivesse perdido o braço. Se toma um empurrão, age como se fosse atropelado. Tenta seguir a jogada, caralho, e se não der pra seguir, apenas pare, reclame da dor, mas não finja uma convulsão que não existe. Se sentir de novo vontade de chorar, chore mesmo, mas chore após o término do jogo. Não faça igual o Thiago Snif Snif Silva que chorou antes de bater o pênalti na última Copa. Se der vontade de falar palavrão, fale também, mas não seja burro de xingar na frente do juiz e correr o risco de tomar cartão. Pode falar palavrão em português, em espanhol, fale do jeito que você quiser, e se quiser misturar as línguas de novo e fazer poesia, pode também! Aliás, pode até xingar o arrombado do Casimiro quando ele errar passe, xinga mesmo. Só não leva cartão! Futebol não é igreja (se bem que...).
É só isso por hoje. Qualquer coisa eu te retorno depois.
VAAAI CARALHO!!!

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O garoto morto no RJ e o futebol

Marcus Vinicius de Silva morreu ontem no Rio de Janeiro. O garoto de 14 anos morreu a noite, após levar um tiro, "bala perdida", de um carro blindado dos militares enquanto ia pra escola.
Marcus poderia ter visto a reviravolta no jogo de hoje da seleção brasileira, poderia estar curtindo o dia como muitos outros garotos da sua idade. Poderia estar assistindo Sérvia e Suiça agora, ansioso para o próximo jogo do Brasil. Poderia estar xingando o Neymar ou o defendendo, criticando os passes errados do Casimiro ou dizendo que o gol de Coutinho foi fácil, mas infelizmente não está.
O problema não é o futebol, que por entrarmos de cabeça nele não nos permitimos nos sensibilizar como deveríamos em um momento desses. Nós somos trabalhadores fodidos que vêem no futebol um meio de abstração de nossa desgraça diária. Um faísca de felicidade que nos é cada vez mais privada.
O problema não é o futebol, não é a Copa, nosso problema é a sociedade capitalista, é um Estado de merda que mata para garantir o lucro dos patrões e o status quo.
Em uma sociedade sem exploração e sem opressão ainda haverá futebol e Copas do Mundo. Digo mais, vai existir muito mais futebol, e esse futebol não vai ter dono! O que não vai existir é PM, burocrata e nem patrão.