quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Por que a esquerda não se une?

     Após junho de 2013 falar de política deixou de ser coisa chata. Falar de política não é mais coisa de sociólogos e filósofos sabatinados no Roda-Viva ou que aparecem por 10 segundos no jornal nacional para comentar as eleições. A política passou a ser assunto corriqueiro, assunto de mesas em boteco, rodas de amigos e comum nas linhas do tempo do facebook dos amigos mais despolitizados. A parte boa é: deixou de ser inconveniente falar de política, ela passou a ser reconhecida com a devida importância que tem. A parte ruim é: pessoas que negam a todo momento o debate  e a consciência política se sentem emponderadas a vociferar merdas.

     Desde tais momentos, o acirramento do debate político tornou-se explicito entre dois grandes grupos. A esquerda e a direita. E um questionamento já era feito pré junho/2013 e ainda será feito por muitos: por que a esquerda não se une? Não seria melhor unir todos os partidos de esquerda e lutar pela mesma causa juntos? Essas são perguntas importantes, e que se deixadas sem resposta poderão ser recheadas com senso-comum.

     Vamos começar pelo lado de lá, pela direita. A direita é toda igual, a mesma coisa? A direita é unida? Não, a direita não é toda igual. Existem divergências entre ela. Existe a direita neo-liberal, existe a direita conservadora, existem os sociais-democratas, os keynesianos, etc. Existem os diversos ramos econômicos da direita, por exemplo: algumas frações da burguesia, como a latifundiária podem possuir permanentes divergências e disputas com outras frações, como a burguesia industrial, e por sua vez, essa, disputar espaço com a burguesia financeira-especulativa. Disputam favorecimento no mercado através de forças políticas no Estado, inserindo seus lacaios, os políticos, nos órgão de deliberação, vulgo legislativo, executivo e judiciário. Se a direita não é toda a mesma coisa, possui seu rachas, por outro lado sempre que necessário se unifica contra um mal maior. Quando as forças da esquerda aumentam e começam a causar certo desconforto na direita, suas frações possuem sensibilidade ao que as separa e o que as une. Um exemplo disso foi o empresariado de diversos setores que se uniu e apoiou o golpe civil-militar de 64, todos contra o suposto comunismo alvoroçado no Brasil.

     Mas e a esquerda... por que ela não se une? Não seria melhor unir todos os partidos de esquerda e lutar pela mesma causa juntos? Para começar. A esquerda não se resume à partidos. PCB, PCdoB, PT, PSTU, PCO, PSOL não são os únicos que levantam a bandeira da esquerda no Brasil. Existem ou já existiram diversos movimentos que não se configuram em partidos e que fazem parte das lutas da esquerda, sejam eles organizações sindicais como CUT, Intersindical, Conclutas; movimentos por moradia como MTST, FLM; movimentos pela reforma agrária, movimentos eclesiásticos, entre outros. Essas organizações não se unem pois assim como a direita, a esquerda não é toda igual. Se referir à esquerda como um grupo homogêneo é como se referir aos cristãos como um grupo homogêneo. Entre os cristãos há os diversos grupos católicos, outros diversos grupos evangélicos, espíritas, etc. Se todos esse possuem referência em Jesus Cristo, por que não se unem? A respostas é simples. Eles não se unem pois existem divergências consideráveis entre esses grupos para que não sejam a mesma coisa. O que não impede que pontualmente possam fazer alianças, como nas recentes votações em câmaras municipais quando na confecção dos Planos Municipais de Educação, em que as comunidades católicas e evangélicas se uniram no conservadorismo moral vetando as discussões de gênero no documento. De maneira análoga, existem na esquerda os comunistas, os socialistas, os que acreditam na democracia burguesa como conquista do socialismo, os revolucionários, os anarquistas, entram (assim como na direita) os sociais-democratas, os pacifistas e muitos outros. E bem como a direita, e os cristãos, as organizações de esquerda fazem também pontuais alianças, as chamadas "frentes". Momentos em que taticamente convergem na mesma ação. Basta ver as frequentes alianças  e as frequentes rusgas entre PSTU e PSOL que isso se torna evidente.

     Sendo assim, sempre que ouvirmos alguma notícia, alguma colocação e debates quanto à esquerda, é necessário termos consciência de que não se trata de um grupo homogêneo.Não é por todos terem o "Manifesto do partido comunista" em sua estante que são iguais. Talvez tendo em vista isso paremos de fazer masturbações mentais discutindo se o PT é ex-querda, se é, era, foi ou ainda será de esquerda. A discussão é outra e deve sair da "coleção primeiros passos".