terça-feira, 30 de outubro de 2018

Carro-chefe

O PCB foi o primeiro grande partido da esquerda brasileira e por vários anos foi o carro-chefe das lutas dos trabalhadores, até 64. Com o golpe ficou claro que sua estratégia de considerar a burguesia nacional aliada da classe trabalhadora era um equívoco.

 Em 80 nasce o PT, a contragosto de alguns que consideravam que a classe trabalhadora já tinha um partido, o destroçado PCB. O PT surge com uma nova estratégia e fazendo a crítica aos caminhos percorridos pelo partidão. Se torna o carro chefe das lutas, compartilhando do mesmo projeto democrático e popular de CUT, MST e seus satélites. 

Se os que resolveram fundar o PT tivessem optado por permanecer dentro do PCB, fazer oposição interna, teríamos nós rompidos com a estratégia do pré-golpe? Era possível uma auto-crítica de dentro do PCB? Não, não era, e a construção do PT foi fundamental para o avanço das lutas. Da mesma maneira, o rompimento com a estratégia democrática e popular, que possui o PT como carro-chefe, não se dará dentro do Partido dos Trabalhadores. A estratégia esta impregnada de conciliação entre as classes, classes essas que são inconciliáveis. 

Qual será a próxima estratégia e qual será o próximo carro-chefe eu não sei, mas qual estratégia não será e qual partido não será isso eu tenho certeza.

Não vai ter "autocrítica", não vai ser por dentro, não vai ter a benção do Lula... vai ser na marra e no decorrer de nossas lutas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Vitória do Bolsonaro, vitória do fascismo

Não fiquem com medo, fiquem com ódio. Assumam a angústia, mas saibam transformar ela em luta.
Que metade das certezas virem dúvidas e a outra metade convicção.
Que todo lugar se torne trincheira, a escola, a fábrica, o futebol e a igreja.
Troquemos a militância periódica por a militância de todos os dias. Derrubemos o fascismo, o sindicato pelego e depois o partido da conciliação.
Luta de classes não é aquela coisa antiga dos livros de história, é o que vivemos agora, e se você não está feliz sabemos de que lado você está!
Firmes, camaradas!
À luta!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O jabuti e a árvore

Há poucas chances do PT ganhar essa eleição, e ainda que ganhe, tem chances de ganhar e não levar - e eu apostaria nisso.
A primeira é que Haddad ganhe e nem assuma, por motivos jurídicos envolvendo-o em corrupção, em fraudes eleitorais ou coisas do tipo.
Pode ser que ele ganhe e seja minado pela oposição e congresso, tal como o segundo governo Dilma. Começa o governo e não termina.
Há quem acredite em um improvável golpe militar. Não é a tendência, mas é sempre uma possibilidade tendo em vista nossa cultura lambe-botas.
Seja qual for o desdobramento histórico, mesmo com o melhor -ou menos pior- dos cenários que é a vitória do Haddad, o espectro do fascismo está posto. Podemos continuar olhando pra ele de 2 em 2 anos, pensando apenas em eleições, como temos feito nos últimos 30 anos, ou podemos romper com o vício eleitoral.
Como disse um experiente camarada, "jabuti não sobe em árvores". Se ele está em cima da árvore é porque foi colocado lá. O fenômeno Bolsonaro foi contruído por uma classe média reacionária, que ganhou o apoio da burguesia, e que juntas conseguiram destilar seu veneno dentro da classe trabalhadora através de muitas notícias falsas e moralismo. Ganharam força na medida que as organizações dos trabalhadores se esqueceram do cotidiano massacrante que passamos diariamente nos nossos trabalhos, se habituando ao ar condicionado, terno e gravata, papel e caneta, seja nos cargos públicos ou na estrutura sindical.
Combater apenas o jabuti na árvore está sendo há algum tempo o papel da esquerda reformista. Qual é a tarefa daqueles que não se submeteram à conciliação capital/trabalho?
Nosso papel é não ser seduzido pela disputa do Estado, não sucumbir da luta dos trabalhadores contra os patrões. A lógica da representatividade burguesa contribui apenas para a dominação de classe na medida em que as organizações de esquerda incorporam isso como central.
Fascismo não se combate apenas nas eleições, muito menos fazendo toda a classe trabalhadora acreditar que passou ser classe média. O fascismo se combate é na luta contra os patrões e seus governos!

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Eleições 2018 (2)

O ponto mais alto que a social-democracia brasileira chegou foi nos governos Lula. Um pretenso estado de bem-estar-social parece ter sido alcançado, não nos moldes da social-democracia européia, mas à nossa maneira e especificidades. Tendo chegado ao ponto mais alto, como a física nos ensina, um objeto tende a cair, e começou a cair. Os governos de Dilma e o impeachment foram prova disso. A prova mais cabal da queda da social-democracia brasileira, e que mostra que talvez ela esteja em crise pra nunca mais voltar como antes na história desse país é a eleição do último domingo. A estratégia democrática e popular parece se esvair muito mais rápido do que demorou pra se construir. Um enorme número de trabalhadores votando num candidato fascista é sinal de que a esquerda (dentro de toda sua variedade) não consegue emplacar. Parecem não se importar com a perda de direitos, mas se importam com o suposto kit-gay. Em algum lugar nós erramos.
É hora de repensarmos nossas ações, não a autocrítica piegas e cristã que cobram o PT, mas uma reavaliação de nossas estratégias, de nossos erros históricos, e para isso, algumas perguntas são necessárias. 1- Estamos conseguindo conter o avanço da direita? 2- Nossas organizações vem agindo corretamente e os trabalhadores não estão conosco porque são uns ingratos? 3- Nos debruçando totalmente nas eleições conseguiremos avançar nas lutas contra a retirada de direitos e rumo a novas conquistas? 4- É na via institucional que continuaremos insistindo? 5- O que nos mostram as experiências passadas? O que temos a aprender com elas?
O momento requer mais perguntas do que respostas...

Eleições 2018 (1)

Eu desejo sinceramente que o PT se exploda. O partido que já foi um instrumento de luta, que surgiu do renascer da movimentação dos trabalhadores é hoje um desserviço pra classe trabalhadora. Aparecem só em ano eleitoral usando um linguajar que não condiz com suas práticas a tempos. Se eleito, com certeza nós teremos muito a perder. As reformas virão em nossa cabeça, provavelmente a onda direitosa se intensificará e ainda tem grandes chances do Haddad não terminar seu mandato, pois assim como em 2014, o processo eleitoral não vai acabar no dia da eleição.
Odeio mais ainda o arrombado do Bolsonaro por me fazer votar nessa pelegada amiga dos patrões mesmo querendo muito não votar. Vou enfiar minha mão na merda e tentar tapar o nariz com a outra.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Cidadão de bem de 1973 e o de 2018

Era uma vez um policial. Quando estava fora de expediente quase sempre estava em casa com sua esposa e seus filhos. Era um marido muito carinhoso, tendo o hábito de levar flores e cartões para a mulher. Era comum ajudar as crianças nas tarefas de casa e após isso brincar com elas. Era simpático e cordial com os vizinhos. Frequentemente ajudava em festas beneficentes. Durante o serviço sua função era arrancar informação dos presos, a qualquer preço. Para isso dava choque nas genitálias e espancava-os. Nas mulheres, estuprava e chegou a colocar baratas em seus corpos. Quando matava, sumia com os corpos os jogando em alto mar.
Era uma vez uma professora. Era carinhosa com seus alunos e não media esforços para que aprendessem a ler e escrever. Planejava boas aulas e se preocupava muito com os que tinham dificuldades. Sempre auxiliava os professores iniciantes. Sempre sorridente, descontraída, seus colegas davam muitas risadas com ela nos horários de café. Quando soube que uma crianças de 9 anos morreu após roubar um carro comemorou, afinal bandido bom é bandido morto, mesmo que esse bandido tenha a idade de seus alunos - 9 anos. Não suporta ver nada vermelho e repassa correntes dizendo que Pablo Vittar será o próximo ministro da cultura. Morre de medo de uma ditadura gayzista-bolivariano-petista, e da doutrinação marxista nas escolas. Prega voto em Jair Bolsonaro.
O cidadão de bem de 1973 talvez não esteja tão distante do de 2018.