quarta-feira, 16 de setembro de 2015

E se o tráfico virar comércio? Sobre a legalização da maconha.

      Uma parcela da esquerda brasileira anda toda ouriçada com a possibilidade do judiciário legalizar a maconha. Bacana. Entre inúmeros motivos para se legalizar a maconha, citarei alguns argumentos: Legalizando a droga diminuímos a contradição que é a legalização de algumas drogas e a proibição de outras. Tiramos o poder da polícia -pelo menos no papel- de diferenciar os usuários dos traficantes pela negritude e pela vestimenta, tendo em vista que a proibição das drogas atinge majoritariamente a juventude negra e pobre; existe também o argumento, extremamente frágil de que, enfraquecerá o tráfico de drogas. Exista uma visão de que a proibição não previne os malefícios que as podem trazer, e sim que se deva pensar o assunto fora do âmbito policial.

      Essa mesma parcela da esquerda desconhece ou desconsidera que a maconha foi demonizada no mundo todo e proibida, devido ao boicote ao cânhamo nos Estados Unidos. Por conta da alta qualidade da fibra do cânhamo, a planta da maconha, a nascente e influente indústria das fibras sintéticas (como o náilon) não teriam tanto espaço no mercado. A indústria das fibras sintéticas estado-unidense, aliada ao monopólio das comunicações, e insatisfeita com a possibilidade de disputa de mercado, utilizou-se do estado para proibir a planta no território nacional. E para além disso, utilizou-se do seu papel imperialista, fazendo com que outros países, subservientes aos EUA, a proibissem também. Assim, o estado dos Estados Unidos passou a proibir o plantio da planta de acordo com os interesses da burguesia do ramo dos produtos sintéticos. Como disse o velho barbudo: "o estado nada mais é do que o balcão de negócios comum a toda burguesia".

      Essa parcela da esquerda desconhece ou desconsidera que a mesma lógica, a lógica de interesses e conflitos entre burguesias, já está por trás dessa "pauta inquestionável de esquerda", que é a legalização da maconha. Se uma fração da burguesia, nos Estados Unidos, foi capaz de promover a proibição e a destruição do cânhamo no mundo inteiro, meramente por motivos econômicos, porque a burguesia atual não poderia reverter a proibição de acordo com seus interesses atuais? Essa parcela da esquerda, por inocência ou por conveniência, desconsidera que as plantações de maconha não virão juntas da reforma agrária, e sim, ficarão nas mãos de alguns poucos latifundiários bem como é todo território brasileiro. Desconsideram o monopólio, desconsideram que a Souza Cruz e/ou a Philip Morris aumentarão seu capital e serão capazes de explorar melhor seus trabalhadores, que sorridentemente produzirão os futuros becks.

      Ahhhhh, então você é contra a legalização das drogas?????

      Para os que não conseguem interpretar muito bem textos, deixo a seguinte consideração. Sou a favor da legalização das drogas, mas não podemos deixar de lado o contexto de exploração de uma classe por outra que fundamenta nossa sociedade. Não podemos deixar de lado o contexto em que será feita essa legalização. Em que condições a maconha será legalizada? A custo de que e de quem? Nos importamos com a superação da contradição de drogas legais/ilegais, mas e a contradição capital/trabalho, quem se importa com essa?

domingo, 13 de setembro de 2015

A gente aguenta

a gente aguenta o salário mínimo,
a gente aguenta o encarregado
aguenta o sábado trabalhado
e aguenta até ficar desempregado
procurando por quem ser explorado
a gente aguenta o capital
a gente aguenta o patrão
a desigualdade racial
e aguentar ouvir que a culpa é da corrupção
aguenta escola lotada e busão
aguenta deixar o filho recém-nascido na creche
aguenta porrada da policia
aguenta matarem umonte de preto
aguenta fingirem que fizeram perícia
a gente aguenta o pessoal dizendo que ama o trabalho, pois nunca teve que acordar 5 da manha pra fazer parafuso
a gente aguenta o Willian Bonner, Pondé, Villa, e todos esses lacaios
a gente aguenta o governo de esquerda que reduz salário
a gente aguenta quem acredita em democracia
a gente aguenta os fura-greve, os pelegos, e quem acredita em voto crítico
a gente aguenta tanta coisa...
por uma gente que não aguente mais.