terça-feira, 10 de março de 2015

Racismo, que porréssa?

     Muito se fala sobre racismo, seja na mídia, na minha casa, na universidade (suposta casa do conhecimento), mas será que sabemos ao certo o que é o racismo? Sabemos diferenciar preconceito, discriminação e racismo? Falamos disso a todo momento mas acabamos reproduzindo um discurso vazio que em nada educa, pelo contrário, apenas mistifica essa relação compactuando com sua perpetuação. 
   
     Por ser um branco escrevendo sobre o assunto, acredito que possam ter alguns deslizes no decorrer do texto, mas acho que apesar disso esse texto pode acrescentar alguma coisa para pessoas que ainda acreditam no mito da democracia racial.

 Racismo, que porréssa?

     Racismo é uma relação de poder imposta por uma etnia a outra. No Brasil o termo é majoritariamente referido ao processo construído historicamente pela escravização dos negros pelos brancos. É a opressão e a repressão que os negros são vítimas desde que foram seqüestrados da África no período do Brasil colonial e que apesar de suas transformações, esse projeto de sociedade se mantém até hoje. Fundamenta-se na crença de que os negros seriam um grupo inferior as demais etnias, sendo em tempos passados considerados animais e objetos, e por isso, sendo comercializados, escravizados.

    Racismo é uma estrutura de discriminação racial que se expressa materialmente, tem sua origem na estrutura econômica da sociedade, e não se limita apenas a xingamentos como muitos acreditam. O racismo é uma relação de poder estrutural, ou seja, ele ocorre sempre de uma pessoa ou grupo a o outro, seja por um sujeito ou por grupos. O racismo não uma idéia subjetiva, uma coisa longínqua que acabou com a Lei Áurea em 1888. Apenas pode ser racista quem possui poder, logo, um negro não pode ser racista e tão pouco um branco pode sofrer de racismo, ainda que o boçal do Danilo Gentili diga que era vítima de racismo quando criança por ser chamado de palmito pelos colegas de escola, ele é apenas um desinformado reproduzindo desinformação para milhões de pessoas. Um branco nunca foi chamado de macaco fazendo alusão a uma teoria que dissesse que ele é menos desenvolvido que outra etnia, uma pessoa branca de cabelos lisos nunca ouvirá de outra pessoa que o seu cabelo é ruim, e os brancos também não predominam na classe trabalhadora de empregadas domésticas nem de terceirizados do país.

    É necessário acentuar que se toda a população brasileira nunca mais se fizesse referência a nenhum negro chamando seu cabelo de “cabelo ruim”, nunca mais chamasse nenhum negro de “macaco”, que nenhuma família se incomodasse que seus entes se relacionassem com negros, ainda sim existiria racismo. A polícia continuaria a invadir favelas e periferias e a matar a população negra, os negros ainda ocupariam os mais baixos postos na estratificação do trabalho passando por muito mais dificuldades que a elite branca jamais imagina passar, as propagandas na televisão ainda utilizariam apenas a imagem da “família margarina”, onde dá a entender que todas as famílias brasileiras são brancas, etc. O racismo é estrutural e para acabar com ele se faz necessário muitos mais do que políticas afirmativas.

    Capitalismo e racismo são duas faces da mesma moeda, não se pode falar de capitalismo sem falar de racismo. Sendo o racismo uma relação de poder, dentro dessa relação de poder existe o processo de exploração. Assim como ocorre com outras relações de poder, o racismo acaba por inferiorizar uma população em detrimento da outra, além de fazer com que diferentes populações exploradas e oprimidas não se enxerguem como componentes da mesma classe. Inferiorizando uma população, no caso os negros, é possível colocá-los a mercê da exploração de uma burguesia branca sedenta pelo lucro. Uma sociedade assentada durante mais de 300 anos em trabalho escravo negro e indígena não seria destituída de suas características em menos de 130 anos, ainda que tivesse vontade.

   Se o mito da democracia racial se concretizasse na estrutura capitalista que vivemos, poderíamos ter um negro na presidência da república, negros se formando nas melhores faculdades de medicina do país, e até negros compondo 50% da burguesia nacional, ainda sim a maior parte dos negros estaria sujeita ao transporte precário, a falta de condições básicas de saúde e falta de condições de trabalho. Nos EUA o presidente é negro e nem por isso o racismo deixou de existir, assim como ter uma presidente mulher no Brasil não significa em nada o fim do machismo. As opressões (machismo, racismo, homofobia, etc.) permeiam a sociedade de classes e não se explicam por si só.

    Espero ter colaborado pra que as bobagens que cercam o tema sejam minimamente reduzidas. Seja uma pessoa que leia esse texto ou duzentas, espero que ajude a esclarecer que não existe racismo inverso e que também não se deve dar parabéns pro seu amigo negro no dia da consciência negra... não é aniversário dele!

quarta-feira, 4 de março de 2015

Um sincero desabafo

Olá. Venho por meio desta expor a minha enorme insatisfação com a forma que minha imagem vem sido utilizada. Minha origem não se sabe ao certo, alguns dizem que fui criada por escravos, outros dizem que foi a cozinha imperial quem me criou, e outros dizem que foi durante o processo de industrialização. Mas minha história torna-se irrelevante perto de minha imensa dedicação em saciar a fome que inúmeros bêbados regados a cachaça e cerveja sentem, a fome de milhões de crianças em suas festinhas coloridas e barulhentas e das muitas famílias nas padarias distribuídas em todo Brasil. Eu fico extremamente nervosa com a recente mania que algumas pessoas tem em vincularem meu nome as pessoas que prezam pela tradição, família, propriedade e bons costumes. Eu não entro na porra de um óleo fervendo pra vocês virem me comparar com acéfalo que defende o Bolsonaro, que acredita que faltar água é culpa da vizinha que lava a calçada ou rirem das piadas do boçal do Danilo Gentili! Chamem esses de empadinha, escargot ou de paleta mexicana, qualquer outra coisa!
Se você é dos que me utilizam como forma de xingamento ou se você se encaixa nessa laia dessa gente que acredita em meritocracia, favor nunca mais tocar em mim.
Ass: Coxinha.