terça-feira, 30 de março de 2021

Os alarmistas e o tonto



Em 1964 houve um golpe que foi apenas uma movimentação no grande tabuleiro da Guerra Fria. Naquele contexto havia uma efervescente movimentação dos trabalhadores do campo e da cidade. Mas e agora?

Apesar dos alarmistas de plantão, não há até agora elementos concretos para um golpe. A burguesia está lucrando como sempre, a esquerda está sonada como nunca e a classe trabalhadora apassivada "como nunca antes na história desse país". Além disso, a saída de alguns militares do governo expressa que o exército não está totalmente fechado com o governo miliciano.

No máximo o que Bolsonaro pode fazer é ser o amigo que ao combinar de entrar na piscina com os outros é o único a correr e pular. Deixam um tonto pular primeiro pra ver a temperatura da água.

Sem alarmismos, mas de olhos bem abertos.

Professor nunca foi operário



Professor nunca foi operário.

Embora professores e operários sejam trabalhadores, proletariados, o operário o é porque opera máquinas, trabalha em linhas de produção, enquanto o professor realiza um outro tipo de trabalho, um trabalho não braçal, mas ainda sim trabalho. O salário dos professores historicamente foi sempre maior do que o salário dos operários, embora ambos sejam baixos, o salário dos operários de forma geral beira o salário mínimo.

Professor nunca foi operário, até agora. Muito provavelmente nesse momento milhares de professores estão operando máquinas ao montar vídeo-aulas e diversos mecanismos ultra tecnológicos em seus notebooks. Por 15 anos os professores que são funcionários públicos ficarão sem reajustes salariais. Isso significa mais do que ficar sem aumento, significa que seus salários serão comidos pela inflação e que seus salários serão reduzidos.

Agora professor opera máquinas e vai ter um salário de peão. Professor a partir de agora é, além de proletário, operário.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Crítica à exciton

Queridos amigas, amigos, colegas e desconhecidos da companhia.
Estou escrevendo essa crítica à companhia pois acredito que ela possam servir aos membros uma reflexão sobre questões que extrapolam os limites da dança -até porque de dança eu não entendo patavinas- e podem se aplicar em nossa prática cotidiana.
As considerações que farei são baseadas na apresentação da última semana, "olhares de um golpe", e também no pouco que acompanho desde 2010.

Quando a companhia se dispõe a passar alguma mensagem, a trazer algum questionamento, é necessário que a própria companhia acredite no que está se propondo a construir. Eu só poderei discutir e rechaçar o racismo em sala de aula com meus alunos se eu de fato acreditar que isso não seja uma maneira correta de se pensar e agir. Se eu for racista, ter uma fala anti-racista acaba sendo uma fala vazia, hipócrita.

Quando o grupo se dispõe a apresentar uma peça como tema o golpe civil-militar e, na minha interpretação, tecer uma crítica quanto aos desaparecidos políticos, a tortura, a censura e aos assassinatos, é importante que haja um consenso quanto ao repúdio quanto a tais ações. Torna a idéia de transmitir um pensamento muito mais coerente, efetiva, e antes de tudo, real. Se não pode se cair na cilada de tentar vender um produto que nem o vendedor compraria. 

E isso pareceu ser o que acontece quando após o término do espetáculo e questionados sobre um posicionamento do grupo sobre o tema, foi respondido a pessoa da platéia que o grupo não possui um posicionamento quanto a isso. Dando a interpretação de que possa ter pessoas que concordem com algo do que foi criticado por elas mesmas através da dança e das interpretações.
Existe uma música de rap que diz: "a arte pela arte para mim é surda e muda". A arte necessita ter uma mensagem consciente, algo a dizer para se fazer efetiva. Seja ela uma reflexão ou uma sensação, é necessário que seja questionada inúmeras vezes para ser melhor elaborada e efetiva.
Se a mensagem que a companhia busca transmitir não é compartilhada pela própria companhia, como exigir que a platéia compartilhe dessa mensagem? Se a impressão que tive for correta, a dança acaba sendo apenas algumas pessoas tentando mostrar suas qualidades técnicas, sua coordenação motora, sua flexibilidade e sua capacidade rítmica. Nada mais que isso. Todo o discurso de questionamento desse triste período da história do Brasil acaba sendo falacioso. Acaba sendo apenas plano de fundo de um exibicionismo egocêntrico.

Para sabermos se compartilhamos da opinião de repúdio ou compactuamos com o representado pelo espetáculo 'olhares de um golpe' basta um exercício simples. Nos imaginarmos com quem nós nos parecemos, com quem nos identificamos naquele período. Com os "baderneiros" e "vândalos" que eram perseguidos naquele período pois se dispuseram a lutar pela queda do regime ditatorial , se nos identificamos com grande parcela da população que se omitiu ao ocorrido e apoiou timidamente o golpe, ou se nos identificamos com o empresariado que financiou os grupos de extermínio, financiou a tortura e se organizou com os militares que detinham a força bélica necessária para o golpe. Se nos identificarmos com os 2 últimos grupos, toda a consideração feita antes sobre uma dança vazia acaba se confirmando. Se nos identificarmos com o primeiro grupo, por favor desconsiderem toda crítica feita até então.
Gostaria agora de fazer uma critica no que se refere as músicas utilizadas, e aqui não passa de um palpite.
As músicas, 'cale-se', 'apesar de você', 'roda vida', 'pra não dizer que não falei das flores', apesar de serem belíssimas, acabam sendo clichês quando o tema se trata de ditadura civil-militar. Poderiam ser utilizadas músicas menos conhecidas sobre o período, ou até mesmo releituras dessas mesmas músicas com outros intérpretes. Achei sensacional terem utilizado a música 'é' do Gonzaguinha! Acho que ela exemplifica bem o que estou tentando dizer. É uma música menos conhecida mas que retrata muitíssimo bem o conteúdo abordado. Acredito que isso enriqueceria o espetáculo.
E por último tenho uma sugestão a fazer.
No início do ano o movimento estudantil promoveu uma série de atividades com o tema dos 50 anos do golpe. E entre elas, fizemos um varal que foi exposto na entrada do r.u. e da biblioteca com fotos e histórias dos desaparecidos e assassinados pela repressão no período ditatorial, assim como dos desaparecidos e assassinados pela atual "democracia" presente em nosso país. Se for do interesse de vocês posso enviar o material para a companhia para que vocês possam expôr no ambiente em apresentações futuras.
Outra sugestão alternativa a de cima, acredito que no panfleto que deixaram nos assentos da platéia poderiam também conter histórias e fotos das vítimas, dizendo algo como: "poderia ser você".
Não sei se são viáveis para o grupo, mas acredito que as sugestões são válidas.
Espero que compreendam a crítica que fiz, e peço que desculpem possíveis deslizes e precipitações cometidas, pois são considerações feitas por alguém de fora que nunca fez parte da rotina de vocês, embora conheça alguns dos membros. Peço que desconsiderem possíveis deslizes vindo de fora, mas que também as considerem justamente por isso, pois as vezes alguém de fora possa ver coisas que os de dentro podem não se atentar.
Espero com esse texto poder contribuir com o grupo,
valeeu