quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Epitáfio

Um dia talvez digam de mim
era um cara de pau!
Mas é dessa madeira,
que agora é xingada,
que surge o berimbau.
Sem ela não teria violão,
não tem mesa,
sobrado ou barracão.

E dessa cara amadeirada,
de onde vem o sobrado e a cadeira,
a dialética diz:
subida também é descida
eis que surge a ladeira

Diferente dos que morrem e viram santo
Sem endeusar, mas sem perder o encanto
Bem como os poemas de Noel ou Boldrin
Não fui nem dos melhores, nem muito ruim

Tampouco peço serenidade
quero que chorem, mas chorem de verdade
e por cima coloquem um pano
Pouco de verde e muito de vermelho
Foi comunista, professor e lusitano!

Pedido de desculpas

Eu queria te pedir desculpas. Sim, desculpas à você, que joga toda a responsabilidade do racismo em cima de mim.

Eu peço desculpas pelos séculos de escravidão e chibatadas, com certeza tenho culpa nisso. Me perdoe pelos negros terem sido sequestrados e comporem a primeira classe trabalhadora brasileira. Peço que me perdoe também pela polícia que forja flagrante e que mata a juventude negra. Me desculpe pelas mulheres negras que são em sua maioria os postos mais precários de trabalho, os menores salários.

Venho pedir desculpas pois com certeza a relação capital-trabalho é banal nesse debate e apenas a questão racial interessa aqui. Eu, desempregado, peço desculpas por compor um exército de reserva que pressiona o preço da força de trabalho do proletariado preto lá pra baixo.

Peço desculpa por ter escolhido nascer na classe média e ter privilégios, esse "eu" que você sempre fará questão de chamar de "branco de classe média". Aliás, eu não só escolhi ter nascido na classe média como foi escolha também estar fodido, desempregado a 4 meses e sem previsão de emprego. Adoro fingir estar pobre! Me parece que se eu estiver pedindo dinheiro no farol você ainda fará questão de pontuar o quanto eu sou  playboy e opressor, afinal, o racismo é super-estrutural e não tem base estrutural alguma - balela marxista eurocêntrica, certo?


Vá se foder!

Falsos profetas e falsos socialistas

Enquanto eles dizem povo
Nós dizemos classe
Enquanto eles dizem cidadão
Nós dizemos trabalhador
Enquanto dizem "votem em mim"
Nós dizemos "façam conosco"
Terceirizam as lutas
Dizendo serem contra a terceirização
Golpeados ou conciliadores, duas faces do mesmo
Mas o mesmo não somos mais
Não acreditemos em falsos profetas
Nem em falsos socialistas
Entre eles tanto faz

Germinal

Hoje terminei de ler um livro chamado "Germinal". Esse livro conta a história fictícia de uma greve de trabalhadores em uma mina de carvão, reivindicando além da não redução dos salários, melhores condições de emprego. Era comum a esses trabalhadores que presenciassem a morte de companheiros de trabalho. O livro foi lançado em 1885.
Enquanto lia o último capítulo do livro recebi uma mensagem no zapzap. A mensagem dizia que ontem um metalúrgico em Campinas foi esmagado por uma bobina. Fazia hora extra obrigado pela empresa, operava duas máquinas ao mesmo tempo sem nenhuma proteção. Rogério tinha 33 anos.
Rogério morreu em 2018, em uma sociedade não muito diferente da de 1885.