terça-feira, 31 de maio de 2016

Celulares em sala de aula, uma falsa polêmica!

Professores do ensino médio e ensino universitário sabem bem o que é competir com os celulares durante suas aulas. Semanas atrás, durante uma aula da faculdade, um professor se queixou dos muitos alunos que deslizavam os dedos pelos visores. Disse que era necessário que pesquisadores analisassem esse "novo fenômeno". Mas será mesmo esse um novo fenômeno? O celular é realmente um problema?
Quando estava no cursinho, durante as aulas de português e inglês, tão interessantes quanto partidas de golfe, eu lia a biografia do João Saldanha, livro que lia à época. Antes disso, durante o colegial, eu passava algumas aulas ouvindo um diskman que eu disfarçava pelo capuz de meu blusão. No ensino fundamental, me lembro de passar aulas e aulas zombando junto de meus amigos uns das mães dos outros. Durante as copas do mundo, que estudante que não julga as figurinhas mais interessantes do que qualquer aula?
Até onde eu saiba, apelido das mães, diskman, João Saldanha e figurinhas, nunca foram considerados problemas pedagógicos dignos de serem estudados. Em cada momento histórico, houveram obstáculos de sua época durante as aulas. Muda-se a coisa, mas persiste o fenômeno.
Mas se o celular não é o problema, onde está o problema então?
Aulas meramente expositivas podem ser o problema. Conteúdos desconexos com a realidade, e sem utilidade para muitos, podem ser o problema. Professores sem didática pode ser o problema. No entanto, limitar os problemas meramente às questões pedagógicas é no mínimo desonesto com os professores. Então vamos além. Veremos que a superlotação das salas de aula é um problema. Colocar 50 pessoas em cubículos é um problema. Tentar ensinar crianças com fome e sem merenda é um problema. Juntar todos os fatos citados acima, sem dúvidas, explica melhor a precariedade de nossa realidade educacional do que culpar um mísero aparelho pelo fato de conter nele joguinhos, batepapos e internet.
Figurinhas, músicas, livros, celulares ou seja o que estiverem fazendo durante a aula que não asssistindo-a, mostram apenas que os que o fazem querem apenas estar em qualquer lugar que não ali, pois se quisessem estar ali, de fato, não estariam apenas de corpo presente.
Ao invés de gastarmos tempo e dinheiro nos inquietando sobre como os celulares atrapalham o andamento da aula, colocando-o como o mais novo empecilho para nossa "maravilhosa" escola/universidade, ver que os problemas são muitos anteriores à invenção deste é um primeiro passo para fugir desse senso comum docente.
*Obs.A biografia do João Saldanha continua sendo mais interessante do que muita aula!

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Doutrinação marxista nas escolas

Durante uma aula para crianças de 4 e 5 anos, ocorre o seguinte diálogo...
-Pessoal, hoje vamos conhecer um pouco mais algumas partes do nosso corpo. Vou entregar um pedacinho de giz pra cada um de vocês pra gente desenhar nossas mãos e nossos pés no chão.
Alguns já haviam observado os gizes inteiros em minha mão, mas foi Iago quem disse primeiro
-Eu quero um giz inteiro!
-Não, Iago, é um pedacinho pra cada.
Alguns segundos depois Iago repete...
-Eu quero um giz inteiro!
O professor que vos fala intervém.
-Gente, olha a quantidade de giz que a gente tem. Se eu entregar um giz inteiro pro Iago terá giz pra todos desenharem?
Silêncio na roda.
-É certo o Iago ficar com um giz inteiro, e a Isabela ficar sem nenhum?
Continua o silêncio...
-É certo uma pessoa ter um montão de coisas e outra não ter nada?
Um uníssono "nãaaaaao" vem das crianças.
Neutralidade não existe e vai ter doutrinação marxista nas escolas siiiiiim, amiguinhos!

É golpe ou não é golpe?

Não, eu não acho certo toda a armação que Cunha e Temer tem feito à Dilma e ao PT. Sim, eu acho que Cunha bolou grande parte do que está acontecendo como revide ao seu nome ter aparecido nas investigações na lava-jato. Sim, também acho o Cunha o que há de mais inescrupuloso na política. É, também acredito que o Temer está sendo extremamente oportunista e que vai dar "novos velhos" rumos à política brasileira.
Mas, se os "golpistas" vão privatizar e isso não pode ser feito, porque fizeram tantas concessões? Concessões de postos e aeroportos?
Se os "golpistas" vão fazer cortes nos direitos trabalhistas, o que foi aquele Plano de Proteção ao Emprego (PPE) que mais se parece Plano de Proteção ao Empresariado? E as reformas trabalhistas e da previdência? Os golpes à classe trabalhadora já não estavam sendo feitos pelo próprio PT?
Mesmo execrando os "golpistas", como defender os "democratas"? Como eu vou chegar à um moleque na favela da maré, no Rio de Janeiro, ocupada pelo exército, e dizer que ele tem que defender a democracia e por isso defender o governo Dilma? Com que cara eu faço isso? Com que cara eu defendo o governo petista pra bolsistas Pibid que não terminarão o ano com suas bolsas pois foram cortadas verbas para a educação? É preciso muita cara de pau!
Os do voto-crítico dizem que não defendem o governo, e sim a democracia. Mas que democracia? O que é democracia? Essa coisa que ninguém sabe o que é e defendem até a morte? "É que você não viveu uma ditadura, você é jovem" dizem os sessentões. Mas então democracia é a soma de voto direto com liberdade de expressão?
Quando me perguntam se eu sou contra ou a favor do impeachment/golpe eu me sinto como aqueles dois garotos de uma cena do filme Cidade de Deus, quando perguntados se querem tomar tiro no pé ou na mão. E tem que escolher, no momento não há outra opção! A diferença é que na vida real essa outra opção há, mesmo falando-se pouco dela. Essa terceira opção está nas organizações de fábrica, nas organizações por locais de estudo, organizações nas escolas, e não escolhendo "um político que não goste por outro que talvez eu venha a gostar", como dizia Saramago.
Podem nos chamar de isentões, de puritanos, chamem do que quiserem. Passado tudo isso, daqui a décadas, eu ficarei tranquilo sabendo que não reivindiquei democracia-burguesa e não somei com fração de burguesia alguma. Nos livros de história não estarei no mesmo grupo que a "democrata" Katia Abreu.