quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Brizola e Darcy

 Ao falar hoje em dia de Brizola e Darci Ribeiro as pessoas associam diretamente ao Brizola carregando um fuzil em nome da constitucionalidade e ao Darci Ribeiro do livro "o Povo Brasileiro". Apesar das qualidades dos dois, não devemos nos esquecer de suas mancadas, mancadas essas que talvez não os façam "revirar no túmulo" ao ver o PDT de hoje, como muitos gostam de afirmar.

Darci Ribeiro foi um dos senadores que ajudou a esvaziar e desfigurar a LDB construída a partir de mais de 30 organizações científicas, políticas e sindicais, congregadas no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública. O que Darci fez ali enquanto senador foi deturpar a proposta de LDB dos educadores para colocar uma em consonância com a proposta de desregulamentação, de descentralização e de privatização e compatível com o Estado Mínimo, que era o projeto FHC da época.
Já Leonel Brizola, que durante as eleições de 89 bravejou e denunciou Fernando Collor, acusando-o (do que depois viria a público) de ser "expressão do conluio do crime organizado com a contravenção" e de se dar "de braços abertos com a criminalidade, acobertada com o tráfico de drogas." Esse mesmo Brizola que fez essas acusações em campanha, quando estouraram as acusações contra Collor em 92, recua e afirma: "Este ambiente de histeria só serve para desdobramentos incontroláveis e inconvenientes para a isenção e para se fazer justiça".
Talvez o clima de histeria tenha colocado o PT como novo carro chefe da esquerda, alçando Lula como principal referência e futuro candidato e deixando ele, Brizola, que seria o natural representante, de escanteio. É possível que essa seja uma explicação para a mudança de postura do até então defensor aguerrido pela legalidade, as ambições pessoais.
Vale lembrar também que desde 1989 o PDT é integrante brasileiro da II Internacional, ou seja, da Internacional Socialista. O que por si só já diz muita coisa sobre suas práticas.
Sabendo disso, ter colocado Kátia Abreu, a latifundiária acusada de trabalho escravo, para ser candidata a vice presidente na última eleição não seja tão incoerente assim.
Talvez Brizola e Darci estejam extremamente tranquilos em seus túmulos.

domingo, 27 de setembro de 2020

ONU e a reabertura das escolas

 Segundo a ONU, o fechamento das escolas impede que crianças tenham acesso a alimentação de qualidade, bem como dificulta a vida dos pais que saem para trabalhar e também expõe as crianças à violência doméstica.

Para a ONU, mostrado ontem no Jornal Nacional, a educação é o maior motor da redução de desigualdades e o fechamento das escolas põe em risco décadas de progresso, agravando as desigualdades. Para eles o problema não é a miséria que agrava as desigualdades, não é a retirada de direitos e também não é o capitalismo que faz com que bilionários fiquem mais ricos durante a pandemia enquanto os mais pobres agonizam à espera de um auxílio emergencial. Para a Organização das Nações Unidas são as escolas fechadas que fazem isso.

Não importa aprender conteúdos científicos, se apropriar do saber historicamente sistematizado, nada disso. A escola serve para comer, para fugir da violência e para a família poder trabalhar. Esse é o lugar do "motor da redução de desigualdades". Uma mistura de bom-prato com depósito de crianças.

O sonho deles é ver professores que se sujeitem andar 20km, nadar 10km, correr de onça e de tiro, para poder entregar as tarefas de casa impressas na sua casa, gastando tinta de sua própria impressora, para fingir que o aluno está aprendendo alguma coisa. E o professor no fim do dia, com depressão, sem tinta, movido à rivotril e com um salário de merda, ficar feliz em ver seu rostinho no Jornal Nacional.

Afinal, ao ver o aluno fingindo que aprende enquanto nós fingimos que ensinamos, tudo vale a pena, não é?


5 de agosto

Pedagogia Vampeta

 Vampeta quando jogava no Flamengo ficou sem receber e então fingia que estava machucado pra não jogar. "O Flamengo finge que paga e eu finjo que jogo" ele disse na época.

Os professores de Rio Claro estão caminhando pra aceitar o ensino remoto nas escolas, as atividades migué logo logo começarão. Os professores vão fingir que ensinam, os alunos vão fingir que aprendem, e todos ficarão com a falsa sensação de dever cumprido.

Nem pedagogia escolanovista, nem pedagogia tradicional e nem pedagogia histórico-crítica. A moda agora é a pedagogia Vampeta!

11 de setembro - futebolchevique

 Hoje é 11 de setembro, dia do maior atentado já realizado nessa bola chamada planeta Terra.

Foi no 11 de setembro de 1973 que o Palácio la Moneda, casa presidencial chilena, foi bombardeado por golpistas fantoches dos EUA. Esse foi mais um movimento da partida de xadrez chamada Guerra Fria que atingia a América latina.

No golpe de 73, o exército chileno usou o estádio nacional para torturar militantes e aliados da Unidade Popular, frente de apoio a Salvador Allende.

O golpe no Chile, ao derrubar um presidente socialista eleito democraticamente e com propostas claras de cunho socialista, nos ensinou que socialismo não se conquista nas urnas, mas na força. Os patrões e seus Estados não permitirão a ascensão do socialismo dentro de seu terreno.

Infelizmente Allende descobriu isso tarde demais. Erro aprendido, fica o legado de sua coragem.

Neymar e racismo

 Anos atrás, quando Serra foi machista com a Kátia Abreu e ela revidou jogando vinho na cara dele, deve ter sido um momento maravilhoso de se assistir. Digo isso porque eu gosto da miss-motoserra? De maneira alguma. Eu quero que essa latifundiária se foda. Mas que se foda por ser burguesa e exploradora, não por ser mulher.

Na mesma lógica, não é possível passar pano pro racismo que Neymar sofreu só porque ele é um otário. Ele ser um otário e ele sofrer racismo são coisas distintas. Eu quero que ele se foda por apoiar a direita, mas ainda sim sou contra qualquer ato racista contra ele.

Katia Abreu e Neymar tem contas a pagar, nenhuma delas é por ser mulher e nem por ser preto.

De onde surge o bolsonarismo?

 O bolsonarismo não surgiu de repente, ele não veio de geração espontânea e muitos menos da mera cabeça mirabolante de uma família fascista.

O bolsonarismo se explica com dois fatores:
1- a necessidade da burguesia em recuperar suas taxas de lucro através da retirada de direitos da classe trabalhadora. Lembrem-se que a Dilma tentou fazer reforminhas da previdência e trabalhista mas não eram como os patrões queriam. Temer conseguiu passar a reforma trabalhista mas não a da previdência. Bolsonaro foi apoiado pelas elites para enfiar na goela da classe trabalhadora todas as reformas que os patrões julgassem necessárias. Até o momento vem obtendo sucesso.

2- o segundo fator que explica o bolsonarismo é o processo pedagógico que a classe trabalhadora passou nas últimas décadas. As organizações dos trabalhadores ensinaram nossa classe que bastava votar que os eleitos fariam por nós. Não é a atoa que a principal central sindical do Brasil, a CUT, abafava greves no período Lula e esse foi o momento de menor número de greve de nossas história. "Deixa o homem trabalhar", lembram disso?

A necessidade dos patrões somada com o processo deseducativo que a classe sofreu nas últimas décadas foram a mistura perfeita que explicam onde estamos hoje. A gente tá mais ou menos como naquele funk, com o "direito de sentar, de rebolar, de quicar e ficar caladinho."

Mas segundo uma esquerda em que se misturam os enganados com enganadores, a saída está nas eleições.

Sem pânico, as coisas ainda vão piorar.

sábado, 20 de junho de 2020

A esquerda fora do baralho


Há mais de cem anos, desde o início do século passado, o Brasil passou por inúmeras crises e períodos de efervescência. Em todos esses momentos os trabalhadores e suas organizações de esquerda se colocaram como forças determinantes.
Greve geral de 1917 e ocupação de São Paulo, tenentismo e a Coluna Prestes, luta contra o integralismo, ascensão do sindicalismo e dos movimentos populares, criação das ligas camponesas, guerrilha e luta armada, ressurgimento do sindicalismo e do movimento de luta pela terra, criação da CUT e do PT.
Em todos os momentos em que o negócio esquentou no cenário brasileiro a esquerda tinha algum representante entre as forças atuantes, sejam eles mais reformistas ou revolucionários, em todos. Todos até agora.
Vivemos agora uma situação inédita nos últimos 130 anos. Pela primeira vez a esquerda, seja ela pelega ou combativa, não é força relevante no conflito. A esquerda está a reboque, sendo conduzida pelos defensores da operação lava-jato, Globo, Rodrigo Maia e toda a fração da burguesia que estes representam.
As organizações de esquerda após entrarem de cabeça nas instituições burguesas, acabaram se escondendo atrás das forças protagonistas, a extrema direita fascista e a direita lavajatista, que se estapeiam abertamente.
Se isso é uma crise de identidade das organizações de esquerda eu não sei, mas se não é deveria ser.