segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A ditadura da democracia.

 
      Vivemos tempos difíceis. Vivemos um tempo onde pedimos uma coisa sem fazer idéia do que isso significa. Quando estamos com sede, pedimos água. Quando estamos com fome, pedimos comida. Mas porque diabos pedimos democracia? O que queremos com isso? Falamos de democracia como um aluno que não entende matemática fala sobre o X. Ele está em todo lugar, em qualquer equação. Pode jogar o X para esquerda, para direita, utilizando-o sem ter idéia do que ele significa. Mas mesmo sem nunca decifrá-lo, ele o acompanhará até o fim da vida escolar e você falará dele. Assim é a democracia, o X da questão. Democracia é uma palavra fácil e que cabe na boca de qualquer um.

      Mas afinal, o que é democracia? Democracia é apertar “verde-confirma” e ficar feliz por participar do processo político do país? É a isso que deve se resumir nossa vida política? A poder fazer uma fala na tribuna livre na câmara dos vereadores enquanto eles reforçam seus acordos? É ter a possibilidade de disputar eleições e mudar tudo por dentro (o entrismo)? É ter acesso às políticas compensatórias/assistencialistas enquanto tais políticas beneficiam os mega-empresários da educação e da construção civil? É ter acesso à um conjunto de instrumentos que organizam a participação civil que, quando muito, conquistam migalhas? É poder fazer manifestações pró e contra o governo, afinal democracia é a liberdade de expressão? É ter a possibilidade de ir e vir quando bem entender, sem se dar conta que você não tem dinheiro para ir e vir quando bem entender? É a democracia sindical onde os trabalhadores são praticamente obrigados a votarem nos interesses do patrão, pois estão sendo coagidos e ameaçados de demissão? Democracia é a possibilidade de assistir o canal de televisão e ler o jornal que bem entender, sem se dar conta que tudo isso está nas mãos de meia dúzia de grupos ou famílias que moldam nossa consciência à todo momento? Não é curioso termos na democracia espaços para pessoas taxadas de antidemocráticas propagandearem suas idéias, chegando ao cúmulo de serem defendidas em nome da democracia?

      Vivemos em uma sociedade de classes, onde uma classe (os burgueses) explora outra (os trabalhadores). Essa é a característica fundamental do sistema capitalista, a exploração. Independente da forma de governo, a dominação burguesa permanecerá, seja na forma de ditadura, seja na democracia. É aos interesses da camada dominante da população que toda máquina pública (o Estado) servirá. Enquanto a população pede por mais investimentos em educação e saúde, mais de 40% do orçamento federal é utilizado pra pagar dívidas internas e externas. Sendo assim, nosso modelo de governo pós ditadura militar-burguesa (pois foi financiada pela burguesia), é o de uma democracia-burguesa. Segundo Lênin, a democracia é forma mais desenvolvida do capitalismo. Se na ditadura os interesses da burguesia são conquistados através da repressão, na democracia a repressão ocorre em última instância. Em primeira (e mais legitimadora e convincente) instância está a coerção. E é essa democracia-burguesa que enorme parcela da população defende, pequenas liberdades em detrimento do bom andamento dos lucros dos patrões. Sejam essas pessoas as das manifestações do dia 16 (contra a Dilma) ou do dia 20 (pró Dilma).

      Dezenas de golpes pelo mundo todo já foram promovidos em nome da democracia. A exploração da classe trabalhadora continua sendo resguardada por ela. "Ahhh, mas qualquer um pode ser candidato e mudar o país, não é? Até um torneiro mecânico conseguiu, olha como a democracia é bacana!!". Os limites da democracia nada mais são do que os limites do capital. Um operário como presidente não constrói o socialismo, bem como uma mulher na presidência não constrói o feminismo e nem um presidente negro nos EUA desconstrói o racismo.

      Quando eu era mais novo e minha irmã pentelhava para jogar vídeo-game comigo, havia uma técnica extremamente desenvolvida para resolver o conflito. Dava o controle na mão da infeliz, mas sem ela ver, o desconectava do vídeo-game. Assim, ela pararia de pentelhar, ficaria contente por achar que participava do jogo, e não interferiria em absolutamente nada. Essa é a democracia-burguesa. Pode até ceder um controle, mas nunca vai deixar que interfira realmente no andamento do jogo.

      Lá no cerne, no meio da nuvem da democracia, existe um pilar bem sólido, até então intocável. A ditadura do capital.

Um comentário:

  1. teu texto esta razoável,mas exige reparos importantes,para além de estar permeado por uma visão simplista de enxergar no estado uma casamata da burguesia, contém problemas com relação à complexidade histo´rica do estado na atualidade,principalmente onosso sobre todos os aspectos,algo como uma visão gramnsciana. Por outro lado à uma certa impote^ncia em tua critica,uma espécie de anarquismo individual; mas vamos em frente ;quando te encontrar conversamos. Um abraço do teu tio petralha

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