sexta-feira, 15 de junho de 2018

Falsidade ideológica



Todos que já jogaram bola na rua são criminosos. Sim, criminosos mesmo, daqueles que infringem leis e que deveriam estar na prisão. Falo isso com tranquilidade. Eu, você, toda aquela molecada que já arrebentou o pé jogando bola no asfalto já infringimos as leis.
Pra começar. Quando a bola ultrapassou a linha imaginária entre os chinelos milimétricamente colocados, no momento do gol, que garoto nunca gritou um sonoro “RRRRRRRRRRRONALDIIINHO”? Ou mais recentemente um “Neeeeeeymar”. Meu crime era evocar Rodrigo Fabri. Temos aqui um caso claro de falsidade ideológica. Tão falsários quanto os goleiros que após as milagrosas defesas gritavam “SÃO MAAAAAARCOS”!
Há ainda casos mais graves, casos de corrupção. Sujeitos de caráter duvidoso sorrateiramente aumentam o gol do time adversário ou diminuem o tamanho de seu próprio gol. Corrupção ativa! E não mais leve são os casos de corrupção passiva, onde os bandidos tomam gols de propósito para sair do gol, sabendo que quando forem vazados outra pessoa toma seu lugar.
Geralmente há duas espécies de bandidos, os com camisa e os sem camisa, não havendo limite para o número de membros.
Um clássico dos crimes é o de abuso de autoridade. Geralmente os criminosos que se enquadram nessa infração utilizam-se de seu poder, da propriedade privada da bola, e argumentam um velho chavão para obterem vantagens, “a bola é minha”, afirmam eles. Assim, através de seus privilégios, buscam influenciar o andamento e as regras dos jogos. Esses aqui frequentemente são vítimas de bullying, o que acaba de certa maneira compensando o crime.
Outro crime muito presente nesse ambiente deplorável é o vandalismo. Os marginais, munidos de bola, depredam o patrimônio alheio, destruindo vidraças, janelas e jardins. É claro que a reação das vítimas, furando as bolas utilizadas nos crimes, é totalmente compreensível. Sem contar no uso de drogas, a perigosíssima sacarose que anda destruindo a família brasileira. Ela está presente nos refrigerantes (geralmente Simba, Dolly ou Taí) e é consumida em plena luz do dia.
Esses meliantes possuem leis próprias. Quando se aproxima algum pedestre o jogo para, da mesma maneira que param quando se aproxima um carro. Nenhuma de suas leis são registradas em cartório nem em constituições. Sua principal lei é denominada “pediu, parou” e ocorre quando algum deles se sente lesado por outro. Muitas vezes essa lei é questionada pelos demais, mas acaba sendo acatada, zelando pelo bom andamento da atividade.

Por volta das 6 da tarde eles somem das ruas adentrando em seus esconderijos, cumprindo as ordens emitidas pelas líderes da gangue. A hora do banho é sagrada. No dia seguinte tudo se repete impunemente.


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