Neste planeta os
dicionários não possuem a palavra estética. Seja no Aurélio, Michaelis ou até
no Wikipédia, não existe nenhuma referência à esta palavra. Ninguém sabe o
que é isso. E por não saber o que é isso as pessoas respeitam a liberdade
das outras pessoas de decidirem sobre seus próprios corpos. Como não existe um
padrão de beleza, todos são bonitos aos olhos. Mulheres gordas são bonitas. Homens
magrelos são bonitos. Mulheres com pouco peito são bonitas. Homens peludos
são bonitos. Anões são bonitos. Mulheres com buço são bonitas. Cabelo pixaim é bonito. Idosos são bonitos. Bolivianos são bonitos. Pessoas sem as orelhas
e com um olho são bonitas. Todos são bonitos porque as pessoas não se apegam
as aparências. O que é feio indiscutivelmente são as pessoas que julgam as
outras por seus aspectos físicos. As pessoas se julgam belas ou feias depois
de conhecer uns aos outros. Depois de trocar idéias e experiências. Depois de
expor opiniões. Contarem piadas. Revelarem histórias. Ai sim, depois de se comunicarem, as pessoas
chegam a alguma conclusão sobre a beleza ou ausência dela no próximo. Nunca
imaginaram que em algum lugar do mundo as pessoas podiam olhar para outras e se
apaixonarem apenas pelo olhar. Repugnam as pessoas que olham uma
revista e dizem que tal pessoa é bonita ou feia apenas pela sua carcaça. Isso não faz sentido para eles,
pois não se pode conhecer assim a excência do outro. Não entendiam como poderia um sujeito achar
o outro bonito apenas por vê-lo rebolando na televisão. Parecia extremamente superficial para eles e por isso não supervalorizam
as aparências. Para essas pessoas isso não faz sentido algum.
De tanta curiosidade,
o Planeta Desprovido de Estética (nome oficial) recrutou alguns habitantes.
Esses recrutas foram enviados ao Planeta Provido de Estética (nome oficial) para realizarem estudos. Fizeram algumas constatações iniciais e
ficaram extremamente desiludidos e impressionados com a capacidade de
inteligência e persuasão humana, digo, dos habitantes do Planeta Provido de
Estética.
Os recrutas
descobriram que existindo um padrão de beleza, as pessoas faziam de tudo para
atingir esse padrão. Viram que tinha pessoas que se depilavam, pintavam o
cabelo, faziam academia, tomavam injeções, faziam drenagem linfática, deixavam
de comer, colocavam silicone, entre outras inúmeras bizarrices, apenas para se
aproximar ao padrão de beleza que era imposto. Viram que esse padrão de beleza
era colocado na mente das pessoas, como uma lavagem cerebral, por meio de
revistas, programas de televisão, por conversas com os amigos, por brinquedos
de crianças, por autidores, e que as pessoas aderiam à esses valores facilmente. Mesmo quem não concordasse.
Mas enquanto as
pessoas interferissem somente em suas vidas, não haveria problema. O problema é que
esse padrão de beleza, fazia os habitantes do Planeta Provido de Estética,
interferirem negativamente na vida dos seus semelhantes que não se enquadravam
nos seus padrões. E foi isso o que mais chamou a atenção dos habitantes do
Planeta dos Desprovidos de Estética, foi ver que as pessoas que fugiam deste
padrão eram oprimidas. Os gordos eram constantemente alvos de piadas, assim
como os negros. Ao observar alguém acima do peso andando na rua, coincidentemente ou não,
pessoas ao redor davam risadas. O estudo mostrou que nos meios de comunicação haviam propagandas que salientavam isso, criavam dentro das pessoas a imagem do que era ser uma pessoa bonita. Por exemplo a propaganda de uma marca de lâminas de barbear que colocava pessoas peludas como menos desenvolvidas, induzindo assim, as pessoas a
comprarem o tal produto. Quem não comprar é um “homens das cavernas”, os
peludos. Quem comprar é uma pessoas desenvolvida, os depilados. Notaram que os
depilados passam a fazer chacota dos que não depilam. Bem como fazem aos gordos.
Aos magrelos. Eles não fizeram anotação alguma de piadas sobre pessoas com
pernas torneadas, cinturas finas, peitos grandes (mulheres) ou definidos
(homens). Mas faziam piadas com quem não se encaixasse nessa dualidade de homens
e mulheres, chamando-os de viados, baitolas, sapatão. Para não ser vítima de
chacota tinha que estar próximo do padrão de beleza e é necessário que se faça
o consumo do jeito que os meios de comunicação induzem os habitantes a
consumirem, caso o contrário você corre o risco de ser isolado de todos e viver
sozinho pelos cantos. Sendo seus amigos a "polícia da indústria da beleza", se você os está perdendo é porque não está se enquadrando devidamente.
Estas foram apenas as anotações iniciais da pesquisa. Ela não foi
concluída. A última vez que foram vistos os recrutas, estavam assistindo ao programa
Pânico na TV. Desde então nunca mais foram vistos.
http://www.hypeness.com.br/2013/02/voce-tambem-olharia-serie-fotografica-registra-o-preconceito-no-olhar-das-pessoas/
Boa!
ResponderExcluirUm bocado interessante. E bem escrito.
ResponderExcluirGostei muito. Essa da propaganda do barbeador foi ótima! Fico indignada como propagandas assim podem circular! E essa sessão fotográfica tá ótima, mostra como o ser humano é cruel e julgador, e só julga aquele que se sente superior àquele julgado. Ainda temos muito o que melhorar!
ResponderExcluirMuito Bom!!!
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