sábado, 4 de junho de 2022

Vô Ciro e seus livros

 Meu avô materno faleceu em 2007. Foi a primeira pessoa próxima que perdi, com 16 anos. Eu não convivia muito com meu avô, ele morava em Santa Bárba d'Oeste e eu em São Paulo. Acho que o via uma vez a cada trimestre, mais ou menos por ai. Na casa dele não se conversava sobre política -censura imposta pelos adultos depois de uma briga na família muitos anos atrás entre esquerdistas e direitistas, as conversas giravam sempre em torno de futebol. Nos últimos dois anos de vida a coisa que aquele são paulino piracicabano mais falou foi sobre o gol de Mineiro contra o Liverpool, e meu irmão retrucava zombando sobre a qualidade de Edcarlos.

Meu avô tinha muito livros, muitos livros sobre futebol e sobre as duas grandes guerras. Semanas depois dele morrer minha família foi até a casa dele pegar as coisas do velho que os interessavam. Eu não fui. Tinha coisa mais importante para fazer do que pegar coisas dos outros, tinha jogo marcado do time que eu jogava na época, o Macabi. Meu irmão pegou muitos livros sobre futebol, eu não liguei, já que eu não tinha nenhum prazer em ler.
O tempo passou, a terra girou, comecei a ler e meu irmão deixou muitos livros do meu avô na casa dos meus pais. Nos últimos anos, a cada visita aos meus pais eu vou embora com um ou dois desses livros muquiados em minha mochila, livros de futebol. Geralmente são livros que uso como referências bibliográfica para postagens aqui na Futebolchevique.
De alguma forma sinto que converso com o velho Ciro sempre que leio seus livros. Acho que é o mais perto que um ateu pode chegar de um ente querido perdido.
Para os que curtem a página, agradeçam ao meu avô.

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