sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Armar ou desarmar?

Esse debate se coloca em diversos momentos de maneira dualista, tal como PT x PSDB, tal como Corinthians e Palmeiras. Ser contra a liberação das armas ou a favor da liberação? De um lado o debate liberal que visa apenas o direito do indivíduo em poder meter pipoco nos bandidos que querem roubar seu Uno velho, e por outro os pacifistas que delegam ao Estado burguês a segurança pública, como se a Polícia pudesse nos oferecer algum tipo de segurança. Nós, comunistas, não podemos cair nesse dualismo e precisamos ir além. Precisamos colocar esse debate dentro da ótica da luta de classes.
Antes de levantar qualquer argumento mais elaborado é necessário ter em mente que há um gigantesco lobby da indústria bélica acerca do tema. As ações da Taurus valorizaram 140% nesse ano eleitoral, acompanhando o crescimento de Bolsonaro. Intensificando o comércio de armas, como Bolsonaro pretende fazer, a indústria aumentará seus lucros as custas de muito suor dos trabalhadores. Isso é um ponto.
Um ponto fundamental é: se o debate da liberação das armas vem de encontro ao problema da violência será a presença ou ausência de armas que mudará esse cenário? A violência é oriunda da pauperização de nossa classe, do fetiche da mercadoria, da ausência de direitos básicos como lazer, saúde e educação. Todas essas ausências são problemas intrínsecos à sociedade capitalista e não acabarão enquanto a sociedade for baseada na exploração dos seres humanos por outros seres humanos. Não resolveremos a violência entre as pessoas de nossa própria classe enquanto houver patrões e pessoas que precisam se vender pra ter o que comer.
Um segundo ponto é a tendência desse debate cair no pacifismo. Pensar que violência não leva a nada pode ser muito interessante, para a classe dominante. Sabemos que as revoluções nunca aconteceram - e nem acontecerão - com cirandas ou abraçaços. É necessário pontuar que para a revolução dos trabalhadores acontecer nós teremos de mantê-la nem que seja a força. Nossos inimigos não aceitarão a perda do poder, não aceitarão a nossa revolta, e quando a polícia e seus trogloditas vierem nos reprimir nós teremos que garantir a nossa revolução. Não é não querer ser pacífico, é não poder. É saber que ser pacífico é ser submisso ao massacre que os patrões e seus governos farão contra nós por não aceitarem nosso avanço. Nosso avanço será a perda dos banquetes, a perda das viagens à praias paradisíacas, o fim de nosso trabalho análogo a escravidão, o fim das nossas mais de 40 horas de trabalho semanais, o fim do nosso suor e sangue financiando seus iates e mansões.
Por outro lado, começarmos a nos armar no momento atual, nos preparando para a insurreição é um delírio estilo Dom Quixote. Afirmar que precisaremos nos armar e que temos que ter isso em mente não significa que estamos em um processo revolucionário. Não devemos cair em um discurso de que já temos que nos armar pra ontem, não é isso. Antes é necessário no mínimo a termos fôlego para correr da polícia ou subir e descer meia dúzia de degraus sem ficar ofegante, corremos o risco até de uns malucos quererem pegar em armas pra defender o pelego do Lula. As armas serão necessárias, mas muita calma para não sexualizá-las.
Caindo na tentação das armas, conseguiríamos diferenciar nossa agitação dos liberais? Talvez estivéssemos dando mais forças para os membros de nossa classe que acham que bandido bom é bandido morto, que os nóias devem ser metralhados, entre outras aberrações. Fazer coro com esses é desconsiderar todo processo de empobrecimento já citado acima que os trabalhadores sofrem. Como carregar em nosso movimento o germe da luta armada sem nos juntarmos à estes?
Um outro aspecto é notarmos o discurso socialdemocrata que reivindica a democracia. Aquele valor universal que todos deveríamos ter, aquela que se tornou o horizonte de muito “socialistas”. Se a democracia é o eixo central de nossas lutas, não devemos nos esquecer que em 2005 houve um referendo sobre a questão do armamento e DEMOCRATICAMENTE a população brasileira votou pelo direito de se armar. Não seria Bolsonaro então um verdadeiro democrata?
Pra concluir essa rápida e inicial provocação... Precisamos ter em vista que "paz é coisa de rico". Nós não queremos o piegas "mais amor por favor". Junto com o amor tem que ter o ódio. Amor de classe e ódio de classe. Amor aos nossos camaradas, amor à uma sociedade igualitária e ódio aos exploradores. Ainda que o momento não seja revolucionário, não devemos cair na onda pacifista e nem na do armamento liberal. O Estado burguês nunca fez e nunca fará a nossa segurança. Nossa luta é contra os patrões e seus governos, não devemos nos contentar entre escolher um dentre esses dois lados que se parecem opostos, mas o são apenas na superfície.

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