quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Peão

Eu queria ser um peão
não de rodeio, mas de madeira e barbante
daqueles que são apanhados pela molecada
e descansam na estante

Daqueles que rodam no asfalto e nas calçadas
passam pelo entre-dedos
e pela mão de crianças
ainda não calejadas

quando mal sucedido o rodopio,
bastaria me enrolar
e me lançar novamente
fecharia os meus olhos
e descobriria como um peão se sente

Mas peão de brinquedo a vida não me quis
ainda que eu rode bastante
seja enrolado pelos outros
e sinta o calor do asfalto
o mundão doente não me deu a liberdade
talvez isso seja pensar muito alto

Mas peão eu já sou
só que a labuta não me deixa ser peão de brinquedo
só peão de suor
peão de fábrica
de ir trabalhar cedo

Quem me dera ser
uma simples madeirinha rodante
sem encarregado e sem patrão
sem trabalhar de segunda a sábado
à base de pingado
e nem ter meta de produção
como eu queria rodar e roda e rodar
e ser outro tipo de peão.

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